terça-feira, 23 de maio de 2017

Morro

Lentamente eu morro
Dissipo-me em partículas acres
Com sabor a pinhões
Nas névoas dilaceradas de impossíveis...

Morro
Como o vento apaga com areia
Os sulcos da cobra
Ou a noite invade alegria
Esvaida em cada dia!

Não quero, mas morro
No azedo dos teus olhos ácidos, doentes
Limão ressequido de ásperas noites
Frio, frio mesmo aqui
Onde era suposto
Arrancar o ultimo grito à serra
O derradeiro olhar ao dia
E no teu destino semear flores...

Morro! Morro agora, para viver depois!



segunda-feira, 22 de maio de 2017

Nós

"Nós, para os outros, apenas criamos pontos de partida."


Simone de Beauvoir

Aveiro 2017

O dia começou às 5 h eis 7 já estava apanhar o combóio na gare do Oriente.



Ainda deu tempo para umas fotos.




O Paulo estava ensonadamente admirar a paisagem.




A estação é linda.



Em Aveiro às 9H a admirar os clássicos!



O Barata e o Paulo Espiga já com muita luz pela frente! E não é que fomos dar uma volta de Chaimite, e eu que nunca andei de Chaimite. Não resisti e gritei: 25 de abril, sempre!






O Paulo também!




E depois foi desfrutar...





Ao almoço, sabem quem encontrei?
A junção do meu nome com o do meu irmão! Teve piada.



E Aveiro é bem a Veneza portuguesa...


Ainda deu temp para este grafiti









E por fim, ainda antes do leitão na Bairrada, saiu a assinatura!

segunda-feira, 15 de maio de 2017

O realinhamento da fronteira do Lindoso



page24image1472 page24image1632
Os conflitos fronteiriços
no Lindoso e o realinhamento da fronteira


“O Juiz e mais Oficiais da Câmara do concelho de Lindoso, em seu nome e de todo o Povo, representam a Vossa Alteza Real que no ano de 1773 os moradores dos lu­gares de Bao, de Compostela e Ludeiros, vizinhos à raia do Reino da Galiza, cortaram a maior parte das vinhas que os mo­ radores deste concelho possuem no sítio de S. Maria Madalena e leva­ ram as cepas em carros para o dito Reino (...). Desde aquele tempo até o ano de 1800, têm estes pobres moradores experimentado mil ruínas, como foi queimarem­lhe as casas que de tempo imemorial possuíam na­ queles montes, ou arruinarem­lhas fundamentalmente da mesma sorte, queimarem­lhe os colmeais, arrasarem­lhe as paredes e curros em que recolhiam os seus gados, etc., de que tudo, e da falta da pro­ dução das mencionadas vinhas, tem resultado aos moradores deste con­ celho um considerável dano que monta uns poucos de contos de reis, além dos insultos graves perpetrados em suas próprias pessoas. De tudo isto se tem dado a Vossa Alteza Real repetidas contas, por cuja causa têm vindo aqui vários Ministros, mas inutilmente (...)” (trecho de um requerimento provavelmente de 1800).

Inúmeras são as exposições, requerimentos e ofícios mostrando os antigos e contínuos desacertos entre os moradores do Lindoso e os da Galiza próxima, tanto ocorridos no monte da Madalena como na serra do Quinjo (actualmente Quinxo, em Espanha). A contenda ter­se­ia iniciado por volta do começo do segundo quartel do século XV, quando o alcaide­ ­mor do castelo do Lindoso vendeu a vacaria que tinha e os gados deixa­ ram de pastar, como sempre fizeram os dos seus antecessores, naquela parte portuguesa da serra. A desocupação desses terrenos, e a abundân­ cia de pastagens nas vizinhanças do Lindoso, deu lugar a que os galegos das aldeias próximas os ocupassem, sem oposição portuguesa. Porém, em 1538 procedeu­se ao tombo do termo de Lindoso, cujos resultados se re­ presentaram cartograficamente nos começos de Oitocentos, quando a ques­ tão se voltava a reacender, quer por Custódio José Gomes de Vilas Boas (1803), quer por Raimundo Valeriano da Costa Correia (1807). No entan­ to, não se conseguiu proceder então à demarcação, ora por falta de com­ parência dos comissários espanhóis, ora pela sua dilação. Não era só a serra do Quinjo que era motivo de discórdia, por pretenderem os galegos que o limite dos dois países passasse pelo rio Tibo ou Várzea (hoje, rio Castro Laboreiro); a questão era sobretudo nesta altura com o monte da Madalena, onde os moradores do Lindoso iam regularmente em romaria à capela aí existente e onde tinham vinhas, colmeias e campos agrícolas, mas que os vizinhos do outro lado pretendiam desalojar, estendendo o limite da fron­ teira para o rio Cabril.

Quando, em meados do século XIX, a comissão preparou a pro­ posta de demarcação, confrontava­se com a existência de vários limi­ tes: aquele que os espanhóis pretendiam (pelos rios Cabril, Lima e Castro Laboreiro); o marcado no tombo de 1538, que os portugueses reconhe­ ciam (que partia da Cruz do Touro, na serra do Gerês, descendo até à Pedra do Bozelo, ou Bozelho, e atravessando o Lima, subia ao Quinjo e ia paralelamente a este rio até à confluência com o de Castro Laboreiro; e, ainda, o anterior a este, abrangendo os terrenos outrora ocupados pelos alcaides do Lindoso e que os espanhóis haviam usurpado.
Apesar das memórias então apresentadas e das provas irrefutá­ veis, o comissário português aceitou a proposta espanhola a troco de compensações, com muitos agradecimentos de Bourman: este “era o terceiro presente” que Cabreira lhe oferecia (Vasconcelos e Sá, 1861, transcrito por José Baptista Barreiros, 1961­1965)! 
A solução final para o litigioso monte da Madalena, dirimido por via diplomática, viria a di­vidir o terreno questionado em duas partes iguais (veja­-se o artigo 4.o do Tratado de 1864), acabando a linha de fronteira por ficar posiciona­da a Este da capela, e não no rio Cabril, e seguir por onde pretendiam os espanhóis, na restante parte.

https://www.igeoe.pt/downloads/file143_pt.pdf
 page24image27528

terça-feira, 9 de maio de 2017

Simão Bolivar


Herói da História e dos povos
Herói dos meus sonhos de justiça
Ainda ouço a brisa que sopra da America do sul,
até ao meu canto, aqui na Ibéria...
A arte de vencer aprende-se nas derrotas
O governo mais perfeito produz a maior quantidade de felicidade possível,
maior quantidade de segurança social e maior quantidade de estabilidade política
O povo deve ser obedecido, até o momento que erra
É dificil fazer justiça a quem nos tem ofendido
A liberdade é a esperança do Universo

Grito: a liberdade é a esperança da liberdade!


MRodas

São verdes

Em cada nervura do teu corpo
Repousa o luar a seiva
Gota a gota
Em cada brilho
Olhar que alto vive!

Repousam no teu verde
Ávidos de luz
Os sonhos que não desistiram
e que a mim sempre tornam

Como o menino procura o seio da mãe
E a mãe o olhar do seu menino!


Manuel Rodas

terça-feira, 2 de maio de 2017

O Ramos

Partiste mensageiro
de todas as manhås
com as notícias frescas
das guerras e bombas, inundações e atentados, o deficit, as eleições...
O mundo passava do teu saco para a banca e da banca para as mão dos clientes...
Um sorriso, um comentário ao lado da bengala, enquanto mais uma bomba caía na Síria
Quando vamos à pesca, perguntava eu.
Um dia vamos. Apanhamos os peixes e fazemos uma petiscada.
E as bombas?
Guerras sempre houve.
Mas...lá longe, não é?
Aqui há corrupção, fome e desemprego
Há misėria...mas bombas não!
E as notícias?
Está ali o seu jornal, acolá na esquina...
Obrigado, amigo Ramos, obrigado!
E agora, quem traz as notícias?
A tua ausēncia não vem nas notícias
nem as notícias querem saber de ti, nem de mim.
As notícias querem bombas, mortes, sangue para vender
e quando não há, inventam:
O homem mordeu o cão...
Adeus, Sr. Ramos, adeus!

Manuel Rodas










Obs.
Passados 5 anos, num restaurante chinés, o meu amigo Rúben apresenta-me a namorada. Uns olhos brilhantes uma boca a abrir-se para o mundo , cabelos lisos e a vida estampada no rosto.
Mais conversa, menos conversa, o que interessa é que descobri a neta do Ramos! 
Como é possível?
Nem sabia que tinha uma neta! 
A vida é muito mais interessante que a morte. Um homem só morre quando morrer o último homem que o conheceu!

sexta-feira, 28 de abril de 2017

És tão linda!

Estão a ver aquela folha verdinha?
Não morreu, não morreu!
Ela sobreviveu...
está entre nós!
Milagre!

Vai crescer
Nunca será grande
Mas vai ter folhas e flores lindas!

A natureza ė linda
Como tu e eu...

Somos tão naturais!

Putas e vinho verde!





Lenda Negra de Linschoten
Não estamos esquecidos que uma das justificações dadas para a necessidade de um profundo ajustamento na economia e na sociedade portuguesas, ajustamento esse materializado num programa brutal de austeridade, que, em certa medida, ainda prossegue, foi a circunstância de Portugal, e o seu povo em particular, ter, ao longo de muito anos, vivido acima das suas possibilidades.
Esta acusação, que na verdade é um anátema racista, veio acompanhada de outras representações negativas dos portugueses, oriundas dos Think Tanks do centro da Europa,  segundo as quais no nosso país vive um povo de preguiçosos, de gente inábil e improdutiva, habituada a viver dos empréstimos que, com enorme sentido de caridade, os países ricos da Europa, onde milhões de portugueses carregaram tijolos e lavaram escadas por uma sopa e uma barraca, faziam o favor de conceder desinteressadamente.
Sabem os portugueses que tal acusação é uma falsidade que serviu apenas para conferir um carácter redentor ao brutal programa de ajustamento a que foram – e são – sujeitos, sacralizando o ofício – o sacrifício – de uma destruição económica, social, política e anímica sem exemplo, se exceptuarmos os tempos de guerra.
O que a maioria dos portugueses não sabe é que esse anátema sobre eles lançado pelos países da Europa Central, tem cerca de cinco séculos e foi criado por um espião holandês que soube infiltrar-se na Coroa portuguesa como guarda-livros de um missionário católico e roubar valiosíssimos segredos náuticos, cartográficos, políticos, estratégicos e outros, que viriam a permitir a holandeses, ingleses e franceses ocupar a posição que Portugal detinha na geografia civilizacional do Oriente. 
Mas, mais do que isso, Jan Huygen van Linschoten, holandês convertido ao Protestantismo, autor do Itinerário, Viagem ou Navegação para as índias Orientais ou Portuguesaspublicado pela primeira vez em Amesterdão no ano de 1596, deu início ao que vira a ser, nos séculos seguintes, um conjunto de ondas de choque da Lenda Negra sobre Portugal e a Europa do Sul, incluindo a Espanha, a Itália e a Grécia, cimentadas por filósofos eminentes como Kant ou Hegel. 
O Itinerário de Linschoten foi imediatamente objecto de várias traduções em latim, inglês, alemão e francês, adquirindo um estatuto ímpar enquanto fonte autorizada sobre o império português na Ásia e elaborando a imagem que passaria a identificar Portugal, e o conjunto dos países do sul da Europa, junto dos povos Protestantes.
A principal crítica que a Lenda Negra de Linschoten aponta aos portugueses que navegaram até à Índia no século XVI é a mestiçagem, acusando-os de imitar os hábitos e os costumes dos territórios que conquistavam, casando com mulheres locais e com elas gerando crianças amarelas, que à terceira geração “parecem ser indianos na cor e na feição”. 
Este facto, juntamente com a sensualidade e a luxúria de que eram acusados, faria dos portugueses um povo de preguiçosos, inapto para a conquista e governo dos territórios colonizados e, por via disso, por via da extrema dificuldade que demonstravam no domínio de si e das suas paixões, inaptos também para o governo de si próprios.
Kant chegou ao ponto de afirmar que a mistura de sangue que caracterizava os povos ibéricos, por via da proximidade com África e dos contactos permanentes entre diferentes geografias,  culturas e civilizações, tornava muito difícil defender que portugueses e espanhóis fossem, de facto, europeus. 
O filósofo alemão afirmava, pelo contrário, a existência de uma diferença civilizacionalresultante de uma diferença rácicaque colocava os povos ibéricos num patamar de desenvolvimento inferior e explicava o seu estado de decadência.
A Lenda prossegue. 

Contrapomos a essa visão a Mensagem de Fernando Pessoa