Partiste, Maria!
(Fiquei mais só! Eu já estava só!)
Tenho pena nunca te ter dito, nem gritado
o que era chegar à Várzea e sentir um abraço
de ternura desconhecida e familiar
onde o vento se deita em mim,
quente como o caldo em
noites frias
ou tão fresco como o sorriso duma criança
a comer espigas assadas ao borralho!
Com o teu olhar sorridente
abraçavas a família toda,
enchias os dias e a aldeia,
em cestos de amizade e generosidade.
Com um sorriso farto, essencial e grande,
lavravas a distância entre os dois
em regos no mais fundos do nosso ser
que me deixavam nú e lúcido perante mim.
Como as águas da barragem eram tao secas e poucas
comparadas à ternura quente dos teus olhos!
Raio de vida!
Contigo não havia mais fronteira:
os de Olelas, eram irmãos dos de cá!
Não havia Teso do Inimigo
e a masseira era grande para todas as bocas,
no borralho ardia o fogo que purificava
enorme para todos os que padeciam.
No teu avental preto cabiam
todas as flores da Saramagueira ao Quinjo!
O que farei agora
quando voltar à Várzea
e tu já lá não estarás
com o pão e o vinho na mão
para me abraçar na ternura
mais quente do teu sorriso?
O que farei agora, Maria?
O que farei , agora, irmã?
É isto que direi a nossos filhos
à procura do mesmo calor que em nós semeaste
como profeta do tempo que há-de vir!
É isto que repito a mim próprio
até que o silêncio me tome e leve!
Oeiras, 13 maio 2016-05-13
Manuel Rodas
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