terça-feira, 11 de janeiro de 2022

A fotografia

 



A minha irmã enviou-me esta foto, recentemente. Retrata umas férias de verão na praia norte, em Viana do Castelo, no início anos 70.
O nosso olhar está dirigido à fotógrafa, uma colega da minha irmã, enquanto ao fundo, numa linha oblíqua, a fronteira entre o mar e a areia da praia.
A minha irmã e o meu irmão têm um ar mais pousado, tranquilo, ela repousa a mão no joelho direito, ele apoia mão direita nas pernas e a mão esquerda apoia a bola ou apoia-se na bola, como a dizer, agora bola não, agora é para a fotografia.
Eu tenho um ar mais intranquilo, de quem interrompe algo, para vir tirar uma foto. Pronto para voltar a jogar à bola.
O nosso olhar começa por fixar-se no meu rosto, descai em diagonal para a direita, passa pela figura feminina, matriarcal e maternal, e  termina na criança e na bola.
O conjunto forma um triângulo recto, com uma hipótenusa equilibradora, unindo os dois lados e dando consistência ao conjunto. Por tudo isso, para além das gratas e saudosas recordações que subjazem, esta é uma bela foto, a preto e branco, das nossas memórias.
Contudo, esta fotografia está incompleta. A fotografia não diz como aparecemos aqui na praia, nem refere os elementos que faltam.
Estas férias devem-se à generosidade da minha irmã, que alugou uma casa e com mais 3 colegas (professoras),
nos proporcionou umas belas férias, na praia, no seu primeiro ano de trabalho, em Soajo.
Nesta fotografia falta um irmão nosso, que desde muito cedo viveu afastado do conjunto da família, primeiro, vivendo com a minha tia Adelina e depois, com 14 anos, foi trabalhar para Lisboa e com 16 emigrou para França,  vindo cá, apenas, nas férias e em anos alternados. Quando regressou já as nossas rotas nos tinham dispersado, eu para Lisboa, a minha irmã para Gondoriz com sua família e o mais novo, o Zé, para Paris, seguindo as pégadas do mais velho.
O meu irmão não esteve presente na maior parte da nossa juventude. Isso deixou uma saudade, uma ausência, cuja falta perdura, dolorosamente, até hoje. Isso, a fotografia não pode mostrar, apesar de ser uma bela fotografia da nossa juventude, onde os sonhos podem acontecer! Nessa altura, por fatores e dinâmicas divergentes, o meu irmão Firmino, não esteve presente, nem nós estivemos presentes nas suas deambulações itinerantes por Mem Martins e por Paris! O que resta? Uma imensa saudade, uma falta, uma ausência que a vida toda nunca preencheu, nem preencherá!
Por isso, esta fotografia esconde mais do que mostra! 
Há fotografias assim!





O Hillman, o primeiro carro da minha irmã, um verdadeiro carro de assalto!



2 comentários:

  1. Imenso interesse no relato de Manuel Rodas

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  2. Anónimo8/24/2022

    Como me lembro de vocês assim e do carro tantas vezes em 1972 quando íamos tomar o pequeno almoço a Braga na BENAMOUR, os famosos Russos (folhado com uma boa altura de creme branco no meio) com a tua irmã Rosa
    SAUDADES muitas

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