Um abraço para a Sameiro
Dela recordo a infância e mais tarde a adolescência
em Paradela. Jovem, carinhosa, de olhos grandes e sonhadores, vivíamos com toda
a força o romper dos anos 60… Adamo e “tombe
la neige”, Silvie Vartan, e muitos outros. Até aí, o mundo ainda era
francófono, apesar dos Beatles, que vieram desviar a balança progressivamente e
em definitivo para o lado anglo-saxónico.
A nossa vida rodopiava entre o Colégio de Ponte de
Lima e Paradela. Passou férias na Peneda onde o pai era Guarda Fiscal. Bonita,
sedutora e seduzida entrou em muitos sonhos dos jovens da altura e não só…
Encontrei-a mais tarde em Braga, onde sei se casou
com marido do Porto, de quem veio a ter dois filhos.
Das histórias que ouvi sobre ela, guardei sempre a
imagem de heroína duma causa conhecida: o amor!
Faleceu recentemente no Porto.
Nas minhas deambulações pela Biblioteca Nacional,
encontrei este poema, publicado em 19.3.67 no Noticias dos Arcos e que não
resisti em fotocopiar.
Manuel Rodas
MENSAGEM DO NIASSA
A meu irmão
Álvaro Soares Alves
A galope, a noite descia!
Já no céu luziam estrelas
De vigia!...
Pairava uma angústia
Em cada olhar!...
Talvez fosse a saudade
A começar
Ou a dor amarga de ver partir
Em missão
Alguém a quem quero e que de nobreza
Tem cheio o coração!
Despedida breve... transpôs a porta,
Garboso
No seu uniforme de tropa
E, de o ser, orgulhoso!
Depois um olhar... um gesto...
E foi tudo...
Tudo o que vi, extática, imóvel!
E contudo
Sim, contudo eu vivia um drama
Pungente...
Drama escuro, dilacerante, que o tempo
Não desmente!
Dia após, sulcam-se águas
Salgadas,
Tão salgadas como as que chorei e choro
Amargas...
E o "Niassa" flutuou imperativo!
missão a cumprir!
Deixando no eco do adeus
Os que o viram ir!...
SENHOR! Vós que no-lo levaste
Dai-lhe regresso!
Dai-lhe volta certa, SENHOR,
Vo-lo peço!
Sameiro Alves
19.3.67
Paradela - Soajo
Maria Leiria
ResponderEliminarGosto do modo como o Manuel preza as suas amizades!