domingo, 17 de janeiro de 2016

Cidade



Como tu,
eu não sou daqui
não  pertenço
nem obedeço
nem o vento me abriga.

Tenho o teu nome no cais
caravelas da minha ausência
em cada onda te vejo
em cada fado te vais.

Bairro descalço e leve
becos e ruelas das Índias
descendo degraus e colinas
cachos de rosas e corvos
onde  me abraçavas e me seguias.

Nos Becos do Imaginário
oscilam tuas naus
tricotadas de ondas e marés
muralhas de espuma e ais.

Praças de vermelho molhadas
sangue ou bandeira de ruelas
papoila e coração de astros
cabos desgarrados de caravelas.

Abraço-te, cidade ao por do sol
terra rasgada de noites a chorar
margens e rápidos dum rio azul
que em nós nasce do jacarandá e do mar.

Manuel Rodas
16-1-16



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