quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Alemanha

Hoje a Alemanha vai à frente. Obrigado amigos!

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Sete Bicas


Eram sete as bicas, sete as sedes, sete rios e sete mares
eram sete os destinos das sete luas em várias paragens
Eram sete as mouras, sete lobos, sete virgens
que de mim se separavam noutras tantas margens

Sete pegadas de distância, sete mãos, sete abraços
sete sorrisos e sete promessas de fantasia
Eram sete os desejos de mares, grandes e baços
só satisfeitos nos teus olhos desfeitos em maresia

Para a distância dentro de ti mais sete continentes
sete vales e planícies de verde e azul se vestiam 
Meus sete corpos sete beijos de fogo ardentes
que de mim fugiam, fugiam e em ti se escondiam

MRodas


terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Um homem

Um homem de vida vivida
esteve aqui sentado
a contar-me
que o dinheiro não é de quem o ganha, mas de quem o guarda ou gasta
é de quem o rouba, o esconde e trafulha

Os filhos levaram a herança da mãe
sem nada terem feito para a ganhar

E levarão a tua parte quando partires

Sorriu. Deve chegar para todos
O que não chega é a tristeza de partir
Ficamos na conversa até os seguranças avisarem que as portas iam encerrar
Boa noite
Boa noite
....
Só agora percebi que era o Pai Natal

MRodas

Portelinha

A Portelinha e tu
abraçaram-me as madrugadas
e as noites
com promessas de amor
nunca cumpridas!

Só a água da fonte do Santo
beijava o frio que crescia em mim como castelos derrubados pelo inimigo que era eu!


MRodas

sábado, 8 de dezembro de 2018

Artur Cruzeiro Seixas, em Oeiras


O último dos surrealistas portugueses

BIOGRAFIA DE CRUZEIRO SEIXAS Em 1920 nasce, na Amadora, Artur do Cruzeiro Seixas. 
Em 1945 fase expressionista neo-realista. 
Em 1947 primeiros objectos. 
Em 1948 e 1950 toma parte nas actividades dos surrealistas em Lisboa com Mário Cesariny, António Maria Lisboa, Mária Henrique Leiria, Pedro Oom, Risques Pereira, Fernando Alves dos Santos, Carlos Eurico da Costa, Carlos Calvet e António Paulo Tomás e participa nas respectivas Exposições. Em 1950 parte para África. 
Em 1952 fixa-se em Angola onde realiza em 1953 e 1959 exposições que marcaram profundamente a sociedade da época. 
Em 1964 regressa a Portugal. Em 1968 Bolsa de estudo da Fundação Calouste Gulbenkian Em 1967 retrospectiva na Galeria Bucholz em Em 1977 expõe em Amesterdão com Raúl Perez e Philip West. Em 1985 é convidado por Artur Schwarz para a Bienal de Veneza, mas, por razões alheias à sua vontade e à dos responsáveis pelo certame, a sua presença não se verifica. 
Em 1986 edita-se o livro de poemas de Cruzeiro Seixas “Eu Falo em Chamas”, com apresentação de André Coyné. Publica-se um álbum referindo 230 obras de diversos autores, da colecção de Cruzeiro Seixas, adquiridas pela Fundação Cupertino de Miranda, de V. N. de Famalicão. 
Em 1989 é-lhe atribuído o prémio SOCTIP “Artista do Ano”, na sequência do qual é publicado o volumoso álbum profundamente ilustrado “Cruzeiro Seixas”, sobre a sua vida e obra. 
Em 1993 efectua doação ao Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro de uma considerável parte do acervo dos seus trabalhos bem como de documentação diversa. Visita Bordado, o “Palais Idéal” do Factor Cheval e o Castelo de La Coste. 
Em 1995, com desenhos à pena seus, organiza na Galeria São Mamede uma exposição de “Homenagem a Mário Henrique Leiria” prefaciada por Ernesto Sampaio, para financiar a publicação sem fins lucrativos de “Claridade dada pelo Tempo”, “Climas Ortopédicos” e “Pas pour les Parents”, inéditos que lhe deixa o autor aquando da sua morte. 
Em 1999 doa a totalidade da sua colecção à Fundação Cupertino de Miranda, de V. N. de Famalicão, com vista à construção do Centro de Estudos do Surrealismo e do Museu do Surrealismo. 
Em 2000 edita-se o álbum “O que a Luz Oculta” com poemas e desenhos de Cruzeiro Seixas. Sob o título de “Retrato sem Rosto” poemas seus são reunidos em livro pelo Centro de Estudos do Surrealismo, da Fundação Cupertino de Miranda, em cuja sede em Vila Nova de Famalicão tem lugar uma enorme exposição retrospectiva e de homenagem a Cruzeiro Seixas, por ocasião do seu 80º aniversário, de que resulta o volumoso álbum biográfico “Cruzeiro Seixas”, com 150 reproduções de trabalhos seus. 
Em 2001 editam-se os livros de Cruzeiro Seixas “Viagem sem Regresso” de poemas e desenhos, paralelamente é feita uma edição de luxo, em formato de álbum acompanhado de serigrafia; “Galeria de Espejos – Galeria de Espelhos” livro de poemas prefaciados e traduzidos para castelhano por Perfecto E. Cuadrado; “Local Onde o Mar Naufragou” de desaforismos e serigrafias; na Galeria Sacramento, em Aveiro, de que resulta um vasto catálogo em forma de livro; na Fundación Eugenio GRanell, em Santiago de Compostela, tem lugar uma grande exposição retrospectiva, sendo paralelamente publicado o livro biográfico “Cruzeiro Seixas”, profusamente ilustrado e com textos em galego, português, castelhano e inglês. 
Em 2002 o Museu de Chiado, em Coimbra, organiza uma exposição com trabalhos de Cruzeiro Seixas pertencentes a coleccionadores locais. É editado o livro de poesia “Artur do Cruzeiro Seixas – Obra Poética vol. I”. 
Em 2003 no Centro de Arte e Espectáculos da Figueira da Foz, tem lugar uma grande exposição retrospectiva da obra de Cruzeiro Seixas. Na Galeria Municipal Artur Bual, na Amadora, realiza-se uma exposição retrospectiva e de homenagem a Cruzeiro Seixas. Conjuntamente com Raúl Perez expõe na Galeria São Mamede. 2005: “Fauna Flora e Arte”, exposição de inauguração da Galeria de São Mamede do Porto. 2008: “Obra plástica”, exposição retrospectiva, Gal Vieira de Silva, Câmara Municipal de Loures. “Isto não é uma exposição de arte”, Museu Municipal Amadeo de SouzaCardoso. 2009: “O Infinito Segredo”, Galeria São Mamede, Lisboa e Porto. Tapeçaria e Desenho, Reitoria da Universidade de Lisboa. 
Em 2009 participa no documentário “Cruzeiro Seixas – O Vício da Liberdade”, da autoria de Alberto Serra e Ricardo Espírito Santo, exibido pela RTP 2 em Fevereiro de 2010. Executa ilustrações para diversos livros como “A Afixação Proibida” de António Maria Lisboa, “A Cidade Queimada” e “Titânia” de Mário Cesariny, “Antologia Erótica e Satírica” de Natália Correia, “Kunst en Anarchie” de Edgar Wind (Holanda), “Casos de Direito Galáctico” de Mário Henrique Leiria, “História Trágico Marítimo” e “Mulher de Luto” de Gomes Leal ou “Le Livre du Tigre” de Isabel Meyrelles. Participa em várias mostras colectivas como em 1979 “Presencia Viva de Wolfgang Paalen” no Museu do México (cidade do México); em 1984 “Le Surréalisme Portugais” organizada por Moura Sobral, no Canadá (Montreal); em 1994 “O Rosto da Máscara” no Centro Cultural de Belém (Lisboa), “Surrealismo ou Não” na Galeria São Mamede (Lisboa) e de tapeçarias de Portalegre com Eugenio Granell na galeria desta manufactura em Lisboa; em 1997 “Le Surréalisme et l’Amour” no Pavillion des Artes, em França (Paris); em 1998 “O que há de Português na Arte Moderna Portuguesa” no Palácio Foz (Lisboa); em 1999 “Desenhos de Surrealistas em Portugal” no Museu Nacional Soares dos Reis (Porto) e “Confrontos” com Carlos Calvet e Manuel Moura na livraria Leu Devagar em Lisboa; em 2000 “Le Mouvement Phases de 1952 à l’horizon 2000” em França, exposição itinerante, “Neo-realismo Versus Surrealismo”, na Galeria Municipal de Vila Franca de Xira (Póvoa de Santa Iria) e “Prenté néstpas héreditaire (Surrealisme et Liberté)” na República Checa, exposição itinerante; em 2001 “Surrealismo em Portugal 1934-1952” no Museu Extremeño Iberoamericano de Arte Contemporáneo, em Espanha (Badajoz), posteriormente no Museu do Chiado, em Lisboa e na Fundação Cupertino de Miranda, em Vila Nova de Famalicão, ou #Os passos lado a lado” no Hospital Júlio de Matos, em conjunto com três artistas utentes deste estabelecimento de saúde mental. Entre 1968 e 1974 dirige a Galeria São Mamede e de 1976 a 1983 a Galeria da Junta de Turismo do Estoril, bem como entre 1985 e 1988 a Galeria de Vilamoura, no Algarve. Realizou cenários para a Companhia Nacional de Bailado e para a Companhia de Bailado da Gulbenkian. Colabora nas revistas surrealistas francesas “Phases”, holandesa “Brumes Blondes” e na canadiana “La Turtue-Lièvre”. Nos últimos anos galerias como Gilde (Guimarães), SOCTIP (Lisboa), Constância (Constância), Presença (Porto), Neupergama (Torres Novas), S. Bento (Lisboa), Almadarte (Costa da Caparica), Funchália (Funchal), São Mamede (Lisboa), Adjectivo (Santarém), Lumière Noir (Montreal – Canadá) ou ArteManifesto (Porto) realizaram exposições individuais suas. A partir de trabalhos de Cruzeiro Seixas, os escultores Alberto Trindade e Bruno Trindade têm vindo a executar diversas esculturas. Redige prefácios diversos, dos quais se cita para as exposições de Cesariny em 1969, de Raúl Perez em 1981, de Philip West em 1988 e de Eugenio Granell em 1996. Bibliografia breve: “A Intervenção Surrealista”, de Mário Cesariny, em 1954; “Cruzeiro Seixas por Mário Cesariny”, em 1967; “A Fala” (Brasil), em 1967; “La Parola Interdeta – Poeti Surrealisti Pottoghesi” de Antonio Tabucchi, em 1971; “O Surrealismo na Poesia Portuguesa” de Natália Correia, em 1975; “Dictionaire Géneral du Surrealisme et ses Environs” (Office du Livre, França), em 1982; A Arte Portuguesa do Século XX” (CD ROM), em 1998; “Dados” desenhos e poemas de Eugenio Granell e Cruzeiro Seixas (Menú-Quadernos de Poesia, Cuenca – Espanha), em 1998; Histoire du Mouvement Surréaliste” de Gerard Duroye; “You are Welcome to Elsinore” de Perfecto Quadrado (Mallorca – Espanha); “The Imagery of Surrealism” de J. H. Matthews; “Le Surrealisme” (Dictionaire de Poche, França) de José Pierre; etc. Dedicam-lhe poemas Mário Cesariny, Herberto Helder, Alfredo Margarido, Mário Botas, Franklin Rosemont, José Pierre, Juan Carlos Valera, Bernardo Pinto de Almeida, Albano Martins, António Barahona, entre outros. Encontra-se representado em diversas colecções privadas e em instituições como o Museu do Chiado (Lisboa), Centro de Arte Moderna da Fundação Caloust Gulbenkian, Biblioteca Nacional, Biblioteca de Tomar, Fundação Cupertino de Miranda (V. N. de Famalicão), Museu Machado de Castro (Coimbra), Fundação António Prates (Ponte de Sor), Fundación Eugenio Granell (Galiza) ou o Museu de Castelo Branco.





quinta-feira, 29 de novembro de 2018

OLGA






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Olga

- Pai, porque escolheram o meu nome assim... Olga?
- Foi o teu bisavô que insistiu, e também era uma homenagem à tua avó!
- Porque seria assim tão importante para ele?
- Tinha  a ver com a história dele na Grande Guerra...

Quando António José Cerqueira, 1º cabo, foi alistado para o CEP, já pressupunha que, mais dia menos dia, iria ser alistado para França, para  a frente da batalha. Tinha feito a preparação militar em Tancos, na famosa cidade de “paulona”, por causa das barracas de pau e de lona, alinhadas num gigantesco espaço de 68 hectares, onde só para os regimentos de infantaria existiam no acampamento 864 barracas.
Apertava a placa pendurada no peito com a inscrição gravada 70292 A, enquanto dizia si próprio, “seja o que Deus quiser”. Olhava o horizonte à procura dum ponto dentro de si,  que só ele sabia onde continuava.

Em março de 1917, as primeiras unidades do CEP chegaram à frente de combate, onde se encontrava instalada uma Brigada da 1ª Divisão a ocupar o sector de Ferme du Bois, em França.
António José integrava a unidade que iria reforçar as tropas portuguesas e  partiu numa terça feira, para Brest, em vinte e cinco de julho de 1917.
O dia anterior era uma segunda feira radiosa, boa demais para desperdiçar numa guerra distante da terra portuguesa.  Iniciaram a marcha pelas 10 horas da manhã para a estação de caminho de ferro de Braga, desde a Praça dos Voluntários da República, fronteira à sede do regimento, seguindo pela rua do Anjo, largo dos Remédios, rua de S. Marcos, largo do Barão de S. Martinho, rua do Souto, rua Nova de Sousa, praça do Conde de S. Joaquim, rua do Corvo até ao largo da estação.
Abria esta marcha a banda do regimento com pouco povo ao longo do trajeto. Doía tanta indiferença para quem ia matar e ser morto.
Junto à estação estavam as autoridades locais e muitos familiares, onde se fizeram as últimas despedidas emocionadas, à mistura com o patriotismo republicano.
O comboio repleto de militares deixou a estação de Braga às 11.37 horas, tendo chegado ao cais de Alcântara, em Lisboa, na madrugada de dia 25 de julho, seguindo de imediato para bordo do navio que os ia levar até Brest, no norte de França.
Enquanto isso, ele repetia  para si próprio, “seja o que Deus quiser”.

Após uma viagem turbulenta no mar, chegados a França, prosseguem de comboio a Calais, seguindo-se a marcha até Wismes, ainda a mais de 50 km da frente. Nos dias seguintes e após uma ligeira instrução ocupam as trincheiras, contando, de imediato, com o batismo de fogo alemão, com granadas, bombardeamentos de morteiros e lançamento de gases.
A vida na “front” corria cheia de percalços. Os combates, a desorganização, a comida de ração fria, com moral baixa, o frio e a chuva, o nevoeiro e a falta de horizontes compunham a via sacra dos suplícios.
Os oficias vinham de férias e não voltavam. Aos soldados não lhes era permitido serem substituídos ou gozarem descanso. Quantas vezes teve de mandar calar aquela gente cheia de razão. Apesar disso, sentiu orgulho pela  nomeação:  2º sargento miliciano. Era uma quinta feira cheia de frio e humidade, 23 de março do ano de 1918. Seja o que Deus quiser.
O tempo corria mais devagar que o desejo e as movimentações no terreno, mas chegara abril e as papoilas começavam a romper a terra e as boas notícias a chegar, iriam ser rendidos. Estava tudo preparado para cederem o lugar da frente a outros. Iam ter umas merecidas férias. Mas a 9 de abril, não sei o que deu aos alemães, irromperam com uma força desmedida e soube mais tarde, foram os ingleses que cederam e os portugueses a serem apanhados pelas costas.
Feito prisioneiro, na companhia de milhares, foram encaminhados para a estação de Lille e daí só se lembra que encontrou um catre seco no Campo de Prisioneiros de Friedrichsfeld, junto da fronteira holandesa, numa aldeia chamada Wesel, a norte da cidade de Colónia.
Os homens não paravam de chegar. Pelos oficias portugueses feitos prisioneiros, soube que em agosto de 1918, estavam internados neste Campo, mais de 5 000 praças e oficiais. Só em outubro havia de ser feita a transferência dos Oficiais portugueses para Breesen, um mês antes do fim da guerra.
Havia um hospital e uma capela, mas a vida no Campo era miserável. Além da comida insuficiente, esta ainda era má: cascas de melão e melancia, cascas de batata com terra e peixe tão malcheiroso de podre, que, mesmo famintos, os prisioneiros não o conseguiam comer.
Viu os alemães  a matarem  ou ferirem prisioneiros mesmo depois de estes deporem as armas e se renderem e o mesmo no campo de prisioneiros. Alguns queixavam-se das roupas e pertences roubados, dos castigos, empregando os presos de guerra em trabalhos excessivos ou em operações bélicas.
Viu serem recusados apoios médicos e sanitários aos doentes, sendo a pneumonia, as amputações, a “gripe espanhola”, a sepsia, a pleurisia e a tuberculose as principais causas de morte.
Era a este Campo, que o 2º sargento António José Cerqueira tinha chegado. Já há muito que tinha desistido de dizer para si próprio, Seja o que Deus quiser. Essa voz interior tinha-se calado, nem ele sabia bem como. Deus pode querer umas coisas, mas um homem pode querer outras, pensava consigo. A ideia de fugir dali crescia como as papoilas nos campos. Primeiro um botão, depois uma haste e um ponto verde, o ponto a ganhar volume, a respirar condição e, por fim, abre as asas e emerge uma esperança vestida de vermelho, uma bandeira cheia de força e alegria, a tocar as nuvens e o sol.
A sensação de medo e de vergonha, comum a todos os soldados no momento da captura, alastrava por entre os companheiros detidos. Alguns ofereciam objetos pessoais - punhais, emblemas, relógios e carteiras - a fim de obterem a benevolência do inimigo.  Outros eram  vítimas deste, por interesse em objetos de valor e até artigos de fardamento como botas e casacos em bom estado.
À medida que iam tomando consciência de que já não eram apenas soldados – a guerra para mim acabou - e passaram a ser prisioneiros de guerra, surgia a desmoralização e a depressão para alguns.
Nos prisioneiros crescia a certeza que estavam entregues a si próprios. Os seus pensamentos iam desde o sentimento de desgraça, abandono e raiva, à sensação de alívio por saberem que sobreviveram ao conflito e que, para eles, a guerra estava acabada, diria ele mais tarde aos oficiais portugueses.
Havia contudo outros que mantinham uma adaptação às novas circunstâncias, sem contudo, desistirem dos desafios e obter a gratificação de os alcançar.
A fuga esteve sempre presente na alma de António José Cerqueira. Tudo que observava em volta, a dimensão do campo, as rotinas, o carácter dos soldados alemães que os vigiavam, os civis que entravam no Campo, o estado do tempo, a viagem até ao caminho de ferro, tudo era observado minuciosamente e guardado na memória ativa. Tudo podia ajudar à fuga. Podia ser o que Deus quisesse, mas ele, António José, tinha uma palavra dizer. Mantinha-se aparentemente desinteressado e alheado, mas nada do que ali se passava lhe era indiferente. Tomando consciência desta resolução, endireitou o corpo e a sombra alongou-se mais um palmo na terra batida.

Todos os dias uma menina, de olhos claros e cabelos louros, de vestido de chita e botas sujas pela lama, vinha distribuir água aos prisioneiros. Talvez fosse filha dalgum trabalhador do Campo ou dalgum soldado. Era difícil comunicar com ela por palavras, apenas restavam os gestos, o sorriso das papoilas e o olhar mais límpido que a água.
A ele agradava mais a feliz aparição do que a água, propriamente dita. Aqueles olhos sorriam de humanidade jovial. Anunciavam um tempo de promessas de paz, com as famílias reunidas, as crianças a brincar ao sol...
Olga, chama-se Olga a feliz aparição diária. Olga, nome de futuro.
Se um dia casar e tiver uma filha há de chamar-se Olga, prometia o 2º sargento, a si próprio. É um nome que me enche a boca e empurra o amor pela garganta abaixo direto ao coração, Olga. E sonhava com o dia do casamento, do batizado, o dia em que a levaria à feira dos Arcos...Olga.
Era a senha e contrassenha para a sua fuga, o seu sonho.
Para isso, era preciso sair daquele inferno. Começara com mais prisioneiros a trabalhar na reparação dos caminhos de ferro. Era assim que os alemães cobravam o esforço de guerra, obrigando os prisioneiros a trabalharem nos caminhos de ferro, nos campos, no enterro dos mortos, na manutenção do Campo e em operações de guerra.
Rapidamente deitou mão ao mapa dos caminhos de ferro da região e ... com sorte chegariam à frente portuguesa. Os outros dois soldados facilmente se deixaram conduzir pela voz confiante do 2º sargento.
Vamos, meu sargento, vamos consigo! Seja o que Deus quiser.
Sorriu António José. Afinal, Deus também podia querer que eles fugissem. E fugiram. Aproveitando a desatenção do oficial alemão já não regressaram ao Campo. Traziam o mapa e pão escuro armazenado durante a semana. E levavam a certeza que se safavam daquela aventura.
De comboio, a pé, acordados ou a dormir, guiados por um mapa e pelas estrelas do firmamento, apresentaram-se ao comando militar português em 10 de dezembro de 1918, uma terça feira, ao fim do dia.
Aclamados como bravos, contaram todas as peripécias da fuga. A importância do mapa, o deslocarem-se de noite, ao frio, a fome e a vontade de nunca desistirem. Após um período de descanso voltou António José ao desempenho das suas funções de 2º sargento, tendo regressado a Lisboa,  a 13 de Janeiro de 1919, uma segunda feira. Boa para recomeçar a organizar a vida e cumprir a promessa feita nos campos da Alemanha, Olga!
A vida é um conjunto de possibilidades, não é uma fatalidade, dizia para si próprio! Era isto que havia de ensinar a sua filha, Olga!

- Pai, depois dessa guerra nunca mais houve outra?
- Olga, trinta e seis anos depois os alemães começaram a II Grande Guerra. Se na primeira morreram dez milhões de soldados, na segunda houve 75 milhões de pessoas mortas, incluindo militares e civis, cerca de 3% da população total do planeta.
- Já sei que nome vou chamar a minha boneca…
- Qual?
- Maria da Paz!
- Seja o que Deus quiser...


Manuel Rodas

sábado, 24 de novembro de 2018

O REI DAS NUVENS



O REI DAS NUVENS

 "A partir duma crónica do escritor Lobo Antunes surgiu esta história exaltando o valor da água, da vida e do conhecimento. As várias perspectivas do conhecimento do mundo ganham outro sentido quando tem o amor a ...abraçá-lo" 
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quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Janela

Éramos trēs
tu
eu
e a ausência de nós
mas era a ausência
que nos abraçava de amarelo
na quietude do adeus
meu amor

era a ausência
que nos preenchia nos sentidos
dos afagos e das desistências

era a ausência que anunciava a presença
meu amor


MRodas

sexta-feira, 16 de novembro de 2018



No Distrito Viana do Castelo encontram-se os seguintes Monumentos aos Mortos da Grande Guerra:

Arcos de Valdevez

Data da inauguração 11-11-2018
Escultor Bruno Marques (a partir da investigação realizada por Jorge Pires e Manuel Rodas)
A obra evoca o conflito, a interrupção conseguida pelo Armistício. A Trincheira é símbolo de Guerra, os capacetes representam os soldados mortos e a pomba, a esperança da paz.

Valença

Data da inauguração: 18-06-1933
Morada: Largo do Bom Jesus - Campo de Marte
O Monumento aos Combatentes da I Grande Guerra de Valença foi inaugurado no ano de 1933, no Largo do Bom Jesus. Representa uma alegoria feminina que invoca a vitória aliada na Guerra.
Categoria: Alegoria feminina
Autor: João Silva

Viana do Castelo

Data da inauguração:  24 de agosto de 1922 
Largo 9 de Abril

O Monumento aos Mortos da Grande Guerra de Viana do Castelo possui a seguinte inscrição: "Aos nossos mortos na guerra com a Alemanha. 9 de Março de 1916 - 9 de Março de 1920 - Homenagem promovida pela Junta Patriótica do Norte. Câmara Municipal. 1919-1922

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Monumento aos Combatentes da I Grande Guerra, em Oeiras

O Monumento aos Mortos da Grande Guerra, projectado pelo escultor Álvaro de Brée e pelo arquitecto Veloso Reis Camelo para Oeiras, foi inaugurado em 1940.
-
Categoria
Monumento
Localidade
Oeiras
Morada
Jardim Dr. Pinto Coelho
Autor
Álvaro de Brée (escultor)
Arquitecto
Veloso Reis Camelo
Data da inauguração
1940
Fonte
Comissão dos Padrões da Grande Guerra, Relatório Geral da Comissão (1921-1936), Lisboa, C.P.G.G., 1936; Relatórios de Gerências da Liga dos Combatentes da Grande Guerra; Relatórios da Junta Patriótica do Norte.
Bibliografia
CORREIA, Sílvia, Políticas da memória da I Guerra Mundial em Portugal 1918-1933: entre a experiência e o mito, Tese de Doutoramento, Lisboa, FCSH-UNL, 2010, Anexo XXII (policopiado).
http://www.portugal1914.org/portal/pt/historia/espacos-e-patrimonio/item/3409-monumento-aos-mortos-da-grande-guerra-de-oeiras