quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Por Soajo, Recordar é viver- In, A Vanguarda de 2-3-1969

 Em 1941, também nós fizemos parte do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 8 que, em missão de soberania, largou do Tejo, em 24 de Abril, rumo ao Ultramar Português. Pelas 15 horas, já em pleno mar, o Mouzinho, vai rasgando docemente o mar-safira, vai singrando dolentemente com rumo às guardas avançadas do Atlântico, à suspirada e encantada feiticeira: Ilha Azul, Faial. 
Contra o costado do navio vêm quebrar-se as ondas do mar, ora em ânsias loucas de abraçá-lo, ora lambendo-o de mansinho como a acarinhá-lo por ser o portador de lusitanos novos que, em comprimento do dever, tal como os que indómita e heroicamente se lançaram em busca da glória para a Pátria querida levantando assim cada vez mais o pendão duma heróica e formidável Nação, duma minúscula faixa de terreno que, lá da Europa, junto ao mar, deu novos Mundos ao velho Mundo: Portugal! Assim vão beijando o Mouzinho aquelas ondas alterosas. Assim se seguiram os dias 25 e 26, até que no dia 27 pelas 16 horas se ouviu a encantadora  e  desejada  palavra:
- Terra ... Terra!


Ao longe,  muito ao longe, desenhava-se na diamantina e azulina cor do firmamento, uma mancha escura; à medida que nos aproximamos, torna-se mais visível. Agora já se vê mais: uma, duas e três, etc. Avançamos docemente, o Mouzinho acerca-se cada vez mais dessas escuras e ingentes manchas que, altaneiras se erguem aos céus, mostrando assim ao Mundo mais um pedaço do nosso glorioso e querido torrão nacional. Uma a uma, se vão tornando mais visíveis destacando-se uma que se eleva a grande altura, como que a desafiar o espaço, oiço dizer que tem o nome do Pico. Segundo dizem os nossos superiores, vamos com rumo ao Faial. É agora, que se desenrola ante nossos olhos, a formosura poética dessas encantadoras e poéticas ilhas. É então que me deslumbro ante esse mar imenso de verdura, mosqueado pelo branco das casinhas - quais capelinhas - a disputar em carreira desenfreada, a primazia do lugar ...  É indubitável que só das mãos de Deus sairia tamanha beleza! A ânsia de ver-me junto da cidade da Horta e da ilha, é cada vez maior, fazendo bater num ritmo doce e doente meu coração ansioso. 
José de Sousa Rodas

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