sábado, 2 de maio de 2020

Os penteados e o covid

Agora que os barbeiros e os cabeleireiros estão fechados, lembro-me do grande Nicolau Tolentino, quando nos meus 17 anos ouvi pela primeira vez este poema, que nunca mais esqueci.

Sátira aos Penteados Altos

Chaves na mão, melena desgrenhada, 
Batendo o pé na casa, a mãe ordena 
Que o furtado colchão, fofo e de pena, 
A filha o ponha ali ou a criada. 

A filha, moça esbelta e aperaltada, 
Lhe diz coa doce voz que o ar serena: 
- «Sumiu-se-lhe um colchão? É forte pena; 
Olhe não fique a casa arruinada...» 

- «Tu respondes assim? Tu zombas disto? 
Tu cuidas que, por ter pai embarcado, 
Já a mãe não tem mãos?» E, dizendo isto, 

Arremete-lhe à cara e ao penteado. 
Eis senão quando (caso nunca visto!) 
Sai-lhe o colchão de dentro do toucado!... 

Nicolau Tolentino, in 'Antologia Poética' 

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