quinta-feira, 12 de junho de 2014

O adeus de Alexandre


  
(À Martine M.)



















Na noite mais densa de luar
Os nossos olhos turvaram-se de rigoroso amor.

Tu podias ficar presa comigo ao dia
Ajudando-me a incendiar
Todas as promessas de Abril florido.

Sim, podias ficar sentada
Na minha cadeira inventada
Onde a liberdade subia dos olhos às mãos
E uma promessa de amor bem soletrado
sem medo, alegre, se descobria.

Sim, podias ficar nesta cama comigo

Acordada na puríssima madrugada
Ensinar-me a prolongar de dia
As sementes contra a miséria desigual
violenta, brutal, no meu país!

Sim podias ficar livre comigo
E com a luminosa manhã doce de Abril
Ver os cravos nas espingardas a sorrir
Derrotar a grande negra besta dor vegetal.

Sim, tu merecias esta cidade
Esta promessa luminosa
De sorrirmos por aí abraçados
A outros como nós, desiguais
Num constante sentido e razão
De rituais bem aventurados.

Sim, merecias esta cidade aventureira
Onde o amor canta o fado com a mesma intensidade
Terna e lancinante
Como o adolescente morre de saudade
Por ti!


Oeiras, 2014-06-12
Manuel Rodas



1 comentário:

  1. Comovente e belo. Reportou-me aos gloriosos tempos da grande madrugada das nossas vidas que nos trouxe a liberdade plena. Era um amor maior que se juntou por entre as gentes do meu (nosso) país. E foram tão felizes esses dias, e a Esperança por um mundo melhor, em liberdade, veio florir os nossos dias. Para sempre! Abril presente! Para sempre!

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