domingo, 25 de março de 2018

Às cores



Às cores

Quando tu me inventaste
Eu era ainda vermelho de cardo
Na minha maior idade azul

Depois que partiste
Fiquei azul vermelho de romã
Dentro duma lua fria e escura

Amanha
Talvez sejas o arco íris
Que todos os dias
Abraça
Novas nuvens

Dentro da solidão inventada.

MRodas

sexta-feira, 23 de março de 2018

Este mês o Brasil ultrapassou a Russia!



Aos leitores deste blog, obrigado!

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domingo, 18 de março de 2018

Fiadeiro de Soajo no Teatro Nacional, em Lisboa



Era costume as mulheres, ao fim do dia, nas longas noites de inverno juntarem-se em casa umas das outras. Levavam a lã das ovelhas já lavada e com a ajuda da roca e do fuso transformavam a lã branca ou negra, em fios que haviam de tecer meias e camisolas, saias e aventais. E cantavam em grupo. Transformavam a lã em sonhos e música, que os dias frios haviam de consumir e as alegrias e tristezas...agradeciam! 

Parabéns às mulheres de Soajo que se deslocaram ao Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, para mostrar um fiadeiro, à moda de Soajo. A mais idosa destas mulheres tem 94 anos de idade, mas mesmo assim, fez 1000 quilómetros...de generosidade!

Obrigado, amigas


 https://youtu.be/ujBojgnqq-g

sábado, 17 de março de 2018

quarta-feira, 14 de março de 2018

Túnel

  



Túnel

Sou tão leve que não sinto o peso
E tão pesado que não sei o que é a luz

Estou suspenso e cego
Do meu corpo sem alma
Tão suave e frio
A flutuar no silêncio absorto

Cheiro o instante
Em que a vida
Se abraça à morte

Leveza leve de estar
Doce encanto amargo
Sereno ser de não ser
Onde para ficar é preciso

Renunciar...

MRodas

sexta-feira, 9 de março de 2018

Os leitores deste blog, desde sempre!

Quando o Brasil acordar...

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Ser cego


Foto Manuel Rodas

Ser cego tem as suas vantagens. 

Não posso ver as mentiras nas caras dos outros, mas pressinto-as através da entoação das vozes, da sequencialização e coerência das ideias, das suas insistentes repetições e dos seus silêncios, pensando que sou surdo.
Com ela era diferente. Desde o princípio que o seu perfume, e a sua voz entoava melodias nos meus sentidos e descia em espirais de frenesim amoroso, esbatendo-se algures numa penumbra fina e leve da minha alma. Algures entre mim e o meu desejo!
Ela tinha esse poder sobre mim que se manifestava através da sua voz. Arrepiava-me. O resto já sabem da história da Catedral e vou passar à frente pois não quero que sejam indulgentes comigo. *
Sim, eu tinha ficado viúvo, afastamo-nos e ela mandava-me as cassetes com a sua voz. Quando recebia as cassetes, ouvia-as longamente e no meu gravador tinha um botão que podia acelerar ou diminuir a velocidade da fita. Assim nos dias mais calmos procurava uma rotação na sua gravação e deixava-me ir pelos céus da fantasia e morbidez. Às vezes acelerava a sua voz confundido os agudos com os graves. Desencadeavam-se em mim as emoções mais dispares e contraditórias, era o apocalipse. Só despertava dele com um copo de whisky e silêncio!
Combinar o fim de semana em casa dela, era o cumprimento dum desejo antigo. Ia conhecer o duplo que tinha a sorte de ouvir essa voz todos os dias com entoações que eu não suspeitava, mas pressentia.
Ele sentiu a minha hostilidade durante o jantar, mas foi ficando amigável e a conversa parecia aproximar-nos. Pensei cegamente se lutava por ela ou me rendia aquela amizade para sempre. Ele era um tipo decente, inseguro, à procura de confiança. Ela seria mais feliz comigo do que com o marido? Depois ela adormeceu  e quando fiquei só com ele decidi ser francamente cego e disse-lhe: Amo a tua mulher!

Agora vivemos os três felizes. O médico tinha-me proposto uma operação com algumas garantias de recuperação da vista, mas pensando bem, prefiro continuar assim, felizmente cego ou cegamente feliz? 
Sonoramente arrebatado, com um lugar nesta orquestra!

MRodas


 *