Novo Voo
Nasce o dia e o céu se abre,
como um palco de luz, infinito e sereno,
onde o velho e o novo se encontram
num espelho de águas rebentadas.
"Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!"
Ecoa a voz de Pessoa,
lembrando o preço do destino,
do sonho de navegar pelo poema, além.
Uma ave com suas cores vibrantes,
ergue-se no ar, num gesto de renovação.
Suas asas, em laranja fogo,
pincelam o horizonte,
desenham esperanças ainda não sentidas.
"Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor."
O poeta o diz, e o poema o sente,
pois só quem ousa voar,
descobre novos sentidos.
Reflete-se no lago,
onde o passado se desmancha,
e o futuro aguarda em segredo.
Suas penas brilham como aurora,
cintilam promessas,
no eco de um silêncio que há-de ser.
"Todo começo é involuntário,
Deus é o agente."
Assim nascem os novos passos,
de um voo que se faz poema,
nos céus de uma alma errante.
E ao tocar o céu,
ele dança com o vento,
livre de amarras, de medos antigos,
buscando o que é seu,
no destino dos que ousam.
"E se mais mundo houvera, lá chegara,"
declara Camões, em versos eternos,
e a lira, em seu esplendor,
alcança nova luz e novos heróis.
É um voo para o desconhecido,
um mergulho no próprio ser,
onde o fim se encontra com o começo,
num ciclo eterno de renascer.
"O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,"
Voa Pessoa ainda mais além,
em busca do rio que não tem nome,
onde o sonho se encontra com a realidade.
Ave renovada de fulgor em cada sílaba
carrega em suas asas a história,
e convida a desenhar as letras
rumo ao nosso poema de cada dia.
"Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena,"
canta Pessoa, e a alma responde,
no silêncio do voo,
que todo começo é a promessa
de um novo e eterno renascer.
Alexandre Inácio
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