sábado, 7 de setembro de 2024

Festa setecentista em Queluz

 



As feiras medievais, muitas vezes romantizadas em recriações modernas, são frequentemente lembradas como eventos alegres e coloridos, com comerciantes, espetáculos e banquetes. No entanto, ao analisar o contexto mais amplo da sociedade medieval, há muito a criticar, principalmente em relação à realidade brutal que elas encobriam.


### Guerra e violência


A Idade Média foi um período marcado por guerras constantes, sejam elas entre reinos, feudos ou contra invasões externas. Essas guerras afetavam diretamente a vida das pessoas comuns, que muitas vezes eram forçadas a lutar ou tinham suas terras devastadas por exércitos em campanha. O período de uma feira, embora pudesse parecer pacífico, era muitas vezes apenas uma pausa temporária em meio à violência. A guerra medieval não poupava os camponeses e trabalhadores, que sofriam diretamente com a destruição e o caos. Por trás das feiras, havia um sistema que perpetuava o sofrimento, onde os senhores feudais se beneficiavam das guerras e do controle militar, mas ofereciam pouca ou nenhuma proteção real ao povo.


### Escravidão e servidão


A escravidão na Idade Média, embora tenha assumido formas diferentes das praticadas em outros períodos históricos, era uma realidade crua. Muitos camponeses viviam em condições de servidão, uma forma de escravidão disfarçada. Esses servos eram obrigados a trabalhar para os senhores de terra, entregando grande parte de sua produção agrícola em troca de "proteção". No entanto, essa proteção era muitas vezes nominal, e os servos não tinham liberdade de escolha ou mobilidade social. Nas feiras medievais, a opulência dos comerciantes e senhores contrastava de forma gritante com a miséria da maioria da população, que vivia sob constante exploração.


### Abuso de poder


Os senhores feudais, que detinham o poder e a terra, eram responsáveis por proteger seus súditos. No entanto, muitos usavam essa autoridade para explorar e abusar das pessoas sob seu comando. Impostos exorbitantes, trabalho forçado e abuso físico eram comuns. Além disso, o sistema feudal permitia uma enorme desigualdade, onde os camponeses eram tratados como bens de propriedade. A justiça medieval, controlada pelos senhores, raramente favorecia os mais pobres, criando uma sociedade profundamente injusta. Nas feiras, enquanto os nobres se deleitavam em festas e competições, os camponeses continuavam sob o jugo de uma estrutura social opressiva, sem esperança de melhoria.


### Vida sem direitos


A vida medieval para a maioria era marcada pela ausência de direitos fundamentais. A lei era muitas vezes arbitrária e aplicada de acordo com os interesses dos poderosos. As feiras, por mais que representassem um momento de comércio e celebração, não podiam apagar a dura realidade de uma sociedade onde os direitos humanos, como os conhecemos hoje, eram inexistentes. As mulheres, em particular, sofriam com a falta de direitos, sendo frequentemente vistas como propriedades dos homens, tanto no casamento quanto no trabalho. Não havia proteção legal contra a exploração ou o abuso, e qualquer tentativa de contestação do poder estabelecido poderia levar a represálias violentas.


### Conclusão


Embora as feiras medievais possam ser vistas como um momento de alívio para alguns, elas mascaravam as profundas desigualdades e injustiças da sociedade medieval. A opressão feudal, a exploração dos servos, a ausência de direitos e as constantes guerras tornavam a vida medieval uma luta contínua para a maioria das pessoas. A imagem romântica de um período de celebração, portanto, é superficial e ignora as crueldades subjacentes de um sistema que beneficiava poucos à custa de muitos.

Alexandre Inácio








Fotografias de, Manuel Rodas.


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