Os três continuam na conversa, agora aprofundando a reflexão sobre a função da arte e da poesia na sociedade e como essas formas de expressão podem influenciar o futuro.
**Zé Povinho:** O senhor falou em esperança, Sr. Manuel. Mas o que eu vejo por aí é muita gente sem forças até para esperar. A arte e a poesia são bonitas, mas como é que elas podem chegar a quem mais precisa?
**Manuel Rodas:** (Reflexivo) É verdade, Zé. A fome e a dor muitas vezes abafam o eco das palavras e das imagens. Mas a arte tem uma capacidade única de ultrapassar barreiras. Ela se infiltra nas brechas do coração humano, mesmo quando tudo parece perdido. A minha poesia tenta ser acessível, direta, para que qualquer um possa sentir o que escrevo, para que o sofrimento comum seja reconhecido e transformado em força.
**Rafael Bordalo Pinheiro:** (Acenando com a cabeça) Muito bem dito, Manuel. O meu Zé Povinho, por exemplo, é uma figura que fala diretamente ao povo. Ele não é apenas um símbolo, mas uma forma de comunicação. Não precisa de palavras rebuscadas para ser compreendido. E assim como eu criei o Zé para dar voz ao povo, tu usas a poesia para tocar a alma daqueles que talvez não saibam expressar o que sentem, mas que reconhecem as suas dores nas tuas palavras.
**Zé Povinho:** (Com um sorriso orgulhoso) Pois é, senhores. Parece que, no fundo, eu também sou uma obra de arte, não é? E se sou, é porque o Sr. Rafael me criou assim, com esse jeito simples, mas com muito para dizer. Mas me digam uma coisa: vocês acham que a arte e a poesia podem mesmo mudar o mundo? Ou será que só nos fazem sentir um pouco melhor enquanto a vida segue dura?
**Manuel Rodas:** (Com um brilho nos olhos) Zé, a arte e a poesia não mudam o mundo sozinhas, mas elas mudam as pessoas, e as pessoas mudam o mundo. A poesia é como uma fagulha, pode ser pequena, mas tem o poder de acender grandes fogueiras. Ela desperta o pensamento, a consciência crítica, e isso é o primeiro passo para qualquer mudança real.
**Rafael Bordalo Pinheiro:** (Com entusiasmo) Exatamente! E não nos esqueçamos de que, muitas vezes, os grandes movimentos sociais começaram com uma ideia, uma imagem, uma palavra que ressoou nas mentes e nos corações das pessoas. A minha obra sempre foi uma provocação, um convite para que as pessoas pensem sobre a sua realidade. O Zé Povinho é um espelho, mostrando as contradições e injustiças da sociedade. E quando as pessoas se reconhecem nesse espelho, algo muda nelas.
**Zé Povinho:** (Com um ar pensativo) Acho que entendi. A gente não pode esperar que a arte e a poesia façam tudo sozinhas, mas elas são como um empurrão, não é? Ajudam a gente a ver as coisas de outro jeito, a pensar em como a vida poderia ser diferente.
**Manuel Rodas:** (Sorrindo) Perfeito, Zé. A poesia, assim como o desenho, é um começo, um despertar. Ela inspira, questiona, e às vezes, até incomoda. Mas esse desconforto é necessário. Faz parte do processo de transformação. E é por isso que continuamos a escrever, a desenhar, a criar, mesmo sabendo que a mudança é lenta.
**Rafael Bordalo Pinheiro:** (Com convicção) E é por isso que o Zé Povinho continua a ser relevante, século após século. Porque ele representa essa luta contínua, essa insatisfação com o que está errado e essa esperança de que, um dia, as coisas podem ser diferentes. Enquanto houver injustiça, haverá necessidade de vozes que denunciem, que inspirem, que provoquem.
**Zé Povinho:** (Com um ar decidido) Então, que assim seja! Se a minha cara feia pode fazer alguém pensar, que o Sr. Manuel continue a escrever e o Sr. Rafael continue a desenhar. Vamos seguir juntos, cada um à sua maneira, fazendo o que podemos para que esse mundo não se esqueça de nós, os pequeninos.
**Manuel Rodas:** Ao Zé Povinho e a todos que, como ele, continuam a lutar, a sonhar e a resistir. Que a poesia e a arte sejam sempre nossas aliadas nessa jornada.
**Rafael Bordalo Pinheiro:** À criatividade, que nos mantém vivos e nos dá forças para enfrentar qualquer adversidade. Que nunca falte inspiração para seguirmos em frente.
A conversa termina com os três levantando os copos em um brinde, unidos pela crença no poder transformador da criatividade. Mesmo diante das dificuldades, eles reconhecem que a arte, seja ela visual ou poética, tem um papel fundamental na luta contra as injustiças sociais e na construção de um futuro mais justo.
Alexandre Inácio
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