sábado, 12 de abril de 2025

Transtorno de Personalidade Borderline

 

Foto, M. Rodas
Caldas Rainha, 2025





Transtorno de Personalidade Borderline : 

Características Clínicas e Estratégias Familiares de Manejo


Introdução


O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) é um dos transtornos de personalidade mais prevalentes em contextos clínicos, apresentando maior incidência em mulheres, especialmente em ambientes ambulatoriais e hospitalares (Skodol; Morey; Bender, 2021). Trata-se de uma condição caracterizada por instabilidade afetiva, impulsividade, padrões de relacionamento interpessoal intensos e instáveis, além de perturbações na autoimagem e comportamentos autolesivos (American Psychiatric Association, 2022).


Características clínicas 


A manifestação do TPB  tende a apresentar especificidades clínicas. De acordo com Zanarini et al. (2020), os pacientes frequentemente demonstram:

Instabilidade emocional severa, com episódios de disforia, irritabilidade e ansiedade reativos a eventos interpessoais;

Medo intenso de abandono, levando a comportamentos de reaproximação ou reações de raiva desproporcionais;

Relacionamentos interpessoais instáveis, marcados por idealização e desvalorização;

Impulsividade em áreas potencialmente autodestrutivas;

Condutas autolesivas e tentativas de suicídio como forma de autorregulação emocional (Paris, 2019).


Além disso, experiências adversas na infância, como negligência, invalidação emocional e abuso, são frequentemente relatadas, reforçando a concepção biossocial do transtorno (Crowell; Beauchaine; Linehan, 2019).


Estratégias familiares 


A atuação da família é essencial para o manejo eficaz do TPB. As principais estratégias incluem:

1. Psicoeducação estruturada: Promove compreensão e redução do estigma, além de aumentar a adesão ao tratamento (Lieb et al., 2020).

2. Treinamento em comunicação e validação emocional: Intervenções baseadas na Terapia Comportamental Dialética (DBT) mostram eficácia em melhorar a dinâmica familiar (Fruzzetti; Payne, 2020).

3. Estabelecimento de limites claros e empáticos: Favorece um ambiente previsível e menos reativo, com menos reforço a comportamentos desadaptativos.

4. Grupos multifamiliares terapêuticos: Permitem suporte entre famílias, troca de experiências e desenvolvimento de estratégias coletivas de enfrentamento (Hoffman; Fruzzetti; Swenson, 2022).

5. Promoção da autonomia da paciente: A superproteção pode reforçar a dependência emocional. Estimular a autorregulação emocional é essencial.

6. Atenção à saúde mental dos cuidadores: O suporte psicológico aos familiares é fundamental para prevenir esgotamento, frustração e sentimentos de impotência (Bailey; Grenyer, 2023).


Considerações finais


A mulher com TPB representa um desafio clínico importante, tanto no contexto individual quanto familiar. A participação ativa dos familiares em intervenções estruturadas favorece o prognóstico e contribui para a melhora da qualidade das relações e da convivência. O uso de estratégias baseadas em evidências é crucial para garantir acolhimento, estrutura e equilíbrio emocional para todos os envolvidos.


Referências (ABNT)


AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5-TR. 5. ed., texto rev. Porto Alegre: Artmed, 2022.


BAILEY, R. C.; GRENYER, B. F. S. Supporting families of individuals with borderline personality disorder: A systematic review of interventions. Journal of Personality Disorders, v. 37, n. 1, p. 1–15, 2023. 


CROWELL, S. E.; BEAUCHAINE, T. P.; LINEHAN, M. M. A biosocial developmental model of borderline personality: Elaborating and extending Linehan’s theory. Psychological Bulletin, v. 145, n. 6, p. 510–529, 2019.


FRUZZETTI, A. E.; PAYNE, L. Family involvement in the treatment of borderline personality disorder: A call to action. Borderline Personality Disorder and Emotion Dysregulation, v. 7, n. 1, p. 1–10, 2020.


HOFFMAN, P. D.; FRUZZETTI, A. E.; SWENSON, C. R. Dialectical behavior therapy with families. New York: Guilford Press, 2022.


LIEB, K. et al. Borderline personality disorder. The Lancet, v. 396, n. 10248, p. 1522–1531, 2020.


PARIS, J. Understanding borderline personality disorder: Development, psychopathology, and treatment. Oxford: Oxford University Press, 2019.


SKODOL, A. E.; MOREY, L. C.; BENDER, D. S. Personality disorders in DSM-5: Emerging research and clinical issues. Annual Review of Clinical Psychology, v. 17, p. 317–341, 2021.


ZANARINI, M. C. et al. The 10-year course of interpersonal features in borderline personality disorder. Journal of Personality Disorders, v. 34, n. 4, p. 465–479, 2020.

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