domingo, 9 de setembro de 2018

Palácio da Presidēncia Cascais

Fui visitar o Palácio da Presidēncia.
Casa de D. Luis, D. Carlos, e da Republica. Ainda vi os aposentos onde era suposto Marcelo Rebelo de Sousa dormir, mas ... não estava.
Vale a pena visitar por 3 euros...

sábado, 8 de setembro de 2018

Rei

Ser rei dos outros não me seduz
mas ser rei de mim próprio
em causa minha
é percorrer descalço a existência
fiel ao que sou e teimo
e...prosseguir
 não desistir do conquistado 
caminhando
onde não há caminho
fazendo em cima do desfeito
inventar o que se perdeu...
Não é fäcil ser rei...
muito mais
quando se é republicano e...laico!

MRodas

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

O medo

Eu era soldado e sentia-me só em Lisboa, se é possível estar sozinho em Lisboa.
Uma fantasia antiga aliciava-me para que fosse, agarrava-se a mim, dizia-me que não havia razão para tanto receio.
Iria ver como estava enganado.
Sorria descaradamente, deixando escorrer a magia da volúpia.
Ainda havia de agradecer.
Bajulava-me.
Um soldado devia ser generoso e audaz.
Para as grandes decisões bastava, a maioria das vezes, uma pequena anuência e outras coisas assim, para me convencer.
E despia-me de toda e qualquer compaixão. Verdadeiramente eu não queria ir, mas não tive coragem de reconhecer o meu medo. Também não queria desiludi-la.
Muito tenso e disfarçando o nervosismo, aceitei subir os três degraus da plataforma e sentar-me numa cadeira livre. Altifalantes difundiam uma explosão de ruídos e música que perturbavam e não me deixavam pensar serenamente.
O que se passou a seguir foram subidas, acompanhadas por descidas abruptas ao interior de mim mesmo, a esse espaço ascentral onde a civilização foi arrumando todos os horrores acumulados por séculos e séculos de pavor, sobrevivência e medo.
Vi os grande tigres, dentes de sabre, a devorarem a aldeia, vi as inundações, tempestades e relâmpagos a consumirem o universo, a fome, a peste e a guerra em danças macabras, a traição nos olhos dos filhos e pais a devorarem crianças com esgares de fome e loucura.
Vi o chão a levantar-se, emergindo dele cobras imensas e monstros mais horrendos e inimagináveis. Das nuvens caíam salpicos de sangue e corpos putrefactos, a desmembrarem-se. Era Babel que caía mil vezes, Sodoma e Gomorra que se destruíam outras mil, dentro de mim.
À minha volta, a carne e as almas atapetavam o pensamento, as bombas enlouqueciam de raiva, enquanto eu era atirado ao ar, folha de mortalha enrolando todo o sofrimento, angustia e desgraça projetadas pelos carris num movimento de eterna calamidade.
O cheiro a enxofre e ovos podres entupia as narinas e acidulava as meninges, provocando vómitos ininterruptos e a alma libertava-se do corpo, em convulsões de desânimo e dor.
O calor das labaredas e explosões encrespava a pele e encarapinhava os cabelos. Até as unhas gelatinavam e as botas fumegavam um ar tóxico e mordente.
Não sei calcular quanto tempo demorou esta viagem. Podiam ser séculos, anos ou apenas uns minutos.
Quando por fim acabou, olhei em volta à procura dela, mas tinha desaparecido nos corredores e subterfúgios mais densos da minha consciência. Atordoado, levantei-me, bati os pés no chão e senti-me vivo, de mãos dadas com o universo, sem fugir de mim, de regresso à origem, onde me tinha inventado.
Afinal, a viagem apenas começara.

Manuel Rodas

domingo, 26 de agosto de 2018

Reino maravilhoso

Eu era amigo do rei
e podia entrar e sair do castelo
que tinha inventado
Podia entrar e sair
redesenhar os muros e as salas
as paredes e os tapetes

Até podia colocar as pessoas
nos locais certos
vestidas às cores

Podia refazer o castelo todo
rasgar as janelas
e brincar nas ameias

Ir aos aposentos reais
e seduzir as damas
ou ir æs cavalariças
e escolher o alazão preto

Eu podia fazer tudo
porque era amigo do rei

Mas nunca o fiz
porque tinha receio de não mais voltar

Um dia
alguém prendeu o rei
e raptou a rainha

Ainda hoje ando à procura
dos caminhos para o castelo

Também
não sei onde está o rei
que era meu amigo...

MRodas

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Homenagem

Celebro todos os que a combater morreram
sonhando com as àguas deste rio
e desenharam as imagens que hoje retenho deles

De mãos dadas
chegavam do adro até às margens frescas cheias de salgueiros
e retalhos de cores
das lavadeiras de roupa

Eles continuam de mãos dadas
dum lugar ao outro mais incerto ainda
e vão continuar assim
por muito tempo
depois do poema ter acabado

Depois disso
a quem darei eu as minhas mãos
e em que rio
lavarei minha alma?

MRodas

Mármore

Chegamos longe
Vindos de muito perto
O tempo que demoramos a cá chegar...
Foi preciso britar a cor
tecer o movimento
nas tábuas claras da alma
Surpresa
Chegamos
onde o poeta
tinha anteriormente celebrado a nossa vinda!

MRodas

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

O cretino

O cretino não presta, é uma peste.
O cretino transpira veneno por todos os poros,  ė uma raiva, um esgar fedorento.
O cretino rejubila com o mal dos outros.
Não se lava, chafurda.
Quando pestaneja, já se adivinha a intenção, fazer mal.
O cretino não chora, remela.
Se não fala, congemina, destila pus e lepra
Se fala, rumina e arrota.
Se boceja, impesta o ar em redor.
Se vocifera, consome-se na sua própria nausea.
Alimenta-se da inveja mais escura e soturna.
Quer ser grande porque fatalmente é pequenino.
Estica-se tanto que dá gozo vê-lo estatelar-se no esterco.
O cretino faz interpretações de merda,
onde está amizade e amor vē ódio, onde o altruísmo, lê desprezo e, onde está solidariedade, escreve suborno e más intencões.
Acredita ver tão longe que tropeça em si próprio,
ensarilha as ideias num pútreo mau hálito
enquanto a saliva verde lhe escorre pelos cantos da boca.
O cretino ė manipulador, pensa uma coisa e diz outra
Dä palmadas nas costas para escolher o momento de te empurrar.
Ajuda a levantar-te para ter o prazer de te empurrar novamente.
O cretino não respira, incha e sibila putrefação.
O cretino é uma peste, não presta!
Morra o cretino, morra,
Pim...

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Uma aldeia solitária

Este é o link com o filme UMA ALDEIA SOLITÄRIA, de Carlos Silveira, baseado no meu livro    MANUAL DE RAMIL : Agradeço a divulgação.
Obrigado. MRodas
https://vimeo.com/282409564

domingo, 5 de agosto de 2018

Cabras


Sairam 3 cabras do redil
mascaradas de bruxas lucifėricas
pernas negras frias em funil
buço reluzente esguio fumegante
com o carvão do inferno rubro
em chagas pelo corpo enfeitado
 alma escorrendo pus e veneno
cuja aragem pestilenta e ácida
fazia secar a flor mais singela
e desmembrar um homem em seu sono acamado
Com a cornadura retorcida e perfurante em fogo e ácido fumegante de belzebú
apontaram para a minha sombra clara
e as trēs à uma berraram: foste tu!
Estarrecido pela surpresa da aparição macabra
invoquei as forças que do bem sempre perduram
e sobre mim desceu uma névoa de raiva justa e incrėdula
capaz de exterminar este mal à face da terra
vingador de todos os assustados
que outro remédio não tiveram na vida
senão às cabras e cabrões obedecer.
Bateram os cascos nús em lage fria
berraram em uníssono luz acesa
exalaram o pútreo asqueroso veneno
dispostas a não renunciarem
a tão aparente frágil presa.
Não! Berrei de cima do Outeiro Maior
Não há cabra, nem cabrão neste mundo
que no meu peito a infâmia inscreva
nem com fogo, ou veneno profundo
raiva, desgraça ou cornadura andante
Vá de retro Satanás
pedras pintas, pedras altas
fogo nas profundezas
lugar de baixezas
contigo desapareça toda a vilaneza que nesta terra semeaste
Que todo o mal a ti torne
e de lä nunca se solte e retorne
nem te libertes de toda a desgraça
pus, veneno que na morte se consome
que os vulcões sejam teus guardiões
a lava a tua sede e o fogo a tua fome.
Estoiraram as cabras num repente
ficou no ar cheiro a enxofre arder
voou uma ave no cėu ainda quente
e viu-se a flor singela estremecer
Ah! Quanta vilania precisa de combate
quanta força exige esta desgraça
mais a tormenta parece aumentar
se desistirmos pesarosos da afronta
e pelo mal nos deixarmos confundir
não sabendo nós já que partido tomar.
Levantai-vos gentes desta justa terra
erguei-vos desse sono mais profundo
indignai-vos com o mal que aqui se encerra
e dai voz aos humilhados de todo o mundo.


MRodas

Cristos

Para o Mendonça


Não esqueci
por onde passam
os homens em dias de solidão

São grutas cavadas no peito
pedras e lama
a escorrerem no tempo

O deserto sem os outros
e por mais que olhes
só te vēs a ti
preso numa rua de Sião

Se queres voltar
terás dizer
três vezes não à tentação

MRodas

domingo, 29 de julho de 2018

Forte

Forte e...fraco
Em S.Joao do Estoril

A Várzea, vista do Olelas

É o olhar dos outros que define as nossas fronteiras, aqui e além, perto e longe! Ė o olhar dum país para outro, no ponto onde dão as måos...
Como eu e tu... no abraço das nossas fronteiras e na intimidade dos nossos desejos!

quarta-feira, 18 de julho de 2018

A casa

A casa separou-se da rua
e foi vogando à procura dos rochedos
Não encontrou caminhos, nem jardins
apenas o rigor do tempo solitário e incomum...


MRodas