sábado, 16 de setembro de 2023

Testamento do gato preto

 Mais um texto imaginativo do Sr Alexandre Inácio


. Fotos, Manuel Rodas


No testamento do gato preto, escrito com a elegância do mistério que o envolve, encontra-se a generosidade peculiar de um ser que via o mundo de uma perspetiva única. Este testamento, destinado a distribuir suas características de forma simbólica, reflete a singularidade de sua existência.

Testamento do Gato Preto:

Eu, o Gato Preto, neste testamento de caráter simbólico, deixo parte da minha essência a alguns seres que cruzaram o meu caminho.

  • Cor para uma Criança: Deixo à criança a magia da cor, a alegria de brincar com tons e matizes, a imaginação que colore o mundo. Que possa pintar seu destino com os pincéis da criatividade e espalhar a beleza por onde passar.

  • Ronronares a uma Artista Plástica: Deixo à artista plástica o suave ronronar que ecoa em meu peito. Que encontre inspiração nas vibrações tranquilas da vida, que suas criações sejam melodias de paz e harmonia, e que seu coração pulse no compasso da arte.

  • Orelhas ao Primeiro Ministro: Deixo ao Primeiro Ministro a escuta atenta, as orelhas aguçadas para ouvir as vozes do povo. Que possa compreender as necessidades e anseios da nação, agindo com sabedoria e justiça para construir um futuro de equidade e prosperidade.

  • Garras à Oposição: Deixo à oposição as garras afiadas da crítica construtiva. Que possam utilizar sua energia e vigor para fiscalizar e questionar, contribuindo para um debate saudável e um país mais forte, onde as diferentes vozes se unam em prol do bem comum.

Que estas simbólicas doações sejam recebidas com o espírito de compreensão e unidade, lembrando sempre que somos todos parte de um todo, cada um com sua função e sua importância neste vasto universo. Que a vida continue sua jornada, guiada pela sabedoria e pelo amor. Assim, encerro este testamento com a gratidão por ter sido parte deste mundo, deixando um legado de sabedoria felina



Alexandre Inácio

As perspectivas do gato

 

Do Sr. Alexandre Inácio, regressado há pouco do Brasil, eis mais um poema:

Em um mundo que gira, miúdo e profundo, Um gato preto, de olhar misterioso e fecundo, Vê a realidade do chão ao céu, em quietude, Com ternura pelas crianças, sua atitude.

A altura não lhe impede de olhar com brandura, O olhar atento, a percepção sem amargura, Observa a vida com olhos aguçados, curiosos, Respeitando o mundo, às vezes tão confuso.

Às crianças, docemente, ele dedica seu olhar, Com carinho e afeto, sempre pronto a brincar, Nas suas patas, a sabedoria de quem já viu, A inocência da infância, ele reconstrói.

Traz em si a magia, a graça de uma dança, O gato preto, guardião da doce esperança, Sabe que, mesmo em baixo, há beleza no olhar, E com ternura, as crianças ele vem amparar


Alexandre Inácio







Fotos, Manuel Rodas

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Diálogo entre Florbela Espanca e Natália Correia

 




O Sr. Alexandre Inácio imaginou esta conversa. Interessante diálogo entre duas poetas maiores da nossa literatura e de gerações tão diferentes.

Florbela Espanca: Olá, Natália. É um prazer encontrá-la aqui neste espaço além da vida. Suas palavras e sua poesia sempre me inspiraram profundamente.

Natália Correia: Olá, Florbela. A honra é minha. Admiro sua sensibilidade e a intensidade das suas emoções expressas em sua poesia. Seus versos sempre tocaram o meu coração de forma única.

Florbela Espanca: Suas palavras são muito reconfortantes. Sinto-me grata por saber que minhas emoções atravessaram o tempo e encontraram eco em almas tão ilustres como a sua. Como tem sido sua jornada artística desde que parti?

Natália Correia: Minha jornada tem sido marcada pela contínua busca pela liberdade de expressão, pela luta pelos direitos das mulheres e por uma abordagem vigorosa e apaixonada das questões sociais. A poesia tem sido minha aliada na denúncia das injustiças e na busca pela igualdade.

Florbela Espanca: Admirável! Sempre acreditei na força da poesia para promover mudanças e despertar consciências. Sua coragem e determinação são verdadeiramente inspiradoras. Como vê o papel da poesia em nossa sociedade atual?

Natália Correia: A poesia continua sendo uma voz poderosa que desafia, questiona e provoca reflexão. Num mundo em constante transformação, a poesia pode guiar as mentes e os corações na busca por um futuro mais justo e compassivo. É um meio de iluminar a escuridão e oferecer esperança.

Florbela Espanca: Concordo plenamente. A poesia é a voz da alma e, através dela, podemos transcender as barreiras do tempo e do espaço, unindo-nos na busca por significado e beleza. Que nossas palavras continuem a ecoar e inspirar gerações futuras.

Natália Correia: Que assim seja. Que nossas vozes se entrelacem na eternidade, oferecendo consolo e inspiração àqueles que buscam a verdadeira essência da vida. É uma honra compartilhar este momento contigo, Florbela!

Alexandre Inácio

sábado, 2 de setembro de 2023

Cansaço

 




Do amigo Alexandre Inácio recebemos novo poema inspirado em Mia Couto!


"A fadiga que sentimos não é tanto do trabalho acumulado, mas de um quotidiano feito de rotina e de vazio. 

O que mais cansa não é trabalhar muito.

 O que mais cansa é viver pouco. O que realmente cansa é viver sem sonhos."

__Mia Couto___ 

in 𝘖 𝘜𝘯𝘪𝘷𝘦𝘳𝘴𝘰 𝘕𝘶𝘮 𝘎𝘳ã𝘰 𝘥𝘦 𝘈𝘳𝘦𝘪𝘢


Na monotonia do dia a dia, o cansaço se instala, Não é a labuta árdua que nos faz desmoronar, Mas a rotina implacável, que nos enclausura, nos mata. É o vazio que nos corrói, nos faz questionar.

Trabalhar muito, não é o grande fardo, É a falta de sonhos, que nos deixa sem saída, É viver como autómatos, no mundo acinzentado, Sem esperança, sem paixão, sem vida.

A fadiga que sentimos, é mais profunda que a física, É a alma cansada de seguir o mesmo trilho, De acordar todas as manhãs sem uma âncora específica, Sem metas, sem desejos, sem brilho.

O que verdadeiramente pesa nos ombros da existência, Não é o peso das tarefas, dos deveres acumulados, Mas o fardo de viver sem persistência, Sem sonhos, sem metas, sem horizontes traçados.

É como vagar sem rumo, sem direção, Como se a vida fosse uma mera repetição, Um ciclo vicioso de inércia e resignação, Um abismo profundo de desilusão.

Portanto, não se deixe sufocar pela fadiga, Busque os sonhos, as paixões, os desejos ardentes, Pois é na busca daquilo que nos instiga, Que encontramos a verdadeira vida, plena e envolvente.

Trabalhe, mas também sonhe, ouse e persista, Pois no brilho dos sonhos está a verdadeira luz, E assim, a fadiga não mais resistirá, E a vida ganhará novas cores, que a alma induz.


Alexandre Inácio

domingo, 27 de agosto de 2023

Aniversário

 



Novo poema, soneto, do amigo, Alexandre Inácio.


No auge dos dezoito anos a celebrar, Inês Pinto, amante da natureza e sonhadora, Teu coração floresce em cada aurora, Defensora da paz, teu ser a irradiar.

Na economia e gestão, afetos a brilhar, Teu sorriso é luz que a tudo colora, Nas asas dos sonhos, a alma aflora, Em teu ser, a serenidade a repousar.

Que a vida te reserve aventuras belas, Caminhos onde a natureza é tua irmã, E a paz que defendes sejam estrelas

Que a maturidade venha serena, avelã, Mas que nunca te afaste da criança que és, Inês, que a vida te sorria, hoje e amanhã!

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Expressões para um poema (Alexandre Inácio)

 



Aqui se publica mais um poema do Sr. Alexandre Inácio, meu vizinho de estimação!


Expressões, mote para um poema:

Pequenos nadas

Barriga das pernas, Céu da boca, Lusco-fusco, Corre-corre, Vai-não-vai. São os pequenos nadas, Que enchem a vida, Com sua dança miúda, De cores e risos. São os momentos breves, Que escapam da rotina, Como estrelas cadentes, Na vastidão do tempo. Barriga das pernas, Onde a pressa se esconde, Céu da boca, Onde o gosto se revela, Lusco-fusco, O encontro do dia e da noite, Corre-corre, A dança das horas. Vai-não-vai, O suspense do instante, A decisão em equilíbrio, O salto no desconhecido. Pequenos nadas, Tão grandes e profundos, Como o olhar de uma criança, Ou o sussurro do vento. Não os deixes escapar, Estes tesouros fugazes, Pois na sua simplicidade, Reside a verdade da vida. Barriga das pernas, Céu da boca, Lusco-fusco, Corre-corre, Vai-não-vai.


Alexandre Inácio

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Vestido branco

 



Da tua linda janela à minha

Eram dois passos e meio a coxear;

Das primeiras vezes, oh, foste divina,

Das outras, nem me quero lembrar!


Vestido branco em pele morena

É bandeira rubra a tremular;

O querer parecer ser serena

É o segredo do que falta andar!



quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Lisboa (Alexandre Inácio)

 


I

Lisboa, cidade de contrastes mil, Triste e alegre, num abraço viril, Teus becos e ruas, de pedras e casas, Contam histórias de séculos e piratas.

Cidade farta, com sabores a bailar, Nas tascas e tabernas a harmonizar, Vinhos que fluem como rio cantante, Cidade, és uma promessa constante.

Mas também faminta, em teus beirais, Onde a saudade tece seus ancestrais, Olhando o horizonte, o mar que chora, Trazendo memórias de idos de outrora.

Luminosa Lisboa, à beira do Tejo, Com tuas luzes a dançar no relevo, Pelos miradouros, debruçada na água , És farol de sonhos a brilhar de mágoa.

Nas tuas praças histórias se entrelaçam, Palácios, azulejos, fados que abraçam, Saudades de quem um dia partiu, Mas em cada esquina, a vida ressurgiu.

Lisboa, és beleza em melancolia, Euforia e tristeza, em harmonia, Teu coração bate forte e sereno, Cidade de encanto, mel e veneno.

Nos azuis céus e no sol que diz adeus, Na brisa que vem do Atlântico, olhos meus, Lisboa, teu poema ecoa na bruma, Cidade de sonhos, és eterna espuma

II


Lisboa, cidade de contrastes, és tão única e bela, Tu és triste e alegre, como ondas numa tela. Tuas ruas de pedra guardam histórias antigas, Enquanto o fado ecoa nas noites tranquilas.

À beira do Tejo, onde o sol se deita a descansar, Tuas cores se misturam no céu a brilhar. Tristeza nas vielas estreitas, saudade no olhar, Mas alegria se encontra nos azulejos a enfeitar.

Farta de cultura e sabores, és um festim para os sentidos, Tuas mesas se enchem de prazeres conhecidos. O cheiro do bacalhau, a doçura do pastel, Lisboa, és um banquete para quem te conhece tão bem.

Faminta por progresso, por sonhos a realizar, Tua energia é contagiante, nunca deixas de inspirar. No Bairro Alto ou em Belém, em cada esquina há magia, Lisboa, és uma musa que em cada verso se cria.

Luminosa como o sol que brilha sobre o mar, Tuas praças e miradouros nos fazem suspirar. Os raios dourados refletem nas águas do rio, E em cada monumento, o passado é um desafio.

Lisboa, és uma poesia de contrastes que se entrelaçam, Uma sinfonia de emoções que jamais se deslaçam. Cidade de saudade, de esperança e de amor, Neste poema, te exalto, és um tesouro, és um clamor


Alexandre Inácio