sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Xeque mate

 


**Rei (com um suspiro profundo):**  

"Interessante como sempre olhamos de cima, esquecendo que o poder é sustentado pela base. Eu, cercado de cavalos, bispos e torres, acreditei que minha segurança era inquebrável. Mas veja só, todos caíram, e aqui estou, à mercê de um simples peão. O que você sabe de poder, pequeno? O que pode um peão, diante de um rei?"


**Peão (com um olhar firme, mas sem arrogância):**  

"Majestade, o que sei sobre poder? Sei que, enquanto os grandes se movem com grandiloquência, confiantes de que o tabuleiro os pertence, os pequenos movem-se em silêncio, passo a passo, tecendo suas próprias rotas. O meu poder está no avanço, na persistência, na paciência eorganização. Enquanto os grandes se distraem com suas batalhas, os pequenos seguem firmes, ocupando espaços que antes eram ignorados. É assim que chegamos aqui."


**Rei (com uma amargura contida):**  

"Então é isso? O meu fim? Um xeque-mate nascido da paciência de um peão? Toda a glória de um rei, reduzida a este momento. E pensar que, ao longo do jogo, sempre olhei para vocês como meras peças de sacrifício."


**Peão (calmo, mas determinado):**  

"Majestade, será que não entende? Somos mais que peças de sacrifício. Quando lutamos em conjunto, quando temos uma estratégia clara, podemos virar o jogo. O poder não é exclusivo dos que possuem grandes movimentos ou posições elevadas. O verdadeiro poder está na coletividade, no trabalho incansável que muitas vezes não é visto até que seja tarde demais. O senhor pode ser o mais poderoso no início, mas cada passo que dei trouxe-me até aqui."


**Rei (com um leve sorriso melancólico):**  

"Há uma ironia amarga nisso tudo, não há? Eu, que sempre fui protegido, sou derrotado por aquele que sempre esteve exposto. Eu, cercado de aliados, encontro-me sozinho, enquanto você, sempre avançando solitariamente, se une à força de seus iguais. Talvez o poder não seja algo que possamos realmente possuir, mas algo que nos é emprestado por aqueles que nos sustentam."


**Peão (com sabedoria):**  

"Os reis dependem dos seus súbditos, Majestade. Mas às vezes, os súbditos também precisam encontrar seu próprio caminho. E quando o fazem, podem ser imparáveis. Esta é a natureza do jogo, tanto no tabuleiro quanto na vida. O que parece pequeno e insignificante pode se tornar a força que derruba impérios."


**Rei (com um olhar sereno, aceitando o inevitável):**  

"Você tem razão. Subestimei o poder dos pequenos, e agora compreendo tarde demais. Meu fim não é apenas uma derrota, é uma lição que ecoará. Quando o xeque-mate vier, que seja rápido. E que os reis futuros jamais esqueçam essa lição."


**Peão (dando o golpe final com respeito):**  

"Eu também sou parte de algo maior, Majestade. É que com este gesto , nunca mais teremos necessidade dum rei! Viva a república! Xeque-mate."

Alexandre Inácio 

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Essa continuação aprofunda ainda mais a reflexão sobre a dinâmica entre os poderosos e os que ocupam posições humildes. A conversa revela que o verdadeiro poder nem sempre está onde se espera, e que aqueles que parecem frágeis podem ser os agentes da maior mudança, quando atuam com paciência, inteligência e união. O rei, em seus momentos finais, reconhece que a arrogância de quem está no topo pode ser sua ruína, enquanto o peão, sem jamais buscar glória, triunfa por ter seguido um caminho firme e coletivo.

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