A visita a um simulacro de uma sala de aula antiga, numa escola Conde Ferreira, em Setúbal, deixa-me no peito, um conjunto de interrogações:
1. Quem foi o Conde Ferreira que deixou várias escolas e hospitais no nosso país? Um comerciante, traficante de escravos! Não um ou dois, mas 10 mil, de África para o Brasil! Sobre isso não há nenhuma indicação ao visitante! Silêncio puro!
2. Porquê a figura masculina de professor, quando na grande maioria eram mulheres as professoras, no Portugal de Salazar? E ainda hoje são a maioria, embora em menor percentagem!
3.São expostas várias máquinas de escrever- que a foto não mostra- mas a sua entrada na escola nunca se deu, exceto nas secretarias. A escola passou do giz e lápis para os computadores, num salto enorme, que a impede ainda agora, de saber utilizar a informática na sala de aula, sendo os telemóveis mais uma ameaça do que um recurso educativo.
4. A escola tradicional não tinha memória, não restando quase nada da sua actividade diária e ao longo dos anos em que funcionou. Nem uma breve explicação porque esta escola era masculina, porque tinha por trás a residência da professora, porque as janelas eram tão altas, porque o quadro preto era tão grande e tinha um estrado, porque o professor tem uma cana da Índia na mão, o que era a régua com cinco buraquinhos, porque as carteiras estavam alinhadas, etc...
5. As poucas fotos existentes - fotocópias- foram oferecidas por antigos alunos, aos quais invade um sentimento de nostalgia da sua infância, com má memória do ensino e da repressão que aí reinava, a exemplo de todo o país!
6. Neste espaço batizado de Centro de Recursos Educativos realizam-se outras atividades de animação sociocultural, exposições e cursos breves, o que me parece bem, que seja mais um espaço de animação que de mera exposição com o cheiro e pó do passado.
Conclusão
Não basta abrir um espaço com meia dúzia de artefactos e dizer que está aberta das tantas às tantas, colocar lá um funcionário e dizer que é um Centro de Recursos Ecucativos.
Era importante ser mais coerente com o que se apresenta, havendo o cuidado de o situar no contexto sociológico da época, tendo, para isso, de se proceder às investigações necessárias, de modo a que o visitante saia com um conjunto de informações , permitindo uma reflexão sobre o que visitou, exercitando o seu poder crítico de cidadão informado e interveniente! E possa compreender melhor o papel da escola na construção duma sociedade autoritária e numa sociedade democrática, o presente e a luta dos professores por uma educação de qualidade!
A recolha de histórias e fatos entre os antigos alunos poderia complementar este trabalho.
Pode ser que esta reflexão seja útil. Para mim, ajudou a recordar a diferença entre saudade e nostalgia. Saudade é quando o passado foi melhor que o presente. Temos saudades das coisas boas porque passamos e, que agora, já não podemos desfrutar. Nostalgia quando o passado foi pior que o presente, mas por ser uma etapa marcante da nossa vida, quando a recordamos gera um sentimento de admiração melancólica! É o que acontece quando visitamos uma escola que frequentamos nos anos 60...
Deve ser esse sentimento que muitas pessoas referem, quando dizem que no passado é que era bom. Ou eram muito privilegiados ou, então, confundem saudade com nostalgia!
MRodas
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