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quinta-feira, 31 de outubro de 2024

4. Dia

 


Hoje foi o 4. dia da aventura à vela no Tejo. Ontem tivemos treino físico e cognição, em terra. O treino físico é simples, exercícios de força, equilíbrio e concentração. O treino cognitivo também é simples, mas reconheço a minha dificuldade em fazer nós utilizados no mar. Talvez se fossem exercícios práticos com cordas, seriam mais fáceis, mas não há remédio, é treinar, treinar, treinar…com cordéis!
Nós em oito, nó direito, nó do fiel, nó lais de guia, nó volta de cunho, etc…Fui à internet e encontrei, https://blog.clickandboat.com/pt/nos-de-marinheiro/
 Os exercícios com os dedos da mão, em movimentos alternados com as duas mãos, mostraram-se um verdadeiro quebra-cabeças. Não imaginava como é difícil sincronizar movimentos com o polegar e mindinho da mão esquerda com os equivalentes na mão direita. E fazer uma sequência de 4 movimentos sincronizados, com as duas mãos, ainda é mais difícil!
No intervalo estive a conversa com o Vi, que com o seu ar enérgico, se mostrava muito interessado. Falamos de parques e de como se começou pelo interesse paisagístico, por influência do Arq. Gonçalo Ribeiro Teles. Só mais tarde, apareceu o interesse na preservação da natureza e ultimamente interessa se dá dinheiro, senão não tem interesse. Tempos que vivemos.
Por sugestão dele vou telefonar para o ICNF para tentar saber onde está o arquivo dos Serviços Florestais no Norte, desde os anos 40, até a sua passagem para o Parque Nacional Soajo Gerês, em 1972. Seria interessante fazer uma procura sobre os Serviços Florestais em Arcos de Valdevez e em Soajo e ver a correspondência entre o Engenheiro Oliveira e o meu pai, José de Sousa Rodas, Guarda-Florestal, bem como o expediente normal do serviço.
Mas voltemos ao Tejo. O dia foi ficando cada vez mais escuro e no final já caíam gotas de água.

Se a proa estiver apontada a barlavento ( donde vem o vento) o barco não anda. Por isso, é necessário arribar, afastar a proa da direção do vento. O contrário é orçar.
Para que isso aconteça é preciso caçar ou folgar a vela, como mostra a imagem. É um jogo de cordas e de coordenação entre a tripulação , enquanto o do leme tenta manter o barco no ângulo desejado, em relação ao vento.
Ainda me sinto pouco à vontade, porque são atividades novas para mim, e seis tripulantes atrapalham me. 
Propus ao piloto Antó que nos levasse até ao Bugio, mas ele disse que como a maré estava vazante, seria preciso mais tempo, pois a maré arrasta  ou puxa o barco e não havia vento suficiente para o trazer de volta em tempo útil.



No final, no regresso para atracar, o mestre Antó, ao leme, deixou descair o barco, e este embateu ligeiramente no cais. Serviu para lembrar como é difícil controlar a sua inércia. São muitas toneladas, talvez nove ou dez.
Deixo aqui 7ma recolha de provérbios ligados ao mar.

Provérbios sobre o Mar

Grande nau, grande tormenta.
Quem é do Mar, não enjoa.
Quem vai ao Mar, perde o lugar.
Gaivotas em terra, tempestade no Mar.
Não se afoga no Mar, o que lá não entrar.
Os Mares mais calmos, são os mais profundos.
O Mar aproxima as terras que ele separa.
Antes o Mar por vizinho, do que, cavaleiro mesquinho.
O Mar que  é Mar, nem sempre dá, hoje não dá, amanhã haverá.
Quando o Mar bate na rocha, quem se lixa é o mexilhão.
Alto Mar e não de vento, não promete seguro tempo.
Sem razão se queixa do Mar, quem outra vez navega.
Quem anda no Mar, não faz do vento o que quer.
Não pude passar o Mar, sem de fortuna me queixar.
Enquanto o Mar bonança, todos são bons pilotos.
Quem não entrar no Mar, nele não se afogará.
Nem com o Mar contar, nem a muitos fiar.
Vista bela é ver o Mar e morar em terra.
Quem o Mar gaba, não tem visto a praia.
Nem muito ao Mar, nem muito à terra.
Quem vai ao Mar, avia-se em terra.
Não há Mar bravo, que não amanse.
Repartiu-se o Mar e fez-se sal.
No Mar bravo, às vezes há bonança.
No Mar anda, para quem nós ganha.
Jornada de Mar, não se pode taxar.
Homem do Mar, cabeça no ar.
Há Mar e Mar, há ir e voltar.
Nau grande, pede Mar fundo.
É inútil levar água ao Mar.

E ainda um poema meu sobre a viagem.




Viagem

Era apenas um pau perdido nas arestas das rochas
Trazia a memória dos sonhos da árvore sua mãe
Que cedo lhe dizia
Faz-te ao mar, faz-te ao mar...

E o pau, resto desse sonho
Já chegara à praia
Onde as ondas continuavam as orações da mãe
Faz-te ao mar, faz- te ao mar

Adormecia enrolada na areia
A ouvir as gaivotas e o ronronar das ondas
Mas ao mar para quê? Tanta àgua...

Foi preciso vir uma criança
E transformar a madeira em vela e casco
A oração em viagem
E o sonho em aventura
Vai pau! Faz-te ao mar!

E o pau se fez caravela
Flor, vento e promessa
Acenar aos continentes
Que a viagem vale a pena quando me solto de mim
olhos meus nos olhos teus, água e floresta

O mar acalenta o sonho
E tu me levas na doce brisa do teu sorriso
Quando num abraço levamos o mundo dentro de nós
E encontramos naus e bandeiras
De braços abertos
A dar- nos voz

Faz-te ao mar, faz-te ao mar!

MRodas



sexta-feira, 25 de outubro de 2024

3. Dia

 


Depois duma interrupção de duas semanas, voltei ao convívio destas marinheiras intrépidas e marinheiros valentes. 

Hoje saímos pela primeira vez da doca de Alcântara e inicialmente com motor, para logo de seguida, desfraldarmos as velas. Pena o pouco vento, mas foi aproveitado para ensaiarmos e experimentarmos várias posições do barco, com vento à proa e a bombordo e estibordo.

Os nomes dos objectos e locais do barco são muito estranhos, para mim. Apenas há um nome igual em mar e em terra, manivela! Tudo o resto são diferentes. Alguns, ainda são conhecido e familiares, como popa (parente da frente )e proa, (parte de trás). Bombordo e estibordo também são conhecidos, mas difíceis distinguir. Parece que os marinheiros portugueses encontraram uma forma de não se enganarem. A parte lateral do navio próxima de terra, é bombordo. A outra, estibordo. Outra forma, quando estamos virados para a proa, o lado do coracao é sempre bombordo.Mas há outros bem estranhos, por exemplo, amura. São as partes laterais da frente do navio. As partes laterais de trás do navio são as alhetas. Só me lembro quando queremos mandar alguém embora, furiosos dizemos: põe-te na alheta! Deve ser esta a origem, vai lá para trás! 

Penso que com tempo, lá chegarei a outros nomes.









2. Dia

 


 Hoje é dia d’água.

Cheguei mais cedo. O tempo está com muita humidade e ameaça chover.

Aguardo nas Docas de Alcântara.  

O Vi não esteve presente, mas o Ed e a Paula vieram. A Ri muito simpática foi demonstrando os nomes das posições do navio, bombordo e estibordo, proa e ré, etc..um conjunto de nomes desconhecidos apenas usados  na água.

Experimentamos fazer nós e admiro-me com a minha dificuldade. Lá consegui memorizar 3 tipos, vamos ver até quando. O ambiente é muito cordial, senti-me bem, mas saí a pensar, vale a pena dar-me a esta atividade durante os próximos meses, pois não tenho barco, os meus amigos também não têm, que perspectivas tenho eu de vir a usar estes conhecimentos e esta prática? 

Tinha prometido a mim mesmo fazer em cada ano, algo que nunca tinha feito antes. A vela é um bom exemplo. No ano que está a terminar, experimentei a pintura, mas reconheço que é preciso energia para aprender pintura desde a pintura nas cavernas até hoje e praticar, praticar diariamente. Eu gosto de pintura, mas prefiro ver a que os outros fazem e talvez vá fazendo uma ou outra, quando a vontade for muito grande e não poder deixar de responder quando se tornar uma obsessão. Vou aguardar e talvez amanhã encontre essa lucidez para o desejo de continuar na vela. Também não é muito tempo. Apenas 3 meses.

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

1. Dia



 

 Fui o primeiro a chegar a um espaço no Alto da Loba, uma zona de construção social. Parece uma associação de bairro, mas com condições modernas.
O ambiente é agradável, apesar dum início tímido. Somos todos seniores, 4 homens e 8 mulheres desejam aprender e praticar vela. Engraçado como esta dificuldade inicial se mantém ao longo dos anos. 
Exercícios iniciais de actividade física, jogos promotores de interação social, alongamentos e de memória social: reconhecimento do nome dos participantes.
No intervalo alargado, o Vi, o Ed e eu, ficamos a conversar, conhecendo-nos melhor. 
O Ed é engenheiro electrónico. Tem uma empresa e ficou a contar histórias da sua própria empresa. Veio de mota, Honda Varadero. Também tem uma autocaravana, mas não tem tempo para desfrutar.
O Vi é geógrafo de formação mas diz que é ornitólogo de profissão. Ficamos a conversar sobre os flamingos, aves marinhas, e as cagarras que vem dos Açores até ao continente e só vêm a terra para nidificar! 

Inscrevi-me nas actividades de vela da Associação SeaWomen e são compostas de 3 actividades: treino físico, treino mental, em terra e no mar, se são prática da arte de bem navegar a vela! 

ASeaWomen é uma associação de mulheres, mas também aberta a participação masculina. Sem fins lucrativos desenvolve e promove o papel da Mulher no desporto, independentemente da sua cultura, raça ou estatuto socioeconómico, tendo todas as suas atividades como fim a promoção de uma causa social. A Seawoman desenvolve atividades em 3 áreas principais: Formação, Competição e Projetos Sociais.

Amanhã vamos ter aula de vela. São duas vezes por semana em terra e uma na água. Veremos.