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quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Somos Todos Parte


Foto, MRodas


Somos Todos Parte



Um em cada cinco carrega por dentro

Uma história, um desafio, um existir.

Olhando ao redor, surgem com  clareza,

Vidas plenas, radiantes, cheias de beleza.


Cem por cento, sem exceção,

Teremos um dia uma limitação.

A idade, o acaso, a fragilidade,

Unidos na mesma humanidade.


Por que excluir, se a vida é ponte?

Por que ignorar, se há horizonte?

O diferente pertence, não é à parte,

É uma alma inteira, amor e arte.


Pois o mundo é diverso, e assim deve ser,

Um mosaico de formas, de ser e viver.

E ao aceitar cada voz e visão,

Somos fermento, bandeira, vinho e pão.


Cada história é única, cada ser é canção,

Não há perfeição, só diversidade na criação.

A vida não é ausência, o que parece faltar

Mas a presença, o abraço e o caminhar. 


A inclusão é mais que um gesto ou dever,

É a oportunidade de aprender e de crescer.

Erguer os olhos, estender a mão,

Abraçar  o outro, construir a união.


Incluir não é favor, é humanidade,

É construir juntos uma sociedade.

Com rampas, legendas, com toque e visão,

Com olhos abertos, sorriso e emoção.


Somos todos frágeis, somos todos fortes,

Cada um com seu rumo, suas próprias sortes.

E quando nos unimos em prol do diverso,

Somos, certamente, o eco mais belo do universo.


domingo, 15 de dezembro de 2024

Nas Ruínas da Esperança

 



Nas Ruínas da Esperança


Do pó dos caminhos antigos

restam sombras ressequidas,

ferro retorcido, silêncio espesso;

a distopia é um eco de aço e gritos,

uma cicatriz raivosa no horizonte queimado,

onde os sonhos eram lanças,

e as noites, prisões ululantes.


Mas a vida—ah, essa ladra cruel—

dança sobre os escombros com pés descalços,

zombando das lágrimas que secaram,

esculpindo flores na fuligem.

Ela é tragédia que insiste em florescer,

paradoxo que sangra e sorri.


O futuro é uma farsa sussurrada,

uma utopia feita de vapor e promessas frágeis,

flutuando como balões perfurados,

tão perto, tão distante.

O amanhã brinca com os sonhos,

rindo da coragem de quem ainda planta

sementes no deserto.


E nós, marionetes do acaso,

carregamos no peito a ironia de existir:

somos o pranto das eras e o riso do caos,

tecendo com mãos sujas o fio da esperança

que nos agiganta e liberta,

num só nó.



terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Zeca, meu amigo

 


Por favor, 

Não andes por aí a anunciar os meus feitos inventados por ti, 

Eu não sou cientista, nem artista, 

Eu não sou o que dizes ou imaginas para mim.

Eu não quero a tua visibilidade,

Não me quero candidatar a nada,

Pretendo viver a minha vida em diálogo com o futuro que é hoje.

Saborear o salino ar da manhã, acompanhado por duas tostas e uma chávena de café.

De mim pouco há a contar e pouco importa. 

Nasci pastor, fiz-me agricultor, fui professor, estudante ainda sou.

Tenho uma imensa curiosidade pelo segredo das coisas visíveis e invisíveis

Tacteio o poema, e fotografo os momentos de maior lucidez nos caminhos da vida.

O resto pouco importa.

O que importa não sou eu, é o mundo, a vida, a natureza e a humanidade. Isso sim! O amor e a paz. E o futuro!

E aí, meu amigo, a preocupação é cada vez maior. Aí os elogios são parcos e as preocupações e críticas imensas.




sábado, 30 de novembro de 2024

Mensageira da esperança

 


Saiu à rua a mensageira da esperança

Acenar às gentes desesperadas a verdade

A fórmula inacabada do caminho

Que já escorria nos semblantes do mundo

Há muito se tinha perdido a esperança

A matança nem dormir queria

Era ver os rios de sangue

E as cabeças das crianças 

Separadas de seus corpos

Que ainda rezavam.

Era ver as rosas tingidas de vermelho

E as flores a desistirem

Vergadas de orvalho escuro

Era ver o mundo andar para trás

Desistir de rodar em direção ao sol

Rodava ao invés para a noite


Já não havia declarações de amor

Nem força para os beijos

Nem suspiro para os abraços

Toda a gente desistira de correr

Sentara-se apenas a olhar

Sem saber o que admirar

Braços caídos olhar perdido

Sem lábios no rosto

E olhos sem lágrimas.

Mas o anjo da esperança

Saiu à rua, de fita amarela ao pescoço 

E uma bandeira vermelha na mão

Em cada esquina deixava pétalas encarnadas

Que na sua ausência floresciam inebriadas de alegria

Com um toque de mão em cada ombro

Era um contágio em cada alma

Que se acendia noutra vizinha.

Assim correu mundo o anjo da esperança

Com uma fita amarela ao pescoço e

Uma bandeira vermelha na mão.


Reuniram os poderosos

Tal não podia acontecer

Não era exemplo que lhes servisse

Contra ela enviaram canhões e aviões

Metralha incandescente de raiva

A tudo resistia o anjo da esperança

Com um toque nos campos

Renascia o milho e os girassóis

Corria água nas fontes secas

Cantavam os pássaros na mudez antiga

Enchia-se o olhar do povo

Dum azul nunca visto

Davam as mãos na rua

E a madrugada veio apanhar os amores aos beijos

Com promessas de futuro.

A falarem dos risos das crianças

Que haviam de ser

 E voltar a ir à escola

Os mares voltariam a ser navegados

Os campos cultivados

E a serenidade aos corações 


E o mundo deixou de ser a noite fria e cruel

Dando lugar ao dia radioso de verde e azul 


Onde está o anjo da esperança?

Perguntavam todos crédulos e inocentes.

O anjo da esperança és tu

Repetia a voz em cada um

O anjo da esperança és tu!

O anjo da esperança somos nós!

MRodas



quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Habitantes das árvores II

 



Vivo nos meus sonhos para entender a realidade, mas tu precisas da realidade para entender os sonhos! 


Queres que te perdoem por deixares de sonhar?





 Nuca foste real, mas sim um sonho a preencher o vazio do quotidiano!


Tu sim, a síntese perfeita entre sonho e realidade. Apenas dependes da minha percepção! Verdade ou falso?


segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Dragão

Foto, MRodas

 Vem a névoa dum lago 

Onde desafogo o pensamento

Para que  saibas 

O valor da revelação

O poder dum dragão

Nascido em cada um

Escondido de todos

Mas presente na dor comum


sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Porque raio votas tu no Trump?

 


Sei que és meu semelhante

Sofres e sonhas como eu. 

Queres uma vida melhor para ti e teus filhos

Gostas da família e dos amigos.

És honrado e queres o melhor para o teu país

E gostavas da paz no mundo 

E que todos os povos sejam felizes e vivam bem!


Acordas de manhã a sorrir

Ou a chorar pelas tuas dores e dos outros

Trabalhas o dia todo, dás o teu melhor

Regressas cansado a casa

Participas nas tarefas domésticas

Ouves as queixas dos filhos 

Dás conselhos e apelas à moderação, à amizade

Falas do sentido crítico, da liberdade

E do respeito para com os outros

Sim, eu sei que falas disso.


Sei que quando te deitas 

Agradeces ao teu Deus pela

Vida que tens.

O carro está na garagem, os impostos estão pagos

O dinheiro amealhado garante-te uma velhice tranquila.

Sei que se pudesses há muito terias acabado com a pobreza

Darias condições aos que dormem na rua

Combaterias o mercado das drogas

A injustiça e a desigualdade. Eu sei disso

Mas porque raio votas tu no Trump?

Que mal te fazem os que querem viver a vida duma forma diferente da tua?

Ou que pensam de forma diferente

Ou que acreditam num Deus diferente

Explica-me bem, como se eu tivesse chegado hoje a Terra

Vindo dum planeta distante.

Explica, meu irmão

Para que eu compreenda a razão

De acreditares em mentiras, 

que sabes serem mentiras, não sabes?

Votar em Trump

E regressar a casa, com as mãos nos bolsos

Sorriso de menino travesso

Confiante que fez o que devia

Olhar a família e os amigos nos olhos 

Dormir descansado porque 

Votaste  no Trump.

Explica-me como fazes isso

Porque tenho 71 anos e não compreendo! 

Porquê?



segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Habitantes das árvores

 

Dominar a bola é auto-controlar a penumbra dos movimentos involuntários.


Parar para ver o que ainda não é, mas existe, à espera da revelação.


Correr e brincar a apanhada nas sombras da tua indiferença, onde nós existimos!

Sorrio, ao ver-te passar solitário, sem imaginares a minha existência, que te observa!

A lua é uma invenção da noite, onde todas as sombras desenham significados.

Um , dois e …três! Salta outra vez!


sábado, 14 de setembro de 2024

Escutem-me!







Escutem-me, porra!
Há anos que protesto!
Grito contra a guerra,
Contra a dor e o sofrimento inúteis
Escrevo contra a exploração do homem e da mulher
E de todos que estão no meio deles!

Escutem-me, porra!
Afinal, porque não me escutam?
Se denuncio a injustiça, as ditaduras,
A falta de liberdades, a ignomínia
A ofensa, a humilhação, a segregação, a repressão, o isolamento,
A discriminação, o racismo, o sexismo e o patriarcado
Porque não me escutem?

Escutem todos os que protestam
Aqui ou na rua de baixo,
Aqui ou no país ao lado, na Ucrânia e na Rússia,
Em Israel e na Palestina, na Etiópia, na Eritreia
No Uganda, onde quer que haja guerra e ódio
Onde cada irmão mata, viola e incendeia o horror!

Escutem o fragor dos mísseis
O ribombar dos óbuses 
O choro das crianças órfãs
Das viúvas combatentes despedaçadas
Todas as lagrimas vertidas em cascata
De horror, dor…sem esperança!

Escutem-nos! Não nos tratem como mentirosos
Nós que sempre dissemos a verdade
Não é, Brecht?

MR






quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Joaquim

 




**Biografia do Velho Pescador**


O velho pescador, conhecido na pequena vila costeira como Joaquim, nasceu em uma época em que o mar era tanto o maior amigo quanto o mais temível inimigo dos moradores. Filho de pescadores, Joaquim aprendeu desde cedo os segredos das águas. Aos sete anos, já acompanhava seu pai nas longas jornadas de pesca, enfrentando as ondas e os ventos com uma coragem precoce.

A vida no mar o moldou tanto quanto as marés esculpem as rochas na costa. Com o passar dos anos, o sal marinho se tornou parte de sua pele, e o cheiro do peixe fresco, de suas mãos. Joaquim era conhecido por sua destreza com as redes e por sua intuição aguçada — ele sabia, como poucos, onde encontrar os cardumes mais fartos, mesmo em tempos de escassez. Muitos diziam que ele tinha uma ligação mística com o oceano, como se as profundezas lhe sussurrassem segredos que mais ninguém podia ouvir.

Apesar de sua fama, Joaquim sempre foi um homem simples. Nunca desejou riquezas; para ele, o mar era o suficiente. Sua casa era uma cabana modesta perto da praia, onde vivia com Maria, sua esposa, que ele conheceu em um dia de tempestade, quando ela o ajudou a reparar sua embarcação avariada. Maria era o seu porto seguro, e juntos, criaram três filhos, que também se tornaram pescadores.

Os anos passaram, e o corpo de Joaquim começou a sentir o peso de uma vida dedicada ao mar. Seus ombros curvados contavam histórias de batalhas com grandes peixes e tempestades furiosas. Mesmo assim, ele nunca deixou de ir ao mar, mesmo que fosse apenas para sentar-se na beira da praia e observar as ondas. Ele dizia que o oceano era sua alma gêmea, e que um dia, quando seu corpo já não tivesse forças, ele se tornaria parte do mar, assim como as conchas que o mar engole e transforma em areia.

Numa manhã de neblina, Joaquim partiu para sua última jornada. Ele foi encontrado no dia seguinte, deitado na areia, como se estivesse em paz, olhando para o horizonte. A comunidade se reuniu para prestar suas últimas homenagens, e naquele dia, o mar estava mais calmo do que nunca, como se também estivesse se despedindo de seu velho amigo.

Hoje, a imagem de Joaquim permanece gravada na costa, moldada pela natureza, como uma lembrança eterna de sua ligação com o oceano. Os pescadores mais jovens ainda falam dele com reverência, e suas histórias são contadas nas noites em que a lua brilha sobre as águas calmas. Joaquim, o velho pescador, tornou-se uma lenda, não apenas por suas habilidades, mas por sua alma que sempre pertenceu ao mar.

O tempo passou, mas a memória de Joaquim nunca se desfez. Para muitos na vila, ele era mais do que apenas um pescador; era uma lenda viva, uma personificação da sabedoria antiga e do respeito pelo mar. As gerações que se seguiram aprenderam, por meio das histórias de Joaquim, a respeitar as forças da natureza e a valorizar os ensinamentos transmitidos através dos séculos.

Dizem que, durante as noites de tempestade, quando o vento uiva e o mar bate furiosamente contra as rochas, é possível ouvir o sussurro de Joaquim, acalmando as ondas, como costumava fazer em vida. "O mar é nosso irmão," dizia. "Não o tratem como um inimigo, mas sim como um parceiro na jornada da vida."

Após sua morte, a comunidade quis honrar Joaquim de uma forma especial. Além das histórias que continuavam a ser contadas, decidiram erguer um pequeno memorial na praia, próximo ao lugar onde ele foi encontrado. Não era um grande monumento, mas uma simples pedra com uma placa de bronze, onde estavam gravadas suas palavras favoritas: "O mar devolve a quem o ama." Era uma frase que refletia sua crença de que o oceano, embora poderoso e muitas vezes cruel, sempre recompensava aqueles que o tratavam com respeito e carinho.

Com o passar dos anos, a lenda de Joaquim se entrelaçou com o folclore local. Surgiram contos de como ele, mesmo após a morte, guiava os pescadores durante tempestades ou os ajudava a encontrar rotas seguras em meio a nevoeiros densos. Alguns diziam que sua alma se transformara em uma grande gaivota branca, que sobrevoava os barcos nas manhãs mais difíceis, garantindo que todos voltassem em segurança.

Os filhos de Joaquim, seguindo os passos do pai, continuaram a pescar, mas também assumiram o papel de guardiões da sua memória. Eles ensinaram seus próprios filhos a amar e respeitar o mar, assim como Joaquim havia lhes ensinado. E assim, a tradição continuou, passando de geração em geração, garantindo que a essência de Joaquim permanecesse viva na vila.

Um dos netos de Joaquim, Miguel, tornou-se um dos pescadores mais respeitados da região. Herdara a intuição do avô e, embora não tivesse conhecido Joaquim pessoalmente, sentia sua presença sempre que saía para o mar. Miguel acreditava que o avô ainda o guiava e frequentemente sonhava com ele, com o velho pescador sorrindo e acenando das profundezas do oceano.

O velho pescador tornou-se mais do que uma lenda; ele é um símbolo de união entre os habitantes da vila e o mar. Em cada rede lançada, em cada peixe capturado, havia um pouco de Joaquim, um reflexo de sua vida dedicada ao oceano.

Hoje, na vila, quando as crianças perguntam sobre o velho pescador, os anciãos sorriem e apontam para o horizonte, onde o céu encontra o mar. "Ele está ali," dizem. "Nas ondas, no vento, em cada respiração que o oceano toma. Joaquim nunca nos deixou, ele apenas voltou para casa." E assim, o velho pescador continua a viver, não apenas nas histórias, mas no próprio coração do mar, onde sempre pertenceu.

Alexandre Inácio



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Esta é uma biografia fictícia inspirada na imagem, construindo uma narrativa em torno da figura do velho pescador que aparece na rocha.


sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Árvores

 





Abraço-te árvore 
Por me seguires até aqui
Por andares na minha sombra
A lembrar me os sonhos verdes
Eu que só sabia sonhar azul!


Abraço-te porque choras
Lágrimas de cristal e seiva
A desgraça de existir sem verde
Tombada e resignada
Abraço que foi e se perde.



Abraço-te porque tombaste
Num vale estrito e solitário
Frondosa e pujante que foste
E agora jazes relíquia 
Testemunha de combate milenário! 





É nos teus veios secos e perfumados
Que reconheço a nossa aventura conjunta
Filhos de deuses alados
Romeiros de  promessa alheia
Sem bordão abraço ou epopeia!







sexta-feira, 26 de julho de 2024

O amor

 

Pintura, MRodas

Gostava de te fazer um poema de amor

Que falasse de sol, terra e mar, fogo e seiva, de mim e de ti

Gostava mesmo

Como havia de declinar compromisso e crescimento interior, em todos os tempos e modos

Que falasse de florestas e flores nas rugas do teu corpo

Na volúpia do estertor da alma

Com rios e cordas de ternura e beijos

Sim, como eu gostava de inventar um poema de palavras úteis e sensíveis, quadras, versos, música e danças numa única estrofe, com muitas folhas verdes

E como eu saberia dançar dentro de ti, num mar de anémonas e festas, ondas de posse e partilha,  rios de fluídos ternos, êxtase vibrante de amor


Mas não consigo

Não, porra, não consigo evitar esta crueldade que nos ameaça de vida e morte

Não consigo esquecer ou fazer de conta que não vejo

A guerra à minha porta, os sem abrigo, a morte de crianças palestinas e ucranianas, de muitas crianças no mundo

Corpos tenros que nunca hão de amar e já desistiram de correr e brincar. E como suas maes morrem por dentro negando aos olhos o que o útero criou e o coração embalou

Morrem todos sem saber de que morrem

Sem saberem porque morrem

Não há pior morte do que não saber 

Porque se tem de morrer


Morrem os mortos com a dor dos vivos

Que também não sabem porque têm de viver. É a morte que desejam, porque a vida os matou vivos

Os matou em vida para que a morte não os torture novamente

Mais tortura

Na água que não há, 

na comida que não há

Na esperança que não há

Nem ar ou fogo, ou terra ou mar

Não há mais nada

Nada. Apenas a dança da morte, que de tanto dançar na tv, adormeceu a nossa revolta e indignação

Como queres que te fale de amor? 

Para isso é preciso estar vivo, sentir na pele a aragem do teu sorriso

Se estou morto, porque sorrirás tu? 

Se morreste comigo porque estarei eu vivo a cantar o amor? 

Qual amor? 

Não há amor com a morte deitada a meu lado, o escuro fétido, o horror de sentir que morremos porque nos deixamos matar

E nos matam mesmo  assim 

Eu queria escrever um poema de amor que parasse esta hemorragia

Que dissesse que todo o homem e toda a mulher são meus irmãos

Que todas as crianças são nossos filhos

Que juntos prosseguimos a viagem que vai daqui onde quisermos num caminho sempre por fazer

Queria caminhar com a humanidade em direção ao horizonte com promessas de paz e liberdade

Eu queria ser uma areia viva e brilhante neste deserto de humanidade decente

Mesmo rente ao que a gente sente

Vou escrever o poema de amor

Vou escrever para que saibam que o amor nunca se sabe onde começa e onde acaba

Mas que passa aqui, por mim e por ti, no ranger das horas sumidas de cada dia

No compromisso e respeito

Da atração e desejo

Da verdade e liberdade

Que só amor nos pode salvar

A passar do ontem para o amanhã 

O amor é um cavaleiro de ar e vento, de sol e fantasia autêntica de realidade

Que nos abraça e nos leva pela mão

A semear cada semente

Que cresce e diz NÃO.

Afinal, sempre escrevi o poema de amor!

MRodas

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Sonho

 



Sonho


Havia um obstáculo imenso à minha esquerda

podiam ser  autocarros, penedos sombrios  e muito transito

ultrapassei pela direita porque tinha pressa, ou queria fugir dali

pousei os pés numa tábua onde mal cabiam os pés

 e segui as marés na procura doutra margem.

A água turva e ondulada do rio

espelhava a alma turbulenta que me suportava

e a  espuma da maresia me incitava a parar


Nao sabia se era profunda a dimensão da viagem

nem se tinha regresso

mas continuei sempre

sempre e indefinidamente.


Nunca o rio me parecera tao longo e largo

Foi o tempo sem cair, que me deu me forças e orientou a viagem

o medo sumira e e foi de braços abertos que as encontrei, a sorrirem para mim.

11-7-24

Manuel Rodas