terça-feira, 29 de outubro de 2019

QUANDO NO ESTADO NATURAL...



QUANDO NO ESTADO NATURAL...

Quando no estado natural vivia
 Metida pelo mato a espécie humana
 Ai da gentil menina deshumana
Que á fôrça a grêta virginal abria!

Entrou o estado social um dia;
Manda a lei que o irmão não fôda a mana, 

É crime até chuchar uma sacana,
E pesa a excomunhão na sodomia.


Quanto, lascivos cães, sois mais ditosos
Se na igreja gostais de uma cachorra, 
Lá mesmo, ante o altar, fodeis gostosos;

Enquanto a linda moça, feita zorra, 
Voltando a custo os olhos voluptuosos, 
Põe no altar a vista, a ideia em porra.

BOCAGE [Poesias eróticas,
burlescas e satíricas
, 1854]
[fixação gráfica de M. Cesariny,
Horta de Literatura de Cordel, 1983: 190]

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