segunda-feira, 31 de julho de 2017

Quem somos nós?

Estive recentemente em Paradela e na Várzea (VILA DE SOAJO) e vim totalmente desapontado com as ruínas dos nossos espigueiros e o geral estado de abandono que se sente no território. Está a envelhecer de tal modo que daqui a uma dúzia de anos muito poucos restarão.
Há mais de cem anos que o meu avô dizia que em Soajo há uma loba com muitos lobetes. Pelas notícias que temos visto no país, não se sabe se essa loba nasceu em Lisboa, ou se partiu de Soajo, fazendo companhia ao sabujo. Ela existe em todo o país e é contra ela que temos de protestar.
Infelizmente existe entre nós a ideia que o centro começa na Praça do Comércio, em Lisboa, passa para o Largo da Lapa, em A.Valdevez, e vai morrer no Largo do Eiró, em Soajo. A periferia teria que aceitar e aguentar os desmandos do centro.
Ora, não é assim, por duas razões:
1ª É frequente ouvirmos o centro a queixar-se e lastimar-se por ser a periferia, isto é, a Praça do Comércio queixa-se de Bruxelas, o Largo da Lapa queixa-se da Praça do Comércio e da falta da regionalização, o Eiró queixa-se do largo da Lapa e de não descentralizarem competências para as freguesias. Os lugares, dispersos pela serra, queixam-se que o dinheiro fica todo em Soajo e não vem nenhum para eles, que sendo seis, não são tão poucos como isso. Portanto, todos somos centro e todos somos periferia. A periferia é o centro dum novo sistema. 
Todos nos lamentamos, este mal português que teima, teima, queixámo-nos dos outros, mas há uns com mais pápa que outros! E se digo pápa é porque o nosso estado de lamentações é tão genuinamente infantil que mais se assemelha ao chorar das crianças, que à afirmação de homens conscientes e livres, que gritam e exigem!
2ª Pode haver centro sem periferia? Pode haver unidade territorial sem identidade cultural?
Quando deixamos morrer, por incúria, ignorância ou sobranceria uma pedra que seja da nossa memória coletiva, é a nossa identidade que está ameaçada e sendo assim, é a mensagem de falta de estima e desrespeito por quem somos, que estamos a transmitir aos vizinhos e às gerações que já habitam e hão de habitar este território depois de nós!
Era tempo de nos erguermos e trabalhar com as autarquias, o Parque Nacional, o Governo ou outra qualquer associação de modo a identificar, preservar e divulgar o nosso património. 
Precisamos urgentemente de nos inscrevermos na nossa realidade e com ela nos comprometermos.
Saliento a memória que já só existe na tradição oral.
Saliento a Rota dos espigueiros, moinhos e regas, a memória da cultura do milho e da água

Saliento a memória escrita, cartas, testamentos e fotografias
Saliento a memória dos objectos da história e do quotidiano soajeiro, expostos num museu
Saliento a dignidade de sabermos quem fomos e quem somos.
Somos nós, eu e tu e o outro, é a nossa memória, é a nossa terra mãe.
Que raio de filhos somos nós?
Onde está a alma genuína soajeira e arcoense? Onde estão os nossos candidatos e líderes?
Vamo-nos deixar morrer sem um ai?

Manuel Rodas

31julho

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