-
Então amigo, a que atribuis esses sintomas que referiste, tonturas,
alucinações, acordas de noite suado, intranquilo, ansioso...
- Ó
pá, saudades do nosso tempo de juventude... sabes lá... a vida de presidente
não é fácil. É o 2º mandato e é a primeira vez que sinto isto. Primeiro pensei
que fosse alguma partida da minha mulher, ou da minha secretária... sabes como
é... a carne é fraca e fiz coisas que
não devia... mas eu amo a minha secretária... ah! desculpa, a minha mulher...
- Da
última vez que falamos, vimos que eram receios infundados...
-
Pois parece que sim... não havia razão para isso. Nunca ninguém se referiu a
nada, nem a minha secretária, nem a minha mulher... mas agora começo a pensar
que me sinto nas mãos dos construtores... fui dizendo que sim, os gajos
entravam com a massa, as obras iam-se fazendo,
as despesas inflacionaram-se, eles iam enchendo os bolsos, pagavam as
contas do partido, os eleitores iam votando... mas agora estou na mão deles e
já ameaçaram que escolhem o meu vice, o Paulo, se não alterar o PDM e declarar
todo concelho como zona urbanizável... nem sei para que te estou a contar
isto...
- Mas
se não concordas porque aceitas isso?
- Ó
pá, não estás a ver... não estás a ver a
pressão de todos os lados... não era isto que eu queria quando comecei na
política, lembras-te? ... mas deixei-me enredar e agora? Tás a ver... aí começo eu a suar... a vista turva-se...
-
Qual é a voz que mais grita dentro de ti, a do sonhador que o presidente traiu,
ou a do presidente que teme ser deposto? Ou a do homem que tem medo de
estar a ver o amor a passar ao lado?
- A
minha vida está uma confusão... é verdade...
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