terça-feira, 27 de junho de 2023

Sobreviventes


Não nasceram para vir morrer no mediterrâneo, 

não cantaram a lua e o deserto, nem a fera ou o orvalho, para verem a Europa, ao longe, e depois morrerem afogados.

Tinham um sonho

igual ao dos poetas e artistas, trabalhadores ou cientistas.

Queriam saber se o mar tinha fronteira, se havia costa do outro lado.

Queriam uma vida e um mundo melhor.

Para isso, reuniram as posses das famílias e com avisos de cuidados

fizeram-se ao mar

e o mar não se fez neles.

Não foi o mar a matá-los, foi quem gerou a miséria,  quem escondeu a verdade e espalhou promessas de farturas inexistentes. 

Foram aqueles que golpearam a terra, sacaram os diamantes, roubaram as florestas, mataram e escravizaram.

 Sim, foram esses que agora os deixaram morrer na água do Mediterrâneo, 

e os deixam morrer em todas as águas,

 ou no deserto do México,

 ou nas guerras que matam em todo o lado!

Foram as pedras e as algas que desenharam o seu retrato, para não esquecermos,

Para nos lembrar  que somos nós que estamos a morrer, matando!








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