sábado, 29 de setembro de 2018

Voar

Como é fácil voar
redimensionar o real
em estreita fusão
do corpo contra alma
e num golpe genial
subir por ti até ao paraíso
onde se abraçam o bem e o mal!

MRodas
Caldas da Rainha 29 set.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Os figos na lua





 



Os figos na lua

Um dia estavam todos à mesa e quase no final, o pai disse:
“Pelas minhas contas hoje devia chover” - e sorriu. Aliás sorriram todos, uns mais que outros, pois ouviram-se até gargalhadas da mãe.
- Tás maluco, Zé! Hoje, em agosto com este dia de sol? Falta fazia, lá isso fazia...
“Pois sim, devo ter-me enganado - disse o pai. Devo ter tirado mal as têmporas”.
- As têmporas? O que é isso? –perguntaram todos.
O pai lá explicou que de Santa Luzia ao Natal, assim vai o ano de igual a igual. A cada um desses doze dias, corresponde um mês do ano seguinte. A cada manhã, a primeira quinzena e a cada tarde a segunda quinzena e assim até se chegar à previsão de cada dia do ano. E insistia que devia chover de tarde. Mais riam todos com a previsão tresloucada do pai.
O dia ia passando e ainda antes da merenda já o céu estava todo cheio de nuvens. Na cara do pai ia aumentando o ar vitorioso, em contraste com a mãe que meio desconfiada, não percebia bem o que se estava a passar, mas já olhava para o marido com alguma admiração. Mesmo que não chovesse, a confirmação da previsão do marido, com o céu carregado de nuvens, no inicio de agosto, era obra.
Dali a pouco todos tiveram que fugir para dentro de casa. Chovia que deus a dava.
- É uma bênção, dizia  mãe.
“ Afinal a têmpora estava certa, dizia o pai.
E assim ia ganhando créditos perante a esposa e os filhos.

Já no primeiro dia de agosto o pai dizia, primeiro de agosto, primeiro de inverno.
Ele barafustava perante semelhante ameaça, não diga isso, pai, não diga essas coisas.
Era das piores coisas que lhe podiam dizer, não tanto pela entoação, mas mais pelo significado. O fim do verão representava o regresso à aldeia, ao fim do sol, dos banhos no rio, da serenidade natural da vida, O inverno, pelo contrário, era o regresso ao mundo das trevas, das ameaças, dos castigos, do isolamento, da separação, do frio.
Desde que o pai assim falava, todos os dias perscrutava nas nervuras das folhas das árvores, ou arbustos, algum sinal que indicasse alteração da cor. O amarelo das folhas, e mais tarde, em setembro, toda a variação de amarelos, castanhos e vermelhos, significavam a concretização do dito, ou ameaça do pai, era o inverno que se anunciava.
Não valia a pena empurrar o tempo para trás ou impedir que avançasse. Era uma luta perdida e inexoravelmente, ele percorria-nos a todos, arrastava-nos com ele, não valia a pena insistir. O melhor era mesmo ignorá-lo.
Bastava olhar a alteração progressiva das cores, nas plantas, nos caminhos, até na roupa.
Dum dia pra o outro estava na aldeia em casa dos tios. O verão tinha terminado. Todos se admiravam, tinha crescido, as férias tinham-lhe feito bem e parecia outro.
Ele não via diferença nenhuma, tudo se mantinha igual. Tudo.
Os tios, em conluio com a natureza, esperavam que os figos amadurecessem ao mesmo tempo que ele regressasse à escola. Em outubro, os figos reluziam com o mel a chamar por quem os comesse.
Subia à figueira grande, junto à casa e sobranceira à fonte. Levava numa mão um balde de plástico, o primeiro que se tinha visto por aquelas bandas, e ouvia com um sorriso, o que o tio lhe dizia. Tem cuidado, olha onde pões os pés, não andes na lua, segura-te bem, olha que se cais não há quem te salve!
Ele subia do muro para o tronco, agarrava-se aos ramos e sabia que naquele instante era o herói da história. Eles não podiam subir, não podiam fazer o que ele fazia, subir aquele castelo verde, cheio de figos, olhar o horizonte, que se espraiava desde o Cubão, na serra de Soajo, à serra Amarela. Não podiam ver o que ele via, nem sentir o que ele sentia. Não havia quem o salvasse.
Apanhava os figos, ouvia o tio dar-lhe conselhos de segurança, mas já ia nas nuvens dos desejos, rei daquelas paragens, herói destemido das montanhas a voar com um balde de figos, em direção à lua. E se não voltasse?
Quando regressava de balde meio, sabia que a experiência se ia repetir mais 3 ou quatro vezes. Da próxima vez, havia de voar mesmo e quem sabe, ficar na lua para sempre, ou entrar-lhe pela janela dentro e assustá-la. Ou somente dizer-lhe, queres vir aos figos? Definitivamente, não havia quem o salvasse.
A tia estendia os figos na mesa da sala e mais tarde na varanda da porta rasa. Ali iam secando os que restavam do desejo, a conta gotas.
E tinha a certeza que o olhar deles era de reconhecimento e de dádiva. Tinha feito o que se esperava dele, subir à figueira e apanhar figos.
Havia algo de que os tios não eram capazes e o pai não tinha previsto, apanhar figos na grande figueira e viver na lua.

Oeiras
MRodas

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Manuel Pereira


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Manuel Pereira estava há 12 meses na Flandres. A vida na front, nas toupeiras ou nas trinchas,  era um imprevisto diário, ou bombas, tiros, frio e terra ou a mesma coisa mas por ordem inversa. Era de ir aos arames!
Feito prisioneiro numa emboscada pelos alemães, na Avenida Afonso Costa, tinha fugido e ao fim de vários dias a deambular pelas veredas e margens do Lys, foi parar ao Batalhão de Infantaria 23, onde aguardava ser recambiado para a 4ª Brigada, Batalhão Inf. n.º 8, a que pertencia.
Os boches não eram como os lãzudos, ou como os bifes, eram pontuais. Disparavam a mesma hora e paravam o ataque na hora certa. Intercalavam com  bombas de gás e tiros esporádicos.
Dormitava-se quando se podia e podia-se muito quando se dormia.
Ao seu lado esquerdo dormia João Augusto Ferreira de Almeida, solteiro, filho de João Ferreira de Almeida e de Angelina Augusta, natural da Foz do Douro. Para trás tinha deixado um emprego na casa de um cidadão alemão, que vivia na zona da Foz do Douro.
Ao seu lado direito dormitava António Rei. Ambos tinham  embarcado para a Flandres, a 16 de Março de 1917  e chegado a Brest, França, a 21 de Março de 1917.
Era nas poucas horas de pausa, cedidas pelo alferes e pelos alemães,  que cada um discorria sobre a vida e a saudade das suas terras.

 Na recoca, Ferreira de Almeida falava do pai e da mãe o suficiente para se perceber que o pai tinha uma ou duas faltas, isto é, dependia dos dias, mas na generalidade, era meio doido.
Naquela noite Manuel Pereira pensava no vale do Vez, enquanto observava no céu escuro uma salsicha. Fechou os olhos, uma mão pousada no cantil, a outra na Luísa e deixou a alma voar sobre os campos verdes da sua terra até mergulhar nas águas ternas e cintilantes do rio Vez e...nos olhos negros de Gracinda!
Tinha saudades de casa.
Uma sardinha assada e uma malguinha de tinto com uma fatia de pão era o que ele mais desejava e, só depois, ver a família e namorada. Era uma fraqueza que lhe subia do estômago ao coração, mas faltava-lhe a coragem para o reconhecer. Para isso teria de desertar e essa era uma fronteira ainda mais perigosa que a guerra!
Fechava os olhos e deixava-se estar á espera do próximo ataque. Eu vou-me safar, ai isso é que vou, rezava baixinho, invocava a Srªa da Peneda, S. Bentinho, de mistura com a imagem das festas e foguetes.
Ao seu lado, Ferreira de Almeida contava que estava cheio daquela maldita guerra e apetecia-lhe fugir. Fosse para onde fosse, mas tinha de fugir. Queria saber o caminho para os boches, até já tinha oferecido dinheiro a um camarada para que lhe fornecesse essa informação. Apontava para dois mapas, dobrados no bolso, e dizia que ia mostrar aos alemães as posições portuguesas. Deste modo, eles iriam tratá-lo bem. Acolhê-lo-iam e quem sabe lhe dessem emprego lá atrás das linhas. Já tinha trabalhado com um alemão no Porto e dava-se bem. Eram ambos exigentes: o alemão mandava e ele cumpria, sem precisar de pensar muito. Tudo normal. A pena de sessenta dias de prisão a que fora condenado é que ele não ia cumprir. Tivessem juízo. 60 dias a um soldado que sempre cumprira as ordens e apenas naquele dia tinha cometido um pequeno deslize? Nunca! O chauffeur 502 tinha-se ausentado  sem autorização, por 24 horas, quando estava colocado na secção automóvel, encarregue do transporte de água para as tropas do CEP.
A pena tinha sido a incorporação na 1.ª Companhia do Regimento de Infantaria 23, colocada na linha da frente e em risco de ataques do inimigo. Era igual a uma condenação à morte. Não, ele não queria morrer e muito menos ali, de barriga esventrada e as tripas cheias de moscas, morto por um boche qualquer! Ele tinha um plano diferente...

 Manuel Pereira nem queria acreditar. O homem estava a alucinar. Estava doido. Devia ser o efeito dos gases e daquela maldita guerra. Mas mesmo assim não se mexeu, deixou-se ficar a ouvir o companheiro ex-chaufer, no trilho entre a inquietação e o cansaço, o dever e a deserção.

Soube no dia seguinte, a 30 de Julho, que António Rei tinha denunciado o colega, ao capitão Mousinho de Albuquerque, mas manteve-se calado. Fingiu não saber de nada. Estava de passagem à espera do seu pelotão e de passagem haveria de continuar, até chegar às margens do seu querido Vez.
 O tempo passara mais lentamente que desejava. Foi com espanto que soube da sentença: o Ferreira de Almeida foi condenado à morte, por traição à pátria.
Não queria acreditar. Então não tinham visto que aquilo era um desabafo de quem se sente perdido e não sabe porque está ali, naquela guerra, maior que qualquer outra injustiça!
Ele também não sabia muito bem e nem por isso seria justo ser fuzilado.

O pelotão de fuzilamento, formado por quatro soldados, quatro cabos e quatro sargentos, fora incumbido, naquela madrugada de 16 de Setembro de 1917, de cumprir a sentença proferida dias antes pelo Tribunal de Guerra. Todos eram do Batalhão de Infantaria nº 14, ao qual João de Almeida pertencera antes de ir para a unidade de automóveis, e, convocados de véspera, tinham sido escolhidos entre os menos impressionáveis e recebido conselhos sobre a forma de proceder.
Às 6,30 horas da manhã o capitão vem ter com Manuel Pereira e diz-lhe, Prepara-te. Falta um soldado para o pelotão. Conto contigo. O que tens a fazer é seguir os outros e fazeres o que eles fazem. Estás pronto? Vamos embora!
Manuel Pereira sabia que se queria voltar a Pugido não podia contestar as ordens que lhe davam.
Faltavam cerca de 15 minutos para as oito da manhã. Por isso, os lábios mexeram-se num arraite imperceptível. 

Manuel Pereira reconhece Ferreira de Almeida. Este enverga o fardamento de chauffeur, dólman e calção à chantilly. Acompanha-o um capelão militar. Uma espécie de terror no seu olhar triste, espalha uma angústia pungente em seu redor.
As armas estão apontadas e Manuel Pereira treme pela primeira vez na sua vida. A vista fica-lhe turva e na cabeça tocam os sinos dobrados da torre de Gondoriz, de S. Tomé, da Lapa e do Espírito Santo. Todos duma vez só.
Que vais fazer, Manuel Pereira? Que vais fazer tu? Colaboras nesta desgraça ou manténs-te silencioso e ficas impune perante a tua alma? S. Bento e Nossa Senhora da Guia me ajudem, que isto não é guerra nenhuma, isto é mas é o inferno! Agora já é muito tarde para o cavanço!

Das doze armas que compunham o pelotão de execução, apenas onze dispararam. Apenas se ouviriam onze balázios, se alguém se desse ao trabalho de os contar. Se alguém o fez também o não contou a ninguém.
Na cabeça de Manuel Pereira ficou registado uma salva contínua sem parar, tempo infinito, num cemitério de guerra, próximo do lugar do suplício, do lado de lá da Estrada de Bacquerot, num campo de cultura, cercado de arame farpado, vendo descer à cova o cadáver sangrento daquele que a justiça condenara a morrer sob a infamante acusação de traição à Pátria.
Onze tiros num peito jovem e com desejo de fugir da insuportável realidade.
Ouvira comentar que fora o primeiro (e único, dizemos nós) fuzilamento consumado entre as tropas portuguesas, em França. Mesmo à noite, ainda os tiros ecoavam na sua cabeça, sem um grito de condenado. Apenas dizia baixinho para si próprio: o homem morre, para afirmar o poder absoluto de uns tantos, sobre a vida de cada um. Para servir de exemplo e vivermos assustados. Obedecer e morrer como carneiros! Maldita vida esta! O que acontece aos cachapins e aos palmípedes? E aos básicos? Nada. O que eles precisavam era dum bom porco!

Manuel Rodas

Vocabulário e termos utilizados pelos soldados portugueses, na Flandres na I Grande Guerra!

"Front" (linha da frente), 
"Ir aos arames" (ir de encontro ao arame farpado), 
"Arraite" (do inglês all rigth), 
"Avenida Afonso Costa" (terra de ninguém), 
"Balázio"(tiro de pistola ou metralhadora) 
"Bife" (soldado inglês), 
"Boche" (soldado alemão, derivante do francês caboche), 
"Cachapin" (oficial ou soldados que conseguiram ser transferidos para a retaguarda, ou que tendo ordem de ir para as trincheiras nunca lá chegaram), 
"Cavanço" (fuga para a retaguarda), 
"Lãzudo" (soldado português),  
"Recoca" (serviços de apoio na primeira linha, cozinheiros, tratadores de gado, condutores, etc. longe do parapeito), 
"Toupeira""Trincha" (soldado das trincheiras), 
"Porco" (projéctil de morteiro pesado), 
"Salchichas" (balões de observação ou drachens),
 "Luísa" (metralhadora inglesa Lewis), 
"Básicos" (oficiais da base), 
"Palmípedes" (oficiais do Estado – Maior que anda de carro e dorme debaixo de telha), entre muitos mais que ficaram. 


terça-feira, 11 de setembro de 2018

domingo, 9 de setembro de 2018

A guerra ė a dança da morte

Exposição do livro do pai e filho sobre a guerra, José Jorge e Andrė Letria

Palácio da Presidēncia Cascais

Fui visitar o Palácio da Presidēncia.
Casa de D. Luis, D. Carlos, e da Republica. Ainda vi os aposentos onde era suposto Marcelo Rebelo de Sousa dormir, mas ... não estava.
Vale a pena visitar por 3 euros...

sábado, 8 de setembro de 2018

Rei

Ser rei dos outros não me seduz
mas ser rei de mim próprio
em causa minha
é percorrer descalço a existência
fiel ao que sou e teimo
e...prosseguir
 não desistir do conquistado 
caminhando
onde não há caminho
fazendo em cima do desfeito
inventar o que se perdeu...
Não é fäcil ser rei...
muito mais
quando se é republicano e...laico!

MRodas

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

O medo

Eu era soldado e sentia-me só em Lisboa, se é possível estar sozinho em Lisboa.
Uma fantasia antiga aliciava-me para que fosse, agarrava-se a mim, dizia-me que não havia razão para tanto receio.
Iria ver como estava enganado.
Sorria descaradamente, deixando escorrer a magia da volúpia.
Ainda havia de agradecer.
Bajulava-me.
Um soldado devia ser generoso e audaz.
Para as grandes decisões bastava, a maioria das vezes, uma pequena anuência e outras coisas assim, para me convencer.
E despia-me de toda e qualquer compaixão. Verdadeiramente eu não queria ir, mas não tive coragem de reconhecer o meu medo. Também não queria desiludi-la.
Muito tenso e disfarçando o nervosismo, aceitei subir os três degraus da plataforma e sentar-me numa cadeira livre. Altifalantes difundiam uma explosão de ruídos e música que perturbavam e não me deixavam pensar serenamente.
O que se passou a seguir foram subidas, acompanhadas por descidas abruptas ao interior de mim mesmo, a esse espaço ascentral onde a civilização foi arrumando todos os horrores acumulados por séculos e séculos de pavor, sobrevivência e medo.
Vi os grande tigres, dentes de sabre, a devorarem a aldeia, vi as inundações, tempestades e relâmpagos a consumirem o universo, a fome, a peste e a guerra em danças macabras, a traição nos olhos dos filhos e pais a devorarem crianças com esgares de fome e loucura.
Vi o chão a levantar-se, emergindo dele cobras imensas e monstros mais horrendos e inimagináveis. Das nuvens caíam salpicos de sangue e corpos putrefactos, a desmembrarem-se. Era Babel que caía mil vezes, Sodoma e Gomorra que se destruíam outras mil, dentro de mim.
À minha volta, a carne e as almas atapetavam o pensamento, as bombas enlouqueciam de raiva, enquanto eu era atirado ao ar, folha de mortalha enrolando todo o sofrimento, angustia e desgraça projetadas pelos carris num movimento de eterna calamidade.
O cheiro a enxofre e ovos podres entupia as narinas e acidulava as meninges, provocando vómitos ininterruptos e a alma libertava-se do corpo, em convulsões de desânimo e dor.
O calor das labaredas e explosões encrespava a pele e encarapinhava os cabelos. Até as unhas gelatinavam e as botas fumegavam um ar tóxico e mordente.
Não sei calcular quanto tempo demorou esta viagem. Podiam ser séculos, anos ou apenas uns minutos.
Quando por fim acabou, olhei em volta à procura dela, mas tinha desaparecido nos corredores e subterfúgios mais densos da minha consciência. Atordoado, levantei-me, bati os pés no chão e senti-me vivo, de mãos dadas com o universo, sem fugir de mim, de regresso à origem, onde me tinha inventado.
Afinal, a viagem apenas começara.

Manuel Rodas

domingo, 26 de agosto de 2018

Reino maravilhoso

Eu era amigo do rei
e podia entrar e sair do castelo
que tinha inventado
Podia entrar e sair
redesenhar os muros e as salas
as paredes e os tapetes

Até podia colocar as pessoas
nos locais certos
vestidas às cores

Podia refazer o castelo todo
rasgar as janelas
e brincar nas ameias

Ir aos aposentos reais
e seduzir as damas
ou ir æs cavalariças
e escolher o alazão preto

Eu podia fazer tudo
porque era amigo do rei

Mas nunca o fiz
porque tinha receio de não mais voltar

Um dia
alguém prendeu o rei
e raptou a rainha

Ainda hoje ando à procura
dos caminhos para o castelo

Também
não sei onde está o rei
que era meu amigo...

MRodas

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Homenagem

Celebro todos os que a combater morreram
sonhando com as àguas deste rio
e desenharam as imagens que hoje retenho deles

De mãos dadas
chegavam do adro até às margens frescas cheias de salgueiros
e retalhos de cores
das lavadeiras de roupa

Eles continuam de mãos dadas
dum lugar ao outro mais incerto ainda
e vão continuar assim
por muito tempo
depois do poema ter acabado

Depois disso
a quem darei eu as minhas mãos
e em que rio
lavarei minha alma?

MRodas

Mármore

Chegamos longe
Vindos de muito perto
O tempo que demoramos a cá chegar...
Foi preciso britar a cor
tecer o movimento
nas tábuas claras da alma
Surpresa
Chegamos
onde o poeta
tinha anteriormente celebrado a nossa vinda!

MRodas

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

O cretino

O cretino não presta, é uma peste.
O cretino transpira veneno por todos os poros,  ė uma raiva, um esgar fedorento.
O cretino rejubila com o mal dos outros.
Não se lava, chafurda.
Quando pestaneja, já se adivinha a intenção, fazer mal.
O cretino não chora, remela.
Se não fala, congemina, destila pus e lepra
Se fala, rumina e arrota.
Se boceja, impesta o ar em redor.
Se vocifera, consome-se na sua própria nausea.
Alimenta-se da inveja mais escura e soturna.
Quer ser grande porque fatalmente é pequenino.
Estica-se tanto que dá gozo vê-lo estatelar-se no esterco.
O cretino faz interpretações de merda,
onde está amizade e amor vē ódio, onde o altruísmo, lê desprezo e, onde está solidariedade, escreve suborno e más intencões.
Acredita ver tão longe que tropeça em si próprio,
ensarilha as ideias num pútreo mau hálito
enquanto a saliva verde lhe escorre pelos cantos da boca.
O cretino ė manipulador, pensa uma coisa e diz outra
Dä palmadas nas costas para escolher o momento de te empurrar.
Ajuda a levantar-te para ter o prazer de te empurrar novamente.
O cretino não respira, incha e sibila putrefação.
O cretino é uma peste, não presta!
Morra o cretino, morra,
Pim...

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Uma aldeia solitária

Este é o link com o filme UMA ALDEIA SOLITÄRIA, de Carlos Silveira, baseado no meu livro    MANUAL DE RAMIL : Agradeço a divulgação.
Obrigado. MRodas
https://vimeo.com/282409564