sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Viana de nós





Neste texto recorro às recordações que transporto comigo e teimam em resistir, bem vivas! Aqui aprendi a nadar, aos seis anos, aqui me apresentei para o serviço militar e aqui fui Professor. Uma parte de mim não ficou ali, mas ... trouxe Viana comigo. Para sempre!


Adoro Viana do Castelo e, como Babilorna, quem lá vai não torna. 
Eu não tornei. 
Procuro a parte de mim que nunca deixou Viana. É uma paisagem iluminada pelo excesso de luz, brilho, risos e fantasia. São as sombras arremedadas pelo granito, pelo silêncio das ruelas da noite, a alegria contida nas esquinas, é o esbracejar de afetos nos olhos dos transeuntes. 
Em Viana nunca fui estrangeiro de mim. 
Vi a eternidade num livro aberto, com a capa de Sta Luzia, entre o céu e a terra, os sacrifícios derramados no escadório, um mar de promessas nas ruas e ruelas, enquanto o rio me abraçava nos soluços da praia norte.
Ah! Foi aí que aprendi a nadar, a lançar balões, sonhar nas algas e nas rochas as promessas do velho castelo. 
Melhor, foi aí que aprendi o doce sabor da humanidade! 
Talvez por isso, nunca daí tivesse saído!
De vez em quando, Viana vem até mim, abraça-me, num sussurro terno, de quem me conhece por dentro e por fora. 
Estende-me um mar de recordações - ou sou eu que lhe pergunto - desfia um rosário de terços, em ladainhas de cores, cheiros e...maresia.

Viana é também um amigo com falas de marinheiro. 
E toda a tarde desfia as histórias dos Fagundes desconhecidos, que em passarolas desafiaram os intrépidos mares da imaginação e da boa querença, em disputa com altaneiras e escuras ondas de guerra de servidão e liberdade.
Bebemos um copo de branco na praia e vamos petiscando as palavras e os silêncios, rio acima, até a alma desenxergar uma réstia de esperança.
O meu amigo afasta-se no sono duma nova viagem e regresso sempre à praça da República que há em cada um de nós. 
É aí que voltamos sempre, como o sol, ao nascente, a lua,  aos quartos e o amor ao coração.
Vou pela rua Grande até ao Largo de S. Domingos. 
Retenho as caras lavadas de olhos feitas e mãos lavadas do suor que escorre pelas paredes enfeitadas de cores da alegria. 
Por ali ando eu a correr nas risadas das crianças libertas dos musgos das obrigações inúteis. 
Corro até Monserrate, que se agarrou a mim e ao sonho de ser Professor.
 É a aventura que transpira infância, o pai do homem aprender a ser gente.
 Foi o Lima que me trouxe de Soajo a Ponte de Lima e, finalmente, até aqui. 
Ensaiamos aventuras de piratas de nuvens com espadas de faz de conta, diretas a um coração desconhecido e sempre disponível para renascer em cada gesto e em cada abraço. 
Vou de mãos dadas com a infância, de visita aos medos e às noites escuras ameaçadas por manhãs claras.
Volto à minha praça, a da República. 
É o meu epicentro, palco de todos as festas e de todos os dramas. 
Subo a um palco, pelas mãos do Valdez e do teatro, abro os braços, abanando as asas de Lúcifer, perante uma plateia que não  se amedronta, com um  grito de  a barca, a barca...
É aí que Viana volta, vestida de cigana, a tocar pandeireta, meneando os quadris e dando ao céu o doce bambolear dos seios quentes. 
O acampamento dilata-se nos sonhos e parte nas calçadas da saudade, no mais recôndito de mim.
Renasce outra vez numa parte menos obscura da alma, o doce acre do amor em procissões de andores desfeitos, e vejo-me a falar sozinho, esbracejar e rodopiar um vira, uma cana verde no descontentamento desafinado duma concertina.
Vão passando na minha vida as mordomas, o ouro deslumbrante de corpos, alma e olhos.
São mulheres ou gaivotas que um dia trocaram o mar pela praia, a ele voltando em procissão nas noites de lua cheia. 
Sereias que nuas, se deixaram possuir nas águas do mar do Cabedelo e entregaram os corpos às rochas da Praia Norte, transfiguradas de monjas matriarcais, com anémonas nos cabelos e estrelas incandescentes nos olhos.
É toda a humanidade que aqui se reúne, do sul ao norte, aqui se reinventa e, aqui, a alma e a eternidade ganham sentido, em uníssono. 
Junto-me a ela, enfeitado de penas e os restos dum pano azul, ao peito.
Como ela, aqui volto, porque daqui nunca saí, nem saio, pelo menos enquanto ela me quiser!
E se morrer, é aqui que quero voltar a viver!
 Para sempre!

Manuel Rodas

Foi aqui, na presença deste forte, marejado de espuma , que minha mãe me ensinou a não ter medo do mar e assim, aprendi a nadar! 
Obrigado, ao autor da fotografia!







quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Doze anos a ser lido. Por quem?



Ao longo destes 12 anos, muitos amigos espalhados por todo o mundo, acompanharam este blogue. A todos eles um Obrigado e um Grande abraço!

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