quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Lina

Sentada à espera de ti, sabia que voltarias

Nao sabia era quando
Nem como virias, embora eu te reconhecesse às escuras ou no inverno das tuas mãos frias

Sabia que voltarias

como esta mó dura volta sempre
esmagando os grãos e ferindo- me os dedos e a impaciência

Não sabia

era se eu estaria cá para te receber
Até quando eu me deixaria adormecer nas àguas a empurrarem esta mó...

Sem ti

fui vergando ao peso dos sacos
do grão e da farinha
que havia de ser pão

Sem ti

contei as horas e os grãos que iam caindo na adelha
um após um
presa na porta
para quando chegasses
eu estar acordada

Sem ti

imaginei ter filhos
dar-lhes o peito e o sono
a vida e a alegria

Quando chegaste

ainda não era tarde 
mas já o verão tinha terminado
para nós meu amor

Os teus olhos olharam-me cansados

e as tuas pernas fraquejavam
Até o abraço era contido
e os beijos nasciam secos

E o pior... não trazias vontade de nada eras um derrotado perdido, procuravas me para te encontrar

Nunca dizias meu amor ou querida...
Deixo-te o moinho

talvez assim me descubras
Deixo-te os sacos e a casa
para que os enchas

Levo apenas a roupa do corpo e um saco de grãos de milho

Vou procurar os filhos que não tive!
Adeus


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