sábado, 17 de agosto de 2024

Novo voo

 


Composicaofotográfica, MRodas



Novo Voo


Nasce o dia e o céu se abre,  

como um palco de luz, infinito e sereno,  

onde o velho e o novo se encontram  

num espelho de águas rebentadas.  

"Ó mar salgado, quanto do teu sal  

São lágrimas de Portugal!"  

Ecoa a voz de Pessoa,  

lembrando o preço do destino,  

do sonho de navegar pelo poema, além.  


Uma ave com suas cores vibrantes,  

ergue-se no ar, num gesto de renovação.  

Suas asas, em laranja fogo,  

pincelam o horizonte,  

desenham esperanças ainda não sentidas.  

"Quem quer passar além do Bojador  

Tem que passar além da dor."  

O poeta o diz, e o poema  o sente,  

pois só quem ousa voar,  

descobre novos sentidos.


Reflete-se no lago,  

onde o passado se desmancha,  

e o futuro aguarda em segredo.  

Suas penas brilham como aurora,  

cintilam promessas,  

no eco de um silêncio que há-de ser.  

"Todo começo é involuntário,  

Deus é o agente."  

Assim nascem os novos passos,  

de um voo que se faz poema,  

nos céus de uma alma errante.


E ao tocar o céu,  

ele dança com o vento,  

livre de amarras, de medos antigos,  

buscando o que é seu,  

no destino dos que ousam.  

"E se mais mundo houvera, lá chegara,"  

declara Camões, em versos eternos,  

e a lira, em seu esplendor,  

alcança nova luz e novos heróis.


É um voo para o desconhecido,  

um mergulho no próprio ser,  

onde o fim se encontra com o começo,  

num ciclo eterno de renascer.  

"O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,"  

Voa Pessoa ainda  mais além,  

em busca do rio que não tem nome,  

onde o sonho se encontra com a realidade.


Ave renovada de fulgor em cada sílaba 

carrega em suas asas a história,  

e convida a desenhar as letras  

rumo ao nosso poema de cada dia.

"Valeu a pena? Tudo vale a pena  

Se a alma não é pequena,"  

canta Pessoa, e a alma responde,  

no silêncio do voo,  

que todo começo é a promessa  

de um novo e eterno renascer.


Alexandre Inácio


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