terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Uma porta travessa



Parava a cada palavra.
A mão escutava o ritmo cardíaco e...não se decidia.
Por fim, a caneta deslizou numa valsa e imaginou-a
como uma porta travessa que não se abria, nem se fechava.
Nem tão pouco se mexia.
Ela era  antítese do prazer.
Amava-a.
Voltou a parar.
Cruzou as pernas, alisou o cabelo e continuou a dança.
Só a transparência dela permitia que ele a visse.
Sem fúria, atirou-lhe um banco  e sorriu a ouvir o cair dos estilhaços.

O amor é fodido!


MRodas

A guerra


Saio de casa, sem vontade de olhar para trás.
Sei que hei de voltar, por isso, não me despeço de ninguém.
Nem de nada.
Vou ali dar um recado, matar ou ser morto nesta guerra – o que é a guerra?- mas voltarei.
Claro que levo o coração preso numa sombra negra
e as pernas pesam com o receio de não saber correr ou fugir.
Nasci em 1894 e tenho 22 anos.
Sei que voltarei para ti.
Levo o teu retrato.
Não precisava, mas tenho medo de ser gaseado e perder a memória.
Se te perder que eu me encontre
e se eu não te encontrar, que tu não me percas.


Vou à guerra...matar e ser morto.

MRodas

sábado, 3 de fevereiro de 2018

Tomamos um café?

Desculpa o atraso.
Se soubesse que vinhas
Teria incendiado o caminho
E espalhado as estrelas
Para que me viesses mais cedo
Queres um café?

Desculpa o atraso. 
Se soubesse que vinhas 
teria convidado mais três amigos
um peixe e um cágado.
Gosto de cágados, 
espero não te importes!

Desculpa o atraso. 
Se soubesse que vinhas 
traria uns livros de poemas
passaríamos uma tarde memorável
a petiscar palavras e versos
com muitas risadas e graças.

Por favor, avisa-me quando voltares...


MRodas

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Os leitores dos EUA a recuperar neste mês!



Visualizações de páginas por país 

Gráfico dos países mais populares entre os visitantes do blogue
EntradaVisualizações de páginas
Estados Unidos
553
Portugal
387
França
81
Ucrânia
47
Bélgica
10
Canadá
9
Romênia
9
Alemanha
8
Brasil
7
Rússia
7

Dar à língua




A ESTRANHA BELEZA DA LÍNGUA PORTUGUESA”

   Este texto é dos melhores registos de língua portuguesa que eu tenho lido sobre a nossa digníssima 'língua de Camões', a tal que tem fama de ser pérfida, infiel ou traiçoeira.
Um político que estava em plena campanha chegou a uma pequena cidade, subiu para o palanque e começou o discurso:
 “Compatriotas”, “companheiros”, “amigos”! Encontramo-nos aqui, “convocados “, “reunidos” ou “juntos” para “debater”, “tratar” ou “discutir” um “tópico”, “tema” ou “assunto”, o qual me parece “transcendente”, “importante” ou de “vida ou morte”. O “tópico”, “tema” ou “assunto” que hoje nos “convoca”, “reúne” ou “junta” é a minha “postulação”, “aspiração” ou “candidatura” a Presidente da Câmara deste Município.
 De repente, uma pessoa do público pergunta:
 - Ouça lá, porque é que o senhor utiliza sempre três palavras, para dizer a mesma coisa? O candidato respondeu:
 - Pois veja, caro senhor: a primeira palavra é para pessoas com nível cultural muito alto, como intelectuais em geral; a segunda é para pessoas com um nível cultural médio, como o senhor e a maioria dos que  estão aqui; a terceira palavra é para pessoas que têm um nível cultural muito baixo, pelo chão, digamos, como aquele alcoólico, ali deitado na esquina.
 De imediato, o alcoólico levanta-se a cambalear e 'atira':
 - Senhor “postulante”, “aspirante” ou “candidato”:(hic) o “fato”, “circunstância” ou “razão” pela qual me encontro num estado “etílico”, “alcoolizado” ou “mamado” (hic), não “implica”,”significa”, ou “quer dizer” que o meu nível (hic) cultural seja ”ínfimo”, “baixo” ou mesmo “rasca” (hic). E com todo a “reverência”, “estima” ou “respeito” que o senhor me merece (hic) pode ir “agrupando”, “reunindo” ou “juntando” (hic) os seus “haveres”, “coisas” ou “bagulhos” (hic) e “encaminhar-se”, “dirigir-se” ou “ir direitinho” (hic) à “leviana da sua progenitora”, à “mundana da sua mãe biológica” ou à “puta que o pariu”!
AA

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

O maquinista


O combóio chegou, parou, mas não arrancava...
Um homem, de pasta na mão, falava com o maquinista de forma intranquila e agitada, enquanto a  inquietação dos passageiros aumentava.

O homem de pasta na mão sorria ironicamente com gestos acentuadamente descordenados.


O motorista empurrou o homem que se agarrara à porta da cabine, tentando livrar-se dele.


Por fim, o homem, de surpresa, puxou com força o braço do maquinista, arrastou-o para a plataforma, deixando-o caído no chão e foi a correr, meter-se na cabine,  trancou a porta e finalmente o combóio arrancou para sossego e tranquilidade dos passageiros!


MRodas

Dançar



Não gosto que me olhes assim
obrigas-me a ser cego

Não gosto que me digas sim
obrigas-me a mentir

Fazes-me olhar para mim
e descobrir o que não gosto

Por isso
já gosto
que me olhes
e fales

mas por favor
não me convides para dançar

MRodas

domingo, 21 de janeiro de 2018

A fotografia





Para o Victor São Marcos

A fotografia


Sair de nós por aí
Com a máquina pela mão

Olhar e pressentir
A existência oculta da criação

Uma janela, não é uma janela
Nem é apenas o enquadramento inspirado
Na ponta dos dedos
Nas teclas da imaginação
Com colcheias e pautas
Segredos e descobertas
Aberturas e velocidades

Para no final
Surgir brilhante
O retrato da janela
Que já não é apenas uma janela

Mas  o que habita na alma dela


Tudo isto
Por apenas um click!


MRodas

21 jan.2018