Histórias
desde ontem até hoje
Manuel Preto
Rodas, o Marujo, é já pai de dois filhos da primeira esposa e após o
falecimento desta, casa com Ana de Sousa, com a qual tem dois filhos, José e
António. O primeiro filho deste segundo casamento, José de Sousa Rodas nasce a
18 de abril de 1918.
Dez dias
depois levanta-se cedo e com mais três vizinhos, deixam o lugar da Várzea,
dizem um adeus até já, ao rio de Castro Laboreiro, atravessam os contrafortes
da Serra de Soajo e após quatro horas de viagem e uma pausa para uma bucha,
chegam a Cabana Maior onde depositam os seus votos nas urnas respetivas,
elegendo deste modo os 155 Deputados para a Câmara dos deputados e
49 Senadores para o Senado. Dobram o terceiro boletim de voto e
participam na única votação direta durante a primeira República, para um
Presidente da República Portuguesa.
Durante as
oito horas de viagem a pé, quatro na ida e outras quatro no regresso, têm tempo
para falar de tudo que os preocupa e os anima, numa terra sem estrada, sem
eletricidade, sem médico, dependentes da resistência de cada um e da
solidariedade de todos.
Quando
chegam a suas casas, já noite, trazem na cabeça a confirmação dos desejos duma
vida melhor e a certeza que o poder emana do povo e não do Rei, e uma forte
convicção na alma: é preciso que o povo queira assumir esse poder e participe
na construção dum mundo novo. Como? Através das letras e da instrução!
Manuel Preto
Rodas organiza, ao fim do dia e aos domingos, na sua varanda virada para o
caminho público, sessões de aprender a ler e a escrever, para quem o desejar.
Na
mesma data, 1918, Dr. Bernardino Machado, Presidente da Republica Portuguesa
inaugura em Benfica, Lisboa, a Escola Normal Primária de Lisboa.
Após algum
tempo, Manuel Preto Rodas reconhece para si próprio que a tarefa é demasiada e
o resultado é pouco, pois os alunos ficam-se pelo nome próprio e pouco mais. Constatada
a indiferença do poder municipal e do Estado, perante os sucessivos apelos para
a construção duma escola primária, fala com os vizinhos e decidem eles próprios
construir a escola, na esperança que o Estado haveria de lá colocar uma
professora. Aos domingos, após o almoço é vê-los a abrir os caboucos, cortar a
pedra emparelhá-la e erguer uma casa igual às suas, uma porta e duas janelas. A
alegria e a certeza do caminho a percorrer suaviza o esforço e atenua o cansaço.
O Estado após muita insistência acaba por colocar uma regente escolar.
Trinta anos
depois, o filho, José de Sousa Rodas é o correspondente do jornal regional de
Arcos de Valdevez, A Vanguarda, desde 1948 a 1972. Através das suas crónicas
quinzenais, informa, divulga e esclarece os assinantes, emigrantes espalhados
por todas as regiões do mundo, contribuindo para a sua ligação ao torrão natal,
à ascentral cultura serrana. Continua a querer um mundo melhor e um Soajo
grande![1]
Este jornal é em muitas casas o único material impresso. Da compilação dessas
crónicas, o neto de Manuel Preto Rodas, Manuel Rodas fez a sua edição e
publicação (2014) com o nome Por Soajo,
(Ed.Apenas) por ser dessa forma que começavam as suas crónicas.
80
anos depois das eleições republicanas de abril de 1918, do nascimento do seu
filho, José, e das primeiras lições de ler e escrever na sua varanda, o mesmo
neto de Manuel Preto Rodas, é Professor na Escola Superior de Educação de
Lisboa, no mesmo edifício inaugurado por Bernardim Machado, em Benfica, em
1918. Continua a querer um mundo melhor, mais fraterno e solidário... e deseja
contribuir para a preservação da identidade cultural soajeira.
97
anos depois, 2015, pela mão do mesmo neto e em edição de autor, é publicado o
livro Manual de Ramil, terra e saudade (ed.
autor)!
99 anos
depois, (2017) o mesmo autor publica Cartas
de amigo e malviver, na editora Alfarroba.
Manuel Rodas
Amadora,
após uma apresentação aos alunos dum autor de Banda desenhada, José Ruy,
convence este a fazer um livro sobre o Juiz de Soajo. A publicação foi feita
pela editorial Notícias e com apoio da Junta de Freguesia de Soajo.
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