sábado, 11 de abril de 2020

A esfinge






Diálogos com a esfinge




Tu não és humana
 e a ti nenhum vírus te pode fazer mal
Que segredos escondes e que sabes tu de nós
nesta ilha onde atracamos
e que Ulisses ignorava
mesmo sabendo que Penélope o esperava?

Mas quem nos espera a nós
um vírus
saliva dum deus imaturo
ou lágrima duma deusa possuída por um humano?

Nada sabes sobre o amor
muito menos sobre a maternidade
a inquietação de estar vivo e não querer morrer ainda

Tu foste  inventada por uma mulher 
que esperou pelo seu companheiro
e não quis reproduzir em ti as dores sentidas
apenas as carícias
que a memória conservou do amante

A mulher mesmo de noite 
quando pousava a mão em ti
era nele que sentia a volúpia dos seus gestos

Agora inventaste um silêncio
como o vírus
todos falam dele
mas és tu que morres
com o arco do desejo nas mãos.



Manuel Rodas



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