segunda-feira, 13 de maio de 2024

Se soubesses

 




Se soubesses 

O que é adormecer amarrado à obscuridade da angústia, uma mancha ocre da pélvis à garganta 

Que

Me arremessa contra paredes duras frias e mudas

As pernas suportam esta dureza 

Que

Me puxa mais paranoico para a ansiedade mórbida, onde o terror sou eu

Porque

Julga 

Que eu desconheço a negrura ácida deste tempo e deste espaço

Não é a revisitação que me atormenta

Mas sim

Saber me incapaz de sair dela!

O muro está sempre lá

Seja na pintura

Na fotografia

Na poesia

Na ciência

Ou na religião

O muro sou eu, com breves aberturas para acicatar mais o desejo e a impossibilidade de sair 

Daqui

Desta angústia que não é raiva

Angústia que não é viver

Angústia 

Que

É um escorrega para a morte! 

Tudo enquanto durmo!

Porque ao acordar

Deixo o muro para trás e procuro as fendas onde minha alma voa 

solene breve liberta até ao próximo sonho acordado.

Pedras soltas e espinhos sem esperança no caminho

Chuva chuva e frio na palma da alma

Que

Arde num crepitar de tristeza e volúpia 

Vento gelado a cortar todo corpo que resta

A mente dispersa à toa a vaguear pelos infinitos dormentes

A desfazer se no córrego para o esgoto.


Manuel Rodas


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