quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Contos da Antiga Angkor



Do amigo Carlos Silveira mais um excelente documentário, a lembrar-nos que o mundo é muito desigual!
O que pensar nesta época natalícia, dos nossos valores de fraternidade, solidariedade e simplicidade, quando no outro lado do mundo adultos e crianças não têm passado, presente e nenhum futuro. Dá que pensar.
Como disse Gustave Flaubert, “Viajar faz de ti uma pessoa modesta. Percebes afinal que lugar minúsculo ocupas no mundo.”

https://vimeo.com/381580644

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

A pobreza





Donde vem a pobreza?

Adão e Eva sairam do paraíso com uma mão à frente e outra atrás
o mundo avançou, houve o dilúvio porque a obra estava imperfeita  e talvez houvesse mais sede que fome

Destruíram Sodoma e Gomorra porque os homens se amavam demais

Garrett pergunta quantos pobres são precisos para fazer um rico
e o árabe confidencia
Se o teu cão passa fome, 
qualquer pessoa que oferecer um pedaço de comida consegue afastá-lo de ti

A fome dói muito mais no coração do que na própria barriga.
Às vezes a pobreza  é tão profunda que a fome é pouca

A pobreza não vem da diminuição das riquezas, mas da multiplicação dos desejos, gritava Platão aos seus discípulos

A pobreza não sabe que é pobre. 
Sabe que a fome não passa, apenas dá voltas

Quando a pobreza souber que é pobre, deixa de o ser e será riqueza

O mal maior da humanidade é um singular composto de poucos males, a necessidade, a pobreza, a fome, a ignorância. 
Tudo no singular, porque é apenas uma coisa só

A pobreza é como um leão faminto. 
Se parares a olhar para ela, ela devora-te
......

Saiu a pobreza à rua
e espantou-se perante o que via

Era homem e mulher, criança e velho
negro e branco
limpo e sujo
cão e gato

Tudo estava com fome

Voltou para casa
sentou-se num velho sofá e adormeceu durante mais de mil anos

Quando acordou
todos eram ricos 
e alguns tinham saudade da pobreza

Feito um inquérito se apurou 
que eram os antigos ricos, 
investidores gananciosos e especuladores
...mas também havia alguns descendentes de pobres e de padres

A pobreza sentou-se num banco de jardim
fechou os pobres olhos e ... faleceu.

Manuel Rodas






sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

A beleza da patinagem




Eu patino
mas tu patinas melhor que eu

Ver-te assim perto do céu
a começar cá pelo coração
junto ao meu
e ver-te subir, gaivota
pássaro alado dos dias claros
faz-me criança
aprender a andar
para depois voar.

Patinas melhor que eu
deslizas na pele alada do vento
corpo solto atrás da ideia
fumo ou tocha no universo a descoberto
a separar o fantástico do incerto
aranha ou teia
enquanto eu me sento
paredes meias do outro lado da rua
com uma fantasia que teima e persiste

Não desisto. Hei de voar!

MRodas










segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Marc Chagall


Eu e a aldeia

Por cima da cidade


Aniversário


O violinista verde


O soldado bebe


O violinista 






A crucificação branca

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Biblioteca de Soajo

Há muito que ao longo da Avenida da Liberdade, nos cafés e no silêncio das necessidades, se ia falando da Biblioteca em Soajo.
Um dia, uma notícia no google anunciava uma aldeia galega de 33 habitantes, que resolveram fazer uma biblioteca.
Foi o vento suficiente para descobrir as cinzas que afagavam tão linda ideia, a Biblioteca!
Ofereci simbolicamente 33 livros e muitos outros começaram a prometer. Até desistir da contagem já íamos nos 3000 livros.
Faltava o local. Falta ainda  o local. 
As autarquias estão a pensar em reponder a esta necessidade. Enquanto aguardamos, vamos depositando as ofertas no edifício do Turismo, em Soajo, no Largo do Eiró!
Esta é a primeira entrega, do Carlos Belchior, de Paradela, que pela sua generosidade merece um obrigado e um grande abraço!
Outras sucederão e, o mais brevemente possível, teremos uma Biblioteca e Centro Cultural a funcionar! 
Contamos com a generosidade de todos, mesmo dos que vierem a dizer mal.
Obrigado


 Aqui está a primeira entrega de livros para a nossa biblioteca! Quem foi que disse, Deus quer, o homem sonha, a obra nasce?


MRodas

terça-feira, 29 de outubro de 2019

QUANDO NO ESTADO NATURAL...



QUANDO NO ESTADO NATURAL...

Quando no estado natural vivia
 Metida pelo mato a espécie humana
 Ai da gentil menina deshumana
Que á fôrça a grêta virginal abria!

Entrou o estado social um dia;
Manda a lei que o irmão não fôda a mana, 

É crime até chuchar uma sacana,
E pesa a excomunhão na sodomia.


Quanto, lascivos cães, sois mais ditosos
Se na igreja gostais de uma cachorra, 
Lá mesmo, ante o altar, fodeis gostosos;

Enquanto a linda moça, feita zorra, 
Voltando a custo os olhos voluptuosos, 
Põe no altar a vista, a ideia em porra.

BOCAGE [Poesias eróticas,
burlescas e satíricas
, 1854]
[fixação gráfica de M. Cesariny,
Horta de Literatura de Cordel, 1983: 190]

segunda-feira, 28 de outubro de 2019




Fiz várias experiências, à procura dum conceito, o pó!

Do meu peito
saiu o pó mais límpido e sereno
em dunas de raiva e tristeza

Era um pó branco de amargura
serenamente poisado nas frestas do meu silêncio

Veio o teu vento e o meu pó permaneceu quieto e mudo
Vieram as tuas ondas de sal 
as arestas do teu corpo doce e secreto
e do meu pó 
surgiram os primeiros movimentos de humanidade
abraçados nas promessas de flores e frutos

Tínhamos chegado ao paraíso, Eva!


MRodas
Videos
https://youtu.be/lcjLCADS_Nc
https://youtu.be/J0TdgaDd5Fs


Monarca




Era uma vez 
uma borboleta que aprisionou o rei em seu casulo.
Este vivia muito infeliz.
Um dia a borboleta disse-lhe:
- Porque estás triste? Não és tu o rei?
- Sim, sou o rei, mas estou triste porque não posso viver em liberdade, aqui preso nesta cápsula...
A borboleta ficou a pensar e também ela não era livre porque tinha de vigiar o rei e não podia ir ver nem saborear as flores. 
Por isso, decidiu:
- Olha, também eu quero ser livre e poderosa. A partir de agora, tu voltas a ser rei, mas eu é que sou a monarca. Entendido?

MR













terça-feira, 22 de outubro de 2019

A casa



A casa desceu a serra e rebolou no mundo imaginando  a imensidão dos vales e rios
A casa aninhou-se no teu colo e deixou-se adormecer ao sol, enquanto lhe compunhas as telhas
A casa teve festas, teve mulher e filhos, teve viagens e janelas

Parou quando viu o mar

E foi nessa altura que o gosto a maresia lhe inundou as divisões
arrastando as algas e areias
Agora que partiste
a casa alquebrou-se e sonha com aventuras
mares e viagens

Quer um jardim e um barco
um jardim com o teu perfume
e um barco
onde possa piratear os segredos da minha ausência

MRodas

terça-feira, 15 de outubro de 2019

A foto




Resgatas claros escuros sombras e cinza 
eu que busque a moldura que tu escondes
que procure o rasto do teu gesto escondido

Há  mistérios  que me chamam do outro lado

As fitas a preto e branco são persianas presas a um significado que busco em vão
É a tua linguagem que persigo abraçando as partículas
A procura do sentido da tua luz torna-se obsessão
mesmo que esconda os farrapos na memória dos povos e prometa um mundo novo

Essa penumbra ha de ser luz e maresia
Poema amor de um dia

MRodas

sábado, 12 de outubro de 2019

Luz



Tudo o que já foi luz
é sombra do que acontece

Como o amor passado e efusivo
É agora
Marca discreta na pele do meu desejo

A primeira rosa
também se abriu luminosa sobre a própria morte

O amor no seu apogeu
anuncia o seu fim
Onde nós começamos

O amor e as rosas construíram montanhas de versos desordenados
 na floresta dos diálogos
Que nos dizem eles que já não saibamos?

A sua sombra abre sulcos de raiva desejo e assombro
no escuro luminoso do meu desejo

MRodas