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segunda-feira, 14 de março de 2016

Caros amigos e amigas! FINALMENTE JÁ HÁ DATA MARCADA 9 DE ABRIL ÀS 16 HORAS




FINALMENTE 
JÁ HÁ DATA MARCADA
9 DE ABRIL ÀS 16 HORAS

Caros amigos e amigas!

Vou apresentar o meu primeiro livro Manual de Ramil, terra e saudade, em Oeiras, na Biblioteca Municipal, no dia 9 de abril de 2016, às 16 horas!
Como sabes é dificil escrever, e mais difícil ainda divulgar o livro. As grandes distribuidoras ignoram-nos e as pequenas querem muito dinheiro.
Gostaria que estivesses presente e convidasses os teus amigos.
É uma tarde de  sábado dedicada à amizade, convívio e cultura!
É minha pretensão fazer uma ponte entre o meu concelho de origem, Arcos de Valdevez e o local por mim escolhido para viver, Oeiras. Por isso, vai haver uma surpresa... ou várias!

Conto contigo! Vem e participa!

Abraço

Manuel Rodas


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

MANUAL DE RAMIL

      http://romanceiro.pt/#/version/660
http://romanceiro.pt/#/version/659


O romanço da Faustina presente no livro Manual de Ramil.


A Faustina. A minha mãe trazia a bacia com a roupa lavada, pró sol, a cheirar a fresco e a sabão azul, sentava-se nos degraus de pedra, com vista para Soajo e a serra do Gião e punha-se a coser. Eu entretinha-me a ver a perícia com que enfiava a agulha, rematava a linha com o nó, enfiava o dedal no dedo anelar e depois de virar a peça dum lado e do outro, a fazer os cálculos, quanto tempo ia levar, se valia a pena o tempo que ia perder a recuperar a peça. Dali a pouco:
- Vai buscar o meu banquinho à cozinha.

Sempre achei graça àquele banquinho de madeira com um coração recortado no assento, onde metia a mão, suspendia-o e vinha atrás e mim, pendurado nas suas quatro patas. Parecia um cãozinho que nunca dizia não.
-Mãe, cante aquela cantiga da Faustina! – desafiava-a com ternura da minha pouca idade.
Ela sorria, abanava a cabeça a convencer-se a si própria que tinha tempo e tranquilidade suficiente para a cantar e dizia:
- Ora, ainda ontem ta cantei!

- Só mais uma vez, mãe!

Ela hesitava, olhava os meus olhos de súplica, dobrava mais um pano e entoava:

- O rei tinha três filhas e a Faustina a mais bonita!

Depois desta toada, não era preciso mais para me deixar levar na ondulação da sua voz e nas desventuras da Faustina e do rei, seu pai.
- Passeava-se a Faustina pelo corredor acima, viola de oiro levava, Oh! Que bem a tangia!
Era ali que começavam as palavras e a música a ganhar forma na minha cabeça. As imagens da Faustina, de cabelos soltos, ar airoso e sorridente, despreocupada com problemas de comida ou de roupas, passavam em mim e eu recriava-as com as cores de Ramil. A Faustina era uma princesa, com uma viola de ouro.
- E se ela bem a tangia, melhor romance fazia.
A cada passo que dava,
seu pai a acometia: Atreves-te tu, Faustina,
uma noite a ser minha?
Na torre mais alta a prendeu que nem sol, nem lua havia. Dão-lhe comida por uma malga e água por medida.
Via a Faustina a envelhecer, sem poder ver o sol e a lua. Mas que castigo terrível. O pai devia ser muito mau. Eu não compreendia porque o rei a castigava. Fazer isso a uma filha bonita e princesa? E comia por uma malga? E água por medida, por ração? O rei era muito mau. O meu pai nunca me faria isso. A voz da minha mãe não me deixava muito tempo para mais considerações:
- Ao cabo de sete anos, 
sete anos e um dia,
a torre se abriu.
Assomou-se a uma janela, foi encontrar-se com a sua irmã. Deus te salve, minha irmã, irmã da minha alma!
Por favor te peço,
que me dês um copo de água. Água não te posso dar, sem o nosso pai me matar. Ó irmã amaldiçoada!
Esta irmã também devia ter muito medo do pai. Nem um copo de água? E porquê irmã amaldiçoada? Eu tinha ali tanta água para lhe dar, mas não lhe podia valer. Pobre Faustina!
- Seguiu minha mãe com Faustina em frente, mais triste do que vinha. Encontrou a outra irmã, a outra irmã que tinha. Deus te salve, minha irmã, irmã da minha alma!
Por favor te peço, que me dês um copo de água. Água não te posso dar, sem o nosso pai me matar,
ó irmã amaldiçoada!
Outra irmã aterrorizada pelo pai. Mas que tristeza. Assim não valia a pena serem princesas. Uma presa numa torre sete anos e as outras cheias de medo que o pai as matasse...
- Seguiu Faustina em frente, mais triste do que vinha. Encontrou seu pai,
seu pai que entristecia: Deus o salve meu pai,
Senhor da minha alma.
O favor que eu vos peço, que me dê um copo de água. Correi vassalos, correi, buscar um copo de água fina, matar a sede da Faustina,
que esta noite há de ser minha!
Afinal o pai parece que se arrependia no final e mandava trazer água para a Faustina. Arrependeu-se? Só podia ser e devia pedir desculpa à filha.
Há de ser minha? Mas então ela não era filha dele? Mãe, porque o pai prendeu a Faustina? Era mau?
Ela sorria e dizia que sim. Era um rei muito mau.
Mas no final ele arrependeu-se, mãe?

Ela calava-se e não dizia nada. Ficávamos os dois em silêncio. Eu a ter pena da Faustina, mas ela pensava noutras coisas, que eu não sabia. Mas sabia que ela pensava noutras coisas da história, mas eu não sabia o quê.

- Em que estás a pensar, mãe?

- Em nada.

Era o sinal que não queria conversar mais sobre o assunto. Acabava o desenho que tinha iniciado, com um pauzinho no chão e ia-me embora. Aquela história era triste, nem eu sabia porque gostava tanto de a ouvir. Deixava-me triste encostado a um muro que não sabia saltar, uma montanha que me desafiava a descobrir o que havia do outro lado.

Se aquele avião, que vai tão alto, tão alto e mal se vê, caísse aqui, já podia ver como era feito e o que trazia lá dentro. Havia de cair aqui, para eu ver. Coitadas das pessoas que morreriam. Não tinhas pena? Tinha. Não tinha era pensado nas pessoas. Só queria ver o avião mais de perto.



quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Obrigado, amigos!






Obrigado amigos que estiveram presentes na Escola Secundária da Amadora na apresentação do meu livro MANUEL DE RAMIL, terra e saudade! Foram momentos inesquecíveis de recordações e saudades! Gostei de vos ver, com o mesmo riso franco e generoso. Obrigado, JOSÉ RUY, JORGE MIRANDA, JOSÉ AUGUSTO  e todos os outros que que estiveram presentes e confraternizaram durante o jantar. 
Esta é a força da escrita e da amizade!
Boas festas e ... até à próxima. 
Um grande abraço! 


terça-feira, 21 de julho de 2015

Manual de Ramil, terra e saudade


In, MANUAL DE RAMIL, terra e saudade

......
Saíamos estremunhados daquela casinha baixa no largo de Domingos, emparedada por outras iguais e seguíamos pela avenida dos estaleiros, virávamos à Praia Norte, íamos aspirando o estranho cheiro enjoativo das algas salgadas e maresia e preparávamos a batalha no Castelo Velho. Só Sta. Luzia altaneira e as rochas e as areias à esquerda, e os milheirais à direita, nos seguiam como testemunhas mudas e quedas dum presságio sem fim à vista!












segunda-feira, 22 de junho de 2015

Dedicatória MANUAL DE RAMIL

É ESTA A DEDICATÓRIA NO MEU LIVRO  MANUAL DE RAMIL - TERRA E SAUDADE, a apresentar em Soajo, no dia 1 de agosto.

Sempre que tive de revisitar a minha infância, o pai e a mãe do homem que sou hoje, ela sempre se deu, generosa e sem surpresas.
Trago dela a memória dos dias com os outros e com as suas ausências.

É um mundo colorido de pedras e flores, areias e pombas…com pessoas dentro.
Uma ilha de liberdade, presa pelas teias das emoções dos adultos e das crianças.

É esta história que quis contar a minha filha que, nascendo e vivendo na cidade, não teria outra forma de saber donde vem e de que povo é herdeira.

É a história dum povo das montanhas que lutou sempre pela sobrevivência: as desgraças e tristezas, o medo e as partidas, as cantigas e danças, a esperança e o amor.


É também para todos aqueles que procuram nas recordações individuais a memória dos povos, os hinos e canções da luta pela sobrevivência e pela vida como ela é, e pelo que gostariam que fosse!

É para os meus amigos e os filhos dos filhos deles.

A todos, o meu obrigado.


Oeiras, 2014 Manuel Rodas

segunda-feira, 23 de março de 2015

...MANUAL DE RAMIL


...MANUAL DE RAMIL... a publicar em breve!


- Grilo, grilinho, anda cá para fora, beber vinho...
“Vinho? O que é isso? É bom? A que sabe? É doce? Faz rir? Chorar?
- Gri gri, sai, sai, que aí vem o teu pai, com uma faca de cartão espetar-te no coração.
“ O meu pai? Não, ele nunca me mataria... mentiroso, men-ti- ro-so...men-ti-ro-so...”
- Grilinho sai, sai, se não mato o teu pai, com uma bola de sabão vai direito ao coração”
Às vezes saía, ou porque tinha medo que lhe matassem o pai ou por curiosidade e com as duas mãos abertas em concha, agarrava-o.
Tão preto... com dois corninhos a acenar... e cada um mexe por si, parecem ter vontade própria, não é como as vacas ou os carneiros, que vão os dois ao mesmo tempo, para o mesmo lado. O macho só tem um rabinho, as fêmeas dois, mas depois de estar na minha mão era apenas um grilo... Ele saltava, mas não tanto como os gafanhotos. Voltava a apanhá-lo, para onde vais, agora és meu e estás aqui comigo... se pudesse ia contigo para tua casa, mas é tão pequena. O que guardas lá? Tem quartos e escritório? Também escreves ou só cantas? Porque cantas? Cantas ou gritas? Comes em casa ou vens comer cá para fora? Vives sozinho?
Talvez ele respondesse, mas devia falar muito baixinho e nem por isso desistia de escutar.
 Quando não saía com a ervinha, abria a braguilha e urinava na toca, e era vê-lo vir a correr, quase sufocado, a gritar, “Mas o que é isto? Que atrevimento é este?”
- Olha lá, até é mais quentinho que a chuva e quando chove como te abrigas?
“ Mas cheira mal e a chuva cheira bem..”

O telefone

(...do livro MANUAL DE RAMIL,  a publicar brevemente)

- Telefona, Zé! - dizia minha mãe a aspirar o progresso!

Ele dava à manivela, enfiava o dedo indicador nos buracos brancos, com números, como olhos, marcava os números redondos e o telefone acordava manso e cordato.
Com o auscultador na orelha, o meu pai passava as preocupações para alguém longínquo e invisível.

O sussurro vinha numa voz diretamente do além. Enquanto isso, ele mantinha um ar sério e grave, como se a salvação do mundo estivesse dependente daquelas palavras e dos gestos e momices que a mulher lhe fazia da ombreira da porta, a recordar-lhe a urgência dos factos e pareceres.