O poeta
Cheguei da caçada exausto da dificuldade de
ver e sentir. Deitei-me na caverna a sonhar com
antílopes, cavalos e bisontes
Foi com o sangue deles e com
o meu que pintei as paredes
A natureza trouxe a fome e a fartura, a vida e a morte
Fiz dos passos em terra molhada
a cadência do teu pulsar
e com o dedo molhado de sangue menstrual
desenhei os sulcos do teu rosto
nas paredes frias da caverna que eu sou
O poeta nasceu aí
algures entre as noites estreladas e os gritos de guerra e caça
sombras do tempo desenhadas na pele de todas as mulheres
a memória da nossa tribo
no leite de filhos amamentados
e nos beijos de homens sôfregos de carne e flores
O poeta começou por desenhar todas as promessas realizadas
e na falta de pedra e abundância de sangue
desenhou palavras e...sorriu com sede de maçãs
Tinha inventado aos olhos da tribo
o maior paraíso do mundo, desde as cavernas até o pós atómico
desde as cavernas da alma, ao fogo das estrelas
O poeta esmagou as pedras na mão
e com sangue e pó reinventou o poema!
MRodas
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