terça-feira, 2 de maio de 2017

O Ramos

Partiste mensageiro
de todas as manhås
com as notícias frescas
das guerras e bombas, inundações e atentados, o deficit, as eleições...
O mundo passava do teu saco para a banca e da banca para as mão dos clientes...
Um sorriso, um comentário ao lado da bengala, enquanto mais uma bomba caía na Síria
Quando vamos à pesca, perguntava eu.
Um dia vamos. Apanhamos os peixes e fazemos uma petiscada.
E as bombas?
Guerras sempre houve.
Mas...lá longe, não é?
Aqui há corrupção, fome e desemprego
Há misėria...mas bombas não!
E as notícias?
Está ali o seu jornal, acolá na esquina...
Obrigado, amigo Ramos, obrigado!
E agora, quem traz as notícias?
A tua ausēncia não vem nas notícias
nem as notícias querem saber de ti, nem de mim.
As notícias querem bombas, mortes, sangue para vender
e quando não há, inventam:
O homem mordeu o cão...
Adeus, Sr. Ramos, adeus!

Manuel Rodas










Obs.
Passados 5 anos, num restaurante chinés, o meu amigo Rúben apresenta-me a namorada. Uns olhos brilhantes uma boca a abrir-se para o mundo , cabelos lisos e a vida estampada no rosto.
Mais conversa, menos conversa, o que interessa é que descobri a neta do Ramos! 
Como é possível?
Nem sabia que tinha uma neta! 
A vida é muito mais interessante que a morte. Um homem só morre quando morrer o último homem que o conheceu!

Sem comentários:

Enviar um comentário

Seja crítico, mas educado e construtivo nos seus comentários, pois poderão não ser publicados. Obrigado.