quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

A casa






A casa era térrea e de granito, tinha 4 portas exteriores, pintadas de verde e 6 janelas verdes, também. Era caiada de branco e as telhas vermelhas formavam um conjunto que sobressaía, ao longe, do verde das árvores e do castanho das plantas rasteiras e o cinza do granito.
Em volta da casa ele mandou pôr os canteiros com lírios que todas as primaveras se abriam em cânticos de azul amarelo e branco.
Foi ele que escolheu aquele sítio e aquela organização: a casa, o quintal, a mina, o poço a casa do forno e os cortelhos.
Um dia veio com dois homens e quando chegou a Fonte Fiães, subiu ao alto do Maranho, um promontório rochoso, qual capitão sem mar! A vista era linda. Mas como fazer uma casa neste deserto de gente? De certeza que sorriu e parou a olhar. Nem muito longe das pessoas, nem muito longe da serra e …a água por perto. 
À esquerda, o território já estava ocupado com bouças e tapadas. À direita era muito íngreme. Lá no alto, mesmo pertinho do céu, as imagens foram passando na sua mente, na ponta do indicador a apontar: naquele morro faria a casa e o largo em volta. As crianças brincariam, os trabalhadores passariam por lá e a minha mãe correria da casa para o poço deste para o quintal, mais em baixo, onde a terra parecia fértil, e do quintal para casa. O resto apareceria mais tarde. Tinha tempo até ao sétimo dia.
Logo apareceram os trabalhadores a revolver a terra, alinhar as pedras, a cavar os alicerces, erguer as paredes, rasgar as janelas e portas, sobrepor o telhado e tudo o mais que a uma casa diz respeito.
Todos os dias de manhã vinha de Paradela e à tarde voltava. 
A minha mãe perguntava: 
- Falta muito, Zé ?
Não, a obra ia bem e assim se fez durante um ano e seis mêses. Após esta data, a nossa família mudou-se duma casa igual, em Paradela, onde nasci, para esta. Assim foi mais fácil arrumar a mobília e a mim só me custou orientar no exterior, porque lá dentro, o escuro, o frio e a solidão eram iguais…

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