sábado, 13 de janeiro de 2018

A casa, in Manual de Ramil, Rodas, Manuel, Ed. A. 2015



A casa. 

O meu pai era Guarda-Florestal e vivíamos no meio da serra, numa casa com três quartos, um escritório, uma cozinha, duas arrecadações grandes e uma casa de banho. 

O chuveiro era um balde de zinco, com um alçapão no interior e descia através duma roldana presa no teto, para se encher de água morna e, lá no alto, desabava em chuva sobre nós, quando se puxava o guito, uma corrente de metal.
A cozinha era grande e tinha quatro portas: uma de entrada, a seguir a um pequeno pátio de granito, outra para a arrecadação, a terceira para o quarto de meus pais e a última para o corredor de acesso à casa de banho! Havia uma mesa, com duas gavetas, encostada à parede, onde guardávamos os talheres e era lá que fazíamos as refeições. Havia ainda um balcão com pia e lavatório, alguns armários, um fogão a gás e do que eu mais gostava, uma lareira grande, que, quando acesa, perfumava a casa toda, com o fumo acre do pinho, da giesta, da urze, as risadas das pessoas, a tosse de meu pai e os suspiros e lágrimas de minha mãe.
- Porque choras, mãe?
- É do fumo!

Mais tarde, às costas duns homens suados, cobertos de escuro, apareceu um fogão de ferro. Aí crepitavam as achas e fumegavam panelas e tachos. Tinha uma torneira donde saía água quente e um forno, onde às vezes minha mãe assava carne e batatas e cozia broas de milho. No resto do tempo, guardava os tachos.

Os quartos tinham paredes brancas, uma cama de casal, com um crucifixo na parede, uma mesinha de cabeceira de madeira e um guarda-fatos com espelho grande, onde a minha mãe se ria, observando as minhas caretas e momices.

O escritório, com uma janela e uma porta verde para o exterior – em casa todas as portas e janelas eram verdes -, era para meu pai como a sacristia para o padre. Lá escrevia, fazia as listas de nomes, que mandava para a Administração Florestal em Arcos de Valdevez. Somava, subtraía, com uma caligrafia muito regular e arredondada, as parcelas muito verticais, sem um milímetro de desvio, enquanto a caneta Lamy deslizava como numa dança, em diálogo preciso e sincronizado, com a mão e os olhos que tudo controlavam: a forma, a pressão, a velocidade, a linearidade...
Mais tarde apareceu uma máquina de escrever com uma capa alaranjada, a imitar a rugosidade e as saliências do couro. Na secretária escolheu logo o melhor espaço: o do centro. Era impossível entrar no escritório e não ver a máquina. Aí, ele batia com os dedos nas teclas, que por estímulo preciso e ponderado se transcreviam em letras, frases, parágrafos, páginas e páginas, relatórios, exposições, artigos de jornal e...cartas de amor.
Eu ficava de longe a espiá-los e depois encostava-me sorrateiramente a ele, a ouvir o ronronar daquela máquina que tudo parecia saber e ao mínimo toque, zás, as teclas, primeiro como moscas voando, depois num enxame, deixavam o refúgio e num voo picado, aterravam ao de leve na folha de papel em branco, deixando lá impressas as asas, ou as pegadas de tinta! Mas a máquina dava sentido ao que ele escrevia e mais tarde nos lia na cozinha e posteriormente aparecia numa coluna no Jornal A Vanguarda. Semana após semana, durante vinte e tal anos assim fez. Primeiro em Ramil, depois em Germil, lá no alto da serra Amarela. Na Junqueira esteve calado durante sete anos – todos os que lá esteve -, mas ao voltar a Ramil, ganhou novo ânimo e só se calou quando se reformou e foi para Paradela.
.....

Havia ainda um sótão escuro e misterioso e as gateiras sob a casa por onde entrava o ar e se escondia um coelho doméstico, mas que resolvera viver em liberdade e ficar a ver o que acontecia... até que um dia um cão amarelo e vindo, sabe-se lá donde, comeu-o, para tristeza de meus pais e desespero meu.
Circundando a casa, havia um grande largo, onde, quando me deixavam, corria de manhã à noite. A cozinha era o coração da casa, mas o terreiro para além de ser sala de estar e de visitas, era verdadeiramente o pulmão do lar. Nada acontecia que não se soubesse primeiro no largo e nada acontecia no largo que não se soubesse primeiro em casa.
Do lado de baixo do terreiro (Sul) e num patamar inferior havia o quintal, que se espraiava colina abaixo, num rosário de parcelas de terreno. Descia-se através dumas escadas íngremes até uma cancela de ferro. De lá víamos os montes do Murço, parte da serra Amarela e ao longe Soajo, como um presépio de luzinhas rutilantes, a serra do Gião e um rosário de serras e montes até ao mar, numa névoa doce, que nunca descobri, se se formava nos meus olhos ou afagava mesmo os cumes dos montes e às vezes descia aos vales e rios.
Do lado Este, a mais ou menos 40 metros, a ribeira, o cortelho dos porcos, o caminho para Soajo, Assureira e Adrão, esta última a uma boa hora a pé, pela serra, entre matos e giestas. Foi neste caminho, junto ao poste com fio do telefone (pau do fio, como lhe chamávamos), que o meu pai, de cabeça perdida perante a recusa persistente do nosso burro “Cadete” em ir a Soajo trazer duas garrafas de gás, disse ao Tio Chico da Florinda, de Cunhas :
- Vá lá a casa e diga à minha mulher que lhe dê a pistola, que eu mato este cabrão!

O tio Chico, com a cara picada das bexigas e ar maroto, ensaiou umas passadas com as pernas arqueadas e as costas gingonas com saudades do jogador de boxe nas esquinas de Lisboa. Por lá tinha andado a ganhar o sustento, tendo agora, no último terço da sua vida, regressado ao seu eido, a Cunhas.
O Cadete, depois de ouvir este bafo desesperado, bateu as orelhas e começou a andar, disposto a ir onde fosse preciso!
Grande burro, o Cadete, ah!

Do lado Norte, havia o cortelho dos pitos, onde as galinhas chocavam os pintos, à sombra do caniço de varas de giestas entrelaçadas numa malha vegetal, para guardar as poucas espigas, que o quintal produzia. Depois o cortelho dos cães à esquerda, a seguir, o das ovelhas à direita, a corte das vacas, galinheiro e o forno ao fundo, e lá no alto, sobre a esquerda, o dos burros.
À direita, ficava o caminho para a Várzea e Paradela, sempre a subir até à Fonte Fiães, Lapa dos Defuntos[1] e mais à frente, a Portela do Galo. Era neste cortelho que a burrinha branca do meu avô Marujo vinha parar, quando o peso dos cinco netos era excessivo. Incapazes de a fazer parar, o primeiro fazia força com as mãos na padieira da porta e os detrás iam caindo, uns por cima dos outros, às fatias de risadas, enquanto ela se refugiava lá dentro, resguardada dos netos, pelo escuro das pedras.
A Oeste ficava o tanque, onde minha mãe lavava e estendia a roupa e nós nos refrescávamos no verão, bifurcando-se o caminho de terra e pedras, para a mina e contornando o quintal, à direita, para Soajo.
A água fresca era extraída duma mina, mesmo do interior da serra. Brotava dela mais clara e transparente que todas as águas do mundo.

Andou lá um homem a trabalhar dias sem fim e, no final dos dias, vinha apresentar contas a meu pai e requisitar mais carbureto para o dia seguinte. Despejava as sobras do carbureto no chão e eu cobri-as com terra e água, chegava-lhe fogo e a terra ardia. Tal como as teclas da máquina de escrever, também havia outros segredos a descobrir...

....

Na parte de trás da casa, virada a sul, existia outro pátio com três degraus de granito e a porta do escritório. Esta só se abria quando vinha o engenheiro, ou o mestre fazerem os pagamentos aos trabalhadores, ou em alturas cerimoniosas, como por exemplo a visita do padre, pela Páscoa!

A casa era térrea e de granito, com gateiras para a entrada de ar. Tinha quatro portas exteriores, pintadas de verde e seis janelas, também da mesma cor. Era caiada de branco e as telhas vermelhas formavam um conjunto que sobressaía, ao longe, do verde das árvores, do castanho das plantas rasteiras e do granito cinzento.
Era uma pincelada de nada, no meio do verde e do granito.
Em volta da casa, o meu pai mandou pôr os canteiros com lírios que todas as primaveras se abriam em cânticos de azul, amarelo e branco.
 Foi ele que escolheu aquele sítio e aquela organização: a casa, o quintal, a mina, o poço, a casa do forno e os cortelhos.

Um dia veio com dois homens e, quando chegou aos montes de Fonte Fiães, subiu ao alto do Muranho, um promontório rochoso, qual capitão sem mar! A vista estendia-se dentro dele até aos confins da serra Amarela e da serra D’Arga. Mas como fazer uma casa neste deserto de gente? De certeza que sorriu e parou a olhar. Nem muito longe das pessoas, nem muito longe da serra e... a água por perto.
À esquerda, o território já estava ocupado com bouças e tapadas. Outras colónias e outras benfeitorias na serra. À direita era muito íngreme. Lá no alto, mesmo pertinho do céu, as imagens foram passando na sua mente, na ponta do indicador a apontar: aquele morro protegeria a casa dos ventos norte e outras intempéries.
Ali ficaria a casa com um terreiro em volta. As crianças brincariam, os trabalhadores passariam por lá e a minha mãe correria da casa para o poço, deste para o quintal, mais em baixo, onde a terra parecia fértil, e do quintal para casa. O resto apareceria mais tarde. Tinha tempo até ao sétimo dia.
Logo apareceram os trabalhadores – não sei vindos donde - a revolver a terra, alinhar as pedras, a cavar os alicerces, erguer as paredes, rasgar as janelas e portas, sobrepor o telhado e tudo o mais que a uma casa diz respeito.
Todos os dias de manhã ele vinha de Paradela e à tarde voltava. Uma hora e meia para cada lado. A minha mãe perguntava:

- Falta muito, Zé ?
Não, a obra ia bem e assim se fez durante um ano e seis meses. Após esta data, a nossa família mudou-se duma casa igual, em Paradela, onde nasci, para esta. Assim, foi mais fácil deambularmos pela casa e arrumar a mobília. A mim, só me custou orientar no exterior, porque lá dentro, o frio e a solidão eram iguais...







[1] 1 A  Lapa dos Defuntos  é  uma  gruta  formada  por  dois  penedos  e  uma  lage,  que fica no caminho entre Ramil e a Várzea. Nós dizíamos que no tempo em  que os vivos traziam os mortos da Várzea para serem enterrados em Soajo,  as pessoas descansavam ali um pouco, antes de iniciar nova caminhada até  ao  rio  e  depois  até  ao  cemitério,  em  Soajo.  Sempre  que    passava,  com  tanto silêncio e impressionado pelas histórias que tinha ouvido, sentia a pele  a  eriçar-se  e  olhava  com  medo  para  dentro,  à  espera  que  algum  morto  viesse, sabia-se lá donde!

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Adrão, Soajo

Encontrei esta descrição sobre um costume da Adrão, Soajo, descrito por José Augusto Vieira em 1887.
 Pelos vistos já na altura estava em desuso. Alguém se lembrará deste costume? E doutros semelhantes? Era interessante recordar esses hábitos e crenças antigas, pois são a nossa memória e alicerces da nossa identidade.




sábado, 6 de janeiro de 2018

O que dizem os leitores de CARTAS DE AMIGO E MALVIVER



Lurdes Nunes Adorei o livro! Nele, revi a vida do meu irmão no seminário. Foi presente de Natal. Parabéns. Beijinho

Rosa Enes Já li o livro e gostei muito. Recomendo.

Emilia Mateus Para quem ainda não leu Aconselho .Imperdivel !!!!
O que diz Ermelinda J.R.Gonçalves

Excelente livro " Cartas de amigo e de malviver". À laia de diário de um adolescente relata a vida de um coletivo, nessa forma literária a que Manuel Rodas já nos vai habituando. Conheço esse tempo. E não ficou por aí. Situações semelhantes e por vezes até mais sofisticadas continuam a existir. Recomendo sua leitura a todos. Obrigada amigo Manuel Rodas e todos os que participaram para vir a público esta obra nesta forma magnífica.

O que diz Carlos Feio

O que achei do livro? - No meu caso acho um livro interessante e necessário pois mostra de uma maneira divertida graves problemas acontecidos no passado - provavelmente alguns são ainda problemas do presente a que devemos estar atentos - um testemunho que dá que pensar a quem não conheceu esta realidade - GOSTEI! - abraço Amigo Manuel Rodas

O que diz Ana Rodas:
As cartas, uma história de vida de um adolescente cujos contornos me cativaram da primeira à última página, não conseguindo deixar de ler, curiosa por saber mais.
Emocionei-me! Senti a tua angústia e revolta.
Obrigada, pela partilha. Adorei lê-lo!
Quando o próximo?

O que diz José Augusto Coelho:
Gosto e não gosto...Citações que marcam uma época conturbada que nos atingiu. Marcas que ficaram e que nos fazem por vezes retroceder a horizontes negros..Não gosto desta realidade passada..Mas gosto da tua eficácia e arte de bem citar a vida neste livro que faz parte de ti...Mas temos que viver o agora...Parabéns Manel. 


O que diz Zi Lucena:
"Cartas de Amigo e de Malviver", de Manuel Rodas
Amigo Rodas parabéns pelo seu livro. Como sabe em 1958 foi a minha vez de passar pelo Colégio de Freiras de Ponte de Lima. A minha experiência não foi igual à sua porque eu não era aluna interna. Mas o obscurantismo e a falta de respeito pelo ser humano eram já o ambiente que lá se vivia. Diz no seu livro que não tentou fugir porque sabia que o traziam de volta. Pois . . . eu fugi e claro, apanharam-me e paguei por isso. Se fosse hoje voltaria a fugir, talvez tivesse sorte e apanhasse boleia num carro de bois na estrada . . . Um abraço

O que diz Mónia Camacho:

... Há neste autor, no Manuel, uma simplicidade reconfortante e a sua mais valia será uma verdade que transparece do texto. O tom biográfico ajudará a manter visível essa verdade. Mas também ressalta uma certa coragem de expor vivências e sentimentos que estavam lá sossegados no passado.

Quanto a estas cartas dirigidas a este amigo, que tomei por imaginário, ... há a dizer que qualquer leitor será imediatamente tomado pelos sentimentos de saudade, solidão, medo, angústia e frustração deste narrador. Ficamos por dentro de toda a incompreensão que sente com o seu aprisionamento naquela realidade violenta, tão longe do que precisava naquela idade. O abandono à sua sorte pelos pais a quem está obrigado a cumprir expectativas.

Esta história retrata ainda uma realidade portuguesa que tem como valores, mesmo acima da felicidade, a instrução para alcançar uma boa posição na vida. Um estatuto que descansará os progenitores e os fará alcançar o sentimento de dever cumprido. E de caminho nos vai dando o tom do que se vivia num Portugal fechado por contra-ponto com uma França já com valores de liberdade visíveis na vida do dia a dia.

O estatuto da criança, à época, como um ser sem voz, completamente manietada na vontade, um ser que se tem de submeter ao mundo em que se encontra é outro dos pontos focados neste livro ... e que sentimos com muita acutilância.

Aflora também a contradição resultante do contraste entre valores que a igreja apregoa em comparação e a actuação dos padres no ensino das crianças.

A profundidade da mágoa do narrador é também dada por uma certa repetição dos sentimentos relatados, como se houvesse sempre um acumular de dor que é dessa forma expressa. Um recalcar ou repisar dos sentimentos de aprisionamento e de violência.

Uma outra coisa evidente é a forma como um lugar bonito pode tornar-se insuportável do ponto de vista psicológico. Talvez nos lugares feios estejamos mais à espera da fealdade nos sentimentos e acontecimentos. Não raras vezes o narrador elogia o jardim e a sua beleza, mas depois essa beleza não se prolonga para o espaço de vivência da personagem.
De notar também a visão do feminino que o autor tem pelos olhos daquela criança e depois adolescente. A forma como a professora é o elemento “Oasis” no meio do ambiente hostil. Como é a porta para o sonho e para a expressão aspirações de liberdade do narrador.
Na verdade, ainda hoje o Manuel tem o olhar sonhador que esta criança-narrador nos mostra.
Se calhar, muitas pessoas se vão identificar ou identificar as suas infâncias com este livro. Há aqui um retrato que é importante também do ponto de vista da análise sociológica. Um registo documental apesar da forma como nos aparece relatado, em forma de história.
O que diz Jorge Adelino Ribeiro Pires:
....antes de ler e apenas pelo titulo e a nota de contra capa, temia um relato desiludido e pessimista. Afinal identifico um registo autobiográfico de grande coragem com a carta final carregsda de esperança e otimismo consciente...a nota final é uma invenção do perdão sem pieguice... estou a gostar, e até a identificar.me com muitas situações e sentimentos.
Parabéns, de novo. Um abraço amigo

O que diz Alice Barreira:
"E posso garantir que o livro é tão bom que se começa a ler e não se pára! Parabéns!"

O que diz Carmo Alves:
" Eu ... senti um murro no estômago ao lê-lo..."

O que diz Ana Rodas:
" Ansiosa, por lê-lo."

O que diz Clara Correia:
" Parabéns! :) ... que some & siga!"

O que diz Vera Tormenta Santana :
Cartas de um rapaz "teenager" a um amigo escritas de dentro de um ambiente concentracionário, um colégio interno religioso nortenho para rapazes, para fora, entre 1967 e 1971. Tomar a palavra censurada, quebrar o silêncio imposto terá sido um dos objectivos do autor, Manuel Rodas, meia década mais tarde. ....
Se é importante não apagar a memória, é fundamental construí-la e esta, a dos jovens que queriam e podiam - um dia, findo o Colégio - frequentar um Liceu numa capital de província, não é uma memória partilhada e, muito menos, colectiva. As "Cartas de amigo e de malviver" são uma primeira janela para o mundo silenciado e infernal dos Colégios internos fomentados pelo Nacional-Catolicismo. Obrigada, Manuel Rodas, pelo livro. Parabéns por ousares dizer o ainda não-dizível...
Li o livro de uma vez e visualizei cenas para um filme. As Cartas são muito físicas - um colégio de rapazes - e tudo acontece num huis-clos até um determinado momento, o da liberdade...

Por onde andam os leitores deste Blog, PALAVRAS A SOLTA?


PORTUGAL E OS ESTADOS UNIDOS continuam bem na frente...

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quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Povo



Quando a fome
de justiça e de vida melhor...


Odete olhou a prateleira pela terceira vez, 
torceu as mãos e suspirou firme, 
vazia!


entram pela porta e pelos olhos dentro
até ao coração
sem ponto de retorno, 
onde já há um não
a raiva cresce 
e a virtude sai pelo portão
 até  pela janela 


                       Quando Odete chegou à janela, já eram duas.                                              Olharam para dentro  e
 não encontraram nada
 que as retivesse,


S. Pedro murmurou mais tarde: Tivessem lutado!


MRodas


quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Fogo



Apertei na minha mão o fogo e nada senti
Deitei-me no gelo nú sem um arrepio
Fustiguei o corpo e não vi dor
Apenas 
a tua memória me sobressaltou

Bastou o teu olhar
para de novo voltar 
a estas sensações quotidianas e puras
de medo raiva e ternura
para voltar a gritar
que os rios simplesmente correm 
e o dia adormece nos braços da noite
e sem ti morro

quer te chames 
mãe  natal
filha flor 
pai flor de sal 
caminho dia
ou até menino jesus
ou apenas poesia


MRodas

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Sentido


Sem achar doença, nem teriaga
o que fazem do livro os panfletos
que triunfos, que décimas, que dízimas?
água obscura, mesmo água vaga

pode um promissor de penitente
já profícuo e proficiente
manifestar sempre por manifestas
e há dez mil borralhentos atrás

com garbos de prata e elegância
com vermelhões de prata e substância
contra os varões natos e congénitos...


É de carrasqueiro e de carrasco
canta reprimido e exaltado
amor revesso, amor revirado.


MRodas

Faz-te sentido?


amor abelhudo, amor astuto
neste cemitério, todo lugar
visitar, aldrabar, aferrolhar
sucções e sugações de embalar

fragilizar... enfraquecer um dia
com predições de santo e profecia
de que religiosas, de que monges
água delgada, mesmo água fina

meu montanhista e meu alpinista
com pessoas dentro e ornamentista
nesta gravateira do fabricante


a chilrear como o chilreante
nascer nunca resulta em nascenças
de vocabulários ou calepinos.


MRodas

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Instructions to open a rose



Take a rose
confirm that it is not blackhead or marigold
and does not smell like cloves or cinnamon
but beware, do not be fooled and replace it with a cactus
piece of clothing, socks or bra

With a burning candle 
place it in water to float
on a blue towel
(It is essential to be a pink towel)
Listen to music, lots of music.

When the temperature is sounded like richest
and the chocolate to melt in the mouths
eat the first petal
then the second
and third ...

If the rose is not open
repeat everything from the beginning to the end
and again from the end to the beggining
slowly as the passage of time
to feel great in small spaces

If the rose opens know what to do
but if it remains closed 
is no reason to go around 
shouting and cutting more roses.
Do not give up ... but rethink your life,

the rose is never wrong!

MRodas