domingo, 23 de fevereiro de 2014

Presidentes proverbiais


Finalmente mudara o presidente da Junta da freguesia.
 O último estava sempre a dizer Pedra que rola, não cria limo. Às vezes queria ser original e dizia, Pedra que rola, não cria limo! 
Mas quando pretendia ser mesmo, mesmo original, então trocava as partes dos provérbios e podia-se ouvir, cão que ladra, não mente! Em dias de festa, com disposição mais refinada trocava mesmo a ordem: Papo a papo, enche a galinha o grão, ou, tantas vezes vai a parte ao cântaro, até que fonte!
Era assim o presidente. 

As pessoas já se tinham habituado e como uma epidemia, já ninguém ria! O riso tinha-se esvaído ao longo dos seus sucessivos mandatos. Até mesmo os forasteiros, visitantes ou turistas, mal pisavam terras da aldeia, deixavam de sorrir. 
Já ninguém estranhava, nem comentava tão original facto.
Se queriam saber a disposição que o presidente dispensava para esse dia, perguntavam qual era o provérbio do dia. Pela resposta ficavam logo a saber se era dia de pedir a substituição das lâmpadas, o arranjo do caminho ou a licença para os cães.


Este novo presidente era diferente, mais alto, apesar de também não rir, nem sorrir. Mas falava do que era preciso fazer na freguesia e criticava o antecessor. 
Logo na primeira reunião começou assim: Com vinagre não se apanham moscas. Quando interpelado sobre prioridades, disse: Cada macaco no seu galho. O secretário perguntou se se fazia acta e ele zás: A escrita voa, as palavras ficam. Como se fez silêncio, disse: morreu a peçonha, acabou-se o bicho!

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