segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Diálogo

- Então amigo, a que atribuis esses sintomas que referiste, tonturas, alucinações, acordas de noite suado, intranquilo, ansioso...
- Ó pá, saudades do nosso tempo de juventude... sabes lá... a vida de presidente não é fácil. É o 2º mandato e é a primeira vez que sinto isto. Primeiro pensei que fosse alguma partida da minha mulher, ou da minha secretária... sabes como é... a  carne é fraca e fiz coisas que não devia... mas eu amo a minha secretária... ah! desculpa, a minha mulher...
- Da última vez que falamos, vimos que eram receios infundados...
- Pois parece que sim... não havia razão para isso. Nunca ninguém se referiu a nada, nem a minha secretária, nem a minha mulher... mas agora começo a pensar que me sinto nas mãos dos construtores... fui dizendo que sim, os gajos entravam com a massa, as obras iam-se fazendo,  as despesas inflacionaram-se, eles iam enchendo os bolsos, pagavam as contas do partido, os eleitores iam votando... mas agora estou na mão deles e já ameaçaram que escolhem o meu vice, o Paulo, se não alterar o PDM e declarar todo concelho como zona urbanizável... nem sei para que te estou a contar isto...
- Mas se não concordas porque aceitas isso?
- Ó pá, não estás a ver... não estás a ver  a pressão de todos os lados... não era isto que eu queria quando comecei na política, lembras-te? ... mas deixei-me enredar e agora? Tás a ver...  aí começo eu a suar... a vista turva-se...
- Qual é a voz que mais grita dentro de ti, a do sonhador que o presidente traiu, ou a do presidente que teme ser deposto? Ou a do homem que tem medo de estar  a ver o amor a passar ao lado?
- A minha vida está uma confusão... é verdade... 


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