quinta-feira, 8 de maio de 2025

A horta

 




A minha filha gosta de abacates. Nós também. 

Há uns anos começamos a comprar regularmente, mas surgiu a interrogação, o que fazer aos caroços. São a semente do abacate.

Começamos por pô-los em vaso e em canteiros e surpreendeu-nos, vimo-los corresponder à nossa expectativa- cresceram verdes e altaneiros!

Novo problema, para onde os transplantar, de modo a crescerem e desenvolverem-se e, quem sabe, retribuirem-nos com sombra e novos frutos? 

Procuramos, procuramos e, quase a desistir, reparamos num espaço, ao lado do parque de estacionamento, onde há muito,  os jardineiros da câmara tinham desistido de ajardinar e cresciam ervas e matos. Era um espaço pequeno, sem água e sem escadas de acesso. 

Admiramo-nos pois nunca tínhamos reparado o suficiente nesse espaço, mas como a necessidade aguça o engenho, ele ganhou novo significado e nova valorização.

Mesmo assim, comprei uma enxada e com tesouras e da poda e muita vontade, limpei o terreno, cavei-o e plantei os abacates. 

Com o verão à porta, foi preciso levar água ao balde, para que no verão não morressem. 

Já lá vão 5 anos e os dois abacates sobreviventes continuam a crescer e a prometer. O espaço já tinha um íbisco e um dragoeiro. Entretanto, plantei couves galegas, uma ameixoeira, uma figueira, três pitaias,  três maracujás, uma pêra melão, salsa, alecrim, ervas de S. Roberto, flores diversas e artemísia, que trouxe de Soajo.

Imaginei um sistema de regra, mas é muito escasso e as plantas não se desenvolvem o suficiente, pelo que, ou desisto da horta, ou encontro àgua. Mas onde? 

Tenho procurado e surgiu esta hipótese. 

Serei capaz de a montar sem recurso a letra idade?


A Warka Tower: Coleta Passiva de Água da Atmosfera

A Warka Tower é uma estrutura inovadora projetada para coletar água da atmosfera por meio da condensação de umidade, sem a necessidade de eletricidade. Inspirada em técnicas tradicionais e adaptada para comunidades rurais, ela utiliza materiais naturais e locais, como bambu e fibras vegetais, para sua construção.

🌿 Manual Ilustrado: Torre de Condensação Passiva para Família (Modelo Costeiro)


1. Estrutura Principal

 * Material: Bambu ou ripas de madeira.

 * Quantidade: 6 unidades.

 * Comprimento: 4 metros cada.

 * Montagem: Formar um hexágono com as estacas, unindo os topos no centro para criar um cone vertical.

2. Malha Condensadora

 * Material: Tecido de poliéster, nylon ou rede de sombra.

 * Dimensões: 6 tiras de 3,5 metros de altura por 0,8 metros de largura.

 * Instalação: Fixar cada tira entre duas estacas, inclinadas para direcionar a água condensada para o recipiente coletor.

3. Cobertura Superior

 * Material: Lona ou folhas naturais.

 * Dimensões: Círculo de 1,5 metros de diâmetro.

 * Função: Proteger contra chuva e manter a torre fria durante a noite, permitindo a circulação de ar.

4. Recipiente Coletor

 * Tipo: Balde de 20 litros ou recipiente de barro.

 * Posicionamento: Colocar no centro da base da torre, podendo ser enterrado parcialmente para maior estabilidade.

5. Amarrações

 * Material: Corda de sisal ou barbante grosso.

 * Utilização: Para unir as estacas no topo, fixar a malha condensadora e as travessas intermediárias.


Lista detalhada de materiais e custos estimados 


🛠️ Lista de Materiais e Custos Estimados


1. Estrutura Externa (Bambu ou Madeira)


Opção 1:

Preço:

Fornecedor: 

Opção 2:

Preço:

Fornecedor: 


2. Malha Condensadora (Tecido de Poliéster ou Nylon)


Opção 1:

Preço:

Fornecedor: 

Opção 2:

Preço:

Fornecedor: 


3. Cobertura Superior (Lona Impermeável ou Folhas Naturais)


Opção 1:

Preço:

Fornecedor: 

Opção 2:

Preço:

Fornecedor: 


4. Amarras (Corda de Sisal ou Barbante Grosso)


Opção 1: Corda de sisal 8 mm

Preço: 1,09 € por metro

Fornecedor: 

Opção 2: Corda de sisal para arranhadores (6 mm)

Preço: 17,50 € (quantidade não especificada)

Fornecedor: 


5. Recipiente Coletor (Balde de Plástico ou Pote de Barro)


Opção 1: Balde plástico 20 litros branco

Preço: 5,69 €

Fornecedor: 

Opção 2: Balde de plástico redondo com pegas vermelho 20 L

Preço: 5,59 €

Fornecedor: 


💰 Estimativa de Custos Totais


Item Quantidade Estimada Preço Unitário (€) Subtotal (€)

Cana de bambu (4 m) 6 unidades 4,25 25,50

Tecido de poliéster (10 m) 1 unidade 19,99 19,99

Lona impermeável (5 m²) 1 unidade 10,00 (estimado) 10,00

Corda de sisal (10 m) 10 metros 1,09 10,90

Balde plástico 20 L 1 unidade 5,69 5,69

Total Estimado 72,08


Nota: Os preços são aproximados e podem variar conforme o fornecedor e a região.


📝 Observações Finais


Materiais Locais: Sempre que possível, utilize materiais disponíveis localmente para reduzir custos e promover a sustentabilidade.

Adaptações: O design pode ser ajustado conforme as necessidades específicas da família e as condições climáticas locais.

Manutenção: 


Será que funciona? Serei capaz de fazer esta montagem? 

Logo veremos!


https://youtu.be/THJVuinPbc0?si=B4ucrA3LlGTXD8Rb







📘

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Morrer ou não morrer

 



Foto, MRodas



O meu amigo perdeu qualidade de vida e esperança na vida! Sofre atrozmente e pede que o ajude a morrer! O que devo fazer? Ajudá-lo a morrer, se é esse o seu desejo?

Compreendo profundamente a sua angústia e o sofrimento do seu amigo. Ouvir um pedido como este é incrivelmente difícil e coloca-o numa posição delicada. No entanto, mesmo que esse seja o desejo expresso pelo seu amigo, ajudá-lo a morrer não é a resposta e pode ter consequências legais e emocionais muito graves para si.

A lei em Portugal, assim como em muitos outros países, considera a eutanásia e o suicídio assistido como crimes. Além disso, mesmo que a intenção seja aliviar o sofrimento, retirar a vida de alguém é uma decisão irreversível que pode causar um profundo trauma em todos os envolvidos.

O seu foco principal neste momento deve ser garantir que o seu amigo receba o apoio adequado para lidar com a sua dor e desesperança. O pedido para morrer pode ser um grito de socorro, um sinal de que ele está a enfrentar um sofrimento insuportável que precisa ser aliviado de outras formas.

Reitero as ações cruciais que mencionei anteriormente:

 * Mantenha a calma e ouça ativamente: Deixe o seu amigo expressar toda a sua dor e frustração sem o interromper ou julgar. Valide os sentimentos dele e mostre que se importa.

 * Não se comprometa a ajudá-lo a morrer: Seja claro e compassivo ao explicar que não pode atender a esse pedido, mas que está determinado a ajudá-lo a encontrar outras formas de alívio e apoio.

 * Insista na ajuda profissional: Este é o passo mais importante. O sofrimento atroz e a perda de esperança podem ser sintomas de condições médicas ou de saúde mental tratáveis. Incentive-o fortemente a procurar:

   * Cuidados Paliativos: Se a dor estiver relacionada a uma doença incurável, as equipas de cuidados paliativos são especializadas em aliviar o sofrimento físico, emocional, social e espiritual, melhorando significativamente a qualidade de vida, mesmo em fases avançadas da doença. Eles podem oferecer controlo da dor eficaz, apoio psicológico e ajudar a encontrar significado e conforto.

   * Apoio Psicológico e/ou Psiquiátrico: A depressão, a ansiedade e outros problemas de saúde mental podem causar uma profunda desesperança e ideação suicida. Um profissional de saúde mental pode diagnosticar e tratar estas condições.

   * O Médico de Família: Ele pode ser o primeiro ponto de contacto para avaliar a situação e encaminhar para os especialistas adequados.

 * Ofereça o seu apoio prático e emocional: Mostre ao seu amigo que não está sozinho. Ofereça-se para o acompanhar a consultas médicas, para estar presente, para ajudar em tarefas diárias ou simplesmente para ouvir.

 * Esteja atento a sinais de perigo imediato: Se o seu amigo falar sobre planos específicos para tirar a própria vida, procure ajuda de emergência imediatamente. Contacte o 112 ou leve-o ao serviço de urgência de um hospital.

Lembre-se: O desejo de morrer muitas vezes surge de uma dor insuportável e da sensação de não haver outras soluções. Ao procurar ajuda profissional e oferecer o seu apoio, você pode dar ao seu amigo a oportunidade de encontrar alívio, esperança e uma melhor qualidade de vida.

Por favor, não hesite em procurar também apoio para si neste momento difícil. Conversar com outro amigo, familiar ou um profissional pode ajudá-lo a lidar com as suas próprias emoções. Como se sente agora? Há algo mais em que eu possa ajudar?


O que fazer antes de morrer

 

Foto, MRodas

O que fazer antes de morrer?

Olá! Receber uma notícia dessas deve ser incrivelmente difícil, e imagino o que será sentir uma mistura complexa de emoções.

Pensar em como ocupar o tempo nos restantes  anos é algo muito pessoal, e o que for importante para si será o mais certo. No entanto, posso partilhar algumas ideias que podem ser úteis como ponto de partida:

Focar no Presente e no Bem-Estar:

 * Aproveitar cada dia: Tente concentrar-se no aqui e agora. Pequenos prazeres diários podem ganhar um significado especial.

 * Cuidar de si: Priorize o seu bem-estar físico e mental. Isso pode incluir alimentação saudável, exercício leve (se se sentir capaz), descanso adequado e atividades relaxantes.

 * Explorar a natureza: Passar tempo ao ar livre pode ser muito reconfortante. Caminhe num parque, aprecie o mar ou simplesmente sente-se num jardim.

Conectar-se com Pessoas Queridas:

 * Fortalecer laços: Dedique tempo a familiares e amigos. Partilhe momentos, recordações e sentimentos.

 * Criar novas memórias: Planeie atividades significativas com as pessoas que ama. Uma viagem, um jantar especial, ou simplesmente passar tempo de qualidade juntos.

 * Procurar apoio: Não hesite em conversar com pessoas de confiança sobre o que está a sentir. O apoio emocional é fundamental.

Realizar Sonhos e Objetivos:

 * Lista de desejos: Pense em coisas que sempre quis fazer ou experimentar. Pode ser uma viagem, aprender uma nova habilidade, ou realizar um projeto pessoal.

 * Priorizar o que importa: Escolha as atividades que são mais significativas para si e concentre a sua energia nelas.

 * Celebrar conquistas: Reconheça e celebre cada objetivo alcançado, por menor que seja.

Deixar um Legado:

 * Partilhar a sua história: Considere escrever sobre a sua vida, gravar vídeos ou áudios para partilhar as suas experiências e sabedoria.

 * Trabalho voluntário: Dedicar tempo a uma causa que lhe seja importante pode trazer um grande sentido de propósito.

 * Criar algo duradouro: Pode ser uma obra de arte, um jardim, ou qualquer coisa que represente a sua passagem.

Explorar o Crescimento Pessoal e Espiritual:

 * Reflexão: Dedique tempo para a introspeção, para compreender os seus sentimentos e encontrar significado.

 * Práticas espirituais: Se tiver fé, aprofunde a sua conexão espiritual através da oração, meditação ou outras práticas.

 * Aprender algo novo: O conhecimento pode ser uma fonte de conforto e distração. Leia livros, faça cursos online ou explore temas que lhe interessem.

Considerações Práticas:

 * Planejamento: Organize as suas finanças e assuntos práticos para garantir que tudo esteja em ordem.

 * Apoio profissional: Considere procurar apoio psicológico ou terapêutico para lidar com as emoções e desafios deste período. Cuidados paliativos também podem oferecer suporte físico e emocional.

Lembre-se que não há uma maneira "certa" de viver este tempo. O mais importante é que as suas escolhas reflitam os seus valores, desejos e necessidades. Permita-se sentir todas as emoções que surgirem e procure apoio quando precisar. Deixe aqui os seus comentários que podem ser úteis a todos os que julgam que vão morrer brevemente! 

Até sempre!


sábado, 12 de abril de 2025

Transtorno de Personalidade Borderline

 

Foto, M. Rodas
Caldas Rainha, 2025





Transtorno de Personalidade Borderline : 

Características Clínicas e Estratégias Familiares de Manejo


Introdução


O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) é um dos transtornos de personalidade mais prevalentes em contextos clínicos, apresentando maior incidência em mulheres, especialmente em ambientes ambulatoriais e hospitalares (Skodol; Morey; Bender, 2021). Trata-se de uma condição caracterizada por instabilidade afetiva, impulsividade, padrões de relacionamento interpessoal intensos e instáveis, além de perturbações na autoimagem e comportamentos autolesivos (American Psychiatric Association, 2022).


Características clínicas 


A manifestação do TPB  tende a apresentar especificidades clínicas. De acordo com Zanarini et al. (2020), os pacientes frequentemente demonstram:

Instabilidade emocional severa, com episódios de disforia, irritabilidade e ansiedade reativos a eventos interpessoais;

Medo intenso de abandono, levando a comportamentos de reaproximação ou reações de raiva desproporcionais;

Relacionamentos interpessoais instáveis, marcados por idealização e desvalorização;

Impulsividade em áreas potencialmente autodestrutivas;

Condutas autolesivas e tentativas de suicídio como forma de autorregulação emocional (Paris, 2019).


Além disso, experiências adversas na infância, como negligência, invalidação emocional e abuso, são frequentemente relatadas, reforçando a concepção biossocial do transtorno (Crowell; Beauchaine; Linehan, 2019).


Estratégias familiares 


A atuação da família é essencial para o manejo eficaz do TPB. As principais estratégias incluem:

1. Psicoeducação estruturada: Promove compreensão e redução do estigma, além de aumentar a adesão ao tratamento (Lieb et al., 2020).

2. Treinamento em comunicação e validação emocional: Intervenções baseadas na Terapia Comportamental Dialética (DBT) mostram eficácia em melhorar a dinâmica familiar (Fruzzetti; Payne, 2020).

3. Estabelecimento de limites claros e empáticos: Favorece um ambiente previsível e menos reativo, com menos reforço a comportamentos desadaptativos.

4. Grupos multifamiliares terapêuticos: Permitem suporte entre famílias, troca de experiências e desenvolvimento de estratégias coletivas de enfrentamento (Hoffman; Fruzzetti; Swenson, 2022).

5. Promoção da autonomia da paciente: A superproteção pode reforçar a dependência emocional. Estimular a autorregulação emocional é essencial.

6. Atenção à saúde mental dos cuidadores: O suporte psicológico aos familiares é fundamental para prevenir esgotamento, frustração e sentimentos de impotência (Bailey; Grenyer, 2023).


Considerações finais


A mulher com TPB representa um desafio clínico importante, tanto no contexto individual quanto familiar. A participação ativa dos familiares em intervenções estruturadas favorece o prognóstico e contribui para a melhora da qualidade das relações e da convivência. O uso de estratégias baseadas em evidências é crucial para garantir acolhimento, estrutura e equilíbrio emocional para todos os envolvidos.


Referências (ABNT)


AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5-TR. 5. ed., texto rev. Porto Alegre: Artmed, 2022.


BAILEY, R. C.; GRENYER, B. F. S. Supporting families of individuals with borderline personality disorder: A systematic review of interventions. Journal of Personality Disorders, v. 37, n. 1, p. 1–15, 2023. 


CROWELL, S. E.; BEAUCHAINE, T. P.; LINEHAN, M. M. A biosocial developmental model of borderline personality: Elaborating and extending Linehan’s theory. Psychological Bulletin, v. 145, n. 6, p. 510–529, 2019.


FRUZZETTI, A. E.; PAYNE, L. Family involvement in the treatment of borderline personality disorder: A call to action. Borderline Personality Disorder and Emotion Dysregulation, v. 7, n. 1, p. 1–10, 2020.


HOFFMAN, P. D.; FRUZZETTI, A. E.; SWENSON, C. R. Dialectical behavior therapy with families. New York: Guilford Press, 2022.


LIEB, K. et al. Borderline personality disorder. The Lancet, v. 396, n. 10248, p. 1522–1531, 2020.


PARIS, J. Understanding borderline personality disorder: Development, psychopathology, and treatment. Oxford: Oxford University Press, 2019.


SKODOL, A. E.; MOREY, L. C.; BENDER, D. S. Personality disorders in DSM-5: Emerging research and clinical issues. Annual Review of Clinical Psychology, v. 17, p. 317–341, 2021.


ZANARINI, M. C. et al. The 10-year course of interpersonal features in borderline personality disorder. Journal of Personality Disorders, v. 34, n. 4, p. 465–479, 2020.