segunda-feira, 22 de junho de 2020

Calamity Jane

22-6-20


Hoje vi a Calamity Jane
estava sentada no mesmo bar que eu
os mesmos cabelos louros, os mesmos olhos fulminantes
o mesmo sorriso condescendente
mas mais desgastada e curva
sob o peso dos holofotes e das palmas. 

Lembro me bem quando corria o palco dum lado ao outro de chicote na mão a proclamar-se contra o oportunismo e a injustiça.
As botas brilhavam da lama e o ar rendia-se aos gritos de Basta!

Saudades Calamity Jane
estamos velhos e gastos das palmas e agruras do palco do mundo
mas
brilhas em meu coração como a flor de nenúfar entre as águas paradas de melgas e sapos! 

Grita Calamity Jane
grita por todos a quem roubaram o ar e apenas lhes restam as sombras
Grita por todos que ousaram gritar
Grita pelos naufragos do silêncio
caídos de borco nas vielas do fado
Grita Calamity Jane grita
grita sempre.


MRodas

sábado, 13 de junho de 2020

Pintar


Pintura, 2020,  Inês Rodas



Enquanto a minha filha fazia os seus trabalhos de pintura, sentei-me a seu lado e tentei acelerar a conversa. Peguei num papel e num pincel e fomos conversando. O que posso pintar eu, que nunca pintei nada?
- Ouve a música! -diz ela a meu lado.
Sorri, para mim próprio. Quantas vezes não disse isso aos meus pequenos alunos com medo das tintas  e do pincel.
- O que te diz a música?
- O que eu quiser ouvir, ou melhor, o que eu quiser pintar!
Silêncio. O que quero pintar? Ouço a música. Pink Floyd!
Enquanto a inspiração não vinha, comecei por uma clave de sol. Ela olhou de soslaio e sorriu. Percebi a sua condescendência. A parte óbvia da música, a sua representação gráfica da pauta, o símbolo anterior à música que ouvia.
Com pastel imaginei que a clave Sol emitia música e esta se refletia em ondas coloridas na minha mente, que as devolvia em círculos e reflexos coloridos, de volta, formando uma imagem do movimento que experimentava.
A música vinha de longe, sei lá, do final da minha adolescência, e apresentava-se agora, nas mãos da minha filha.
- As cores mais escuras primeiro - conduzia ela a preocupação comigo e com a minha obra.
Quando pensei terminada a tarefa, senti que algo despertava em mim, precisava acrescentar algo, fora daquelas tintas e cores.
- Sinto que preciso acrescentar algo....
- O quê?
-Não sei....
Fui buscar o ferro de engomar e com um papel grosso, torturei as cores no fogo.
-És mesmo experimentalista!
Sorri.
E lembrei-me do amigo João Claro, quando, nos anos 90, me dizia, tens mesmo jeito para a investigação!
Quando consciencializei esta minha “originalidade” descobri também o valor do Se! Quer dizer, eu sempre soube o valor do “Se. Não sabia é que o Se valia tanto!
A primeira e última vez que recorri ao Se foi para fazer a pergunta mais eloquente da minha vida, E SE O MUNDO FOSSE DIFERENTE, PARA MELHOR?
A essa pergunta inicial que resume todas as outras, sucederam-se milhares de perguntas, como é natural em qualquer pessoa.

Achei que o trabalho estava terminado, mas não a minha vontade de encontrar um mundo diferente.
Peguei noutra folha e tentei descobrir formas transitórias, entre este mundo e o outro, o diferente e desejável.
Entretanto, a Inês, enquanto pintava com cores arroxeadas o seu quadro/instrumento musical, introduzia a temática para subverter o mundo: os males do mundo seriam, o excessivo consumo de bens e carne, o machismo, o sexismo, a ostentação do dinheiro e do poder, a insensibilidade e falta de políticas para minorar o sofrimento dos marginalizados. Para alterar a situação era necessário uma consciencialização geral, traduzida numa ação prática e concertada com as diferentes nações e povos, assegurando o direito à diferença, o respeito pela natureza, pelos animais, acesso às artes e à cultura. Era todo um programa de ação política, que eu não me importaria de assinar por baixo.
Voltei a minha página ao contrário e os elementos ganhavam novas significações. Se um mictório  (Duchamp) (1) pode ser uma obra de arte, também o meu quadro poderiam ser duas obras, uma a direito e outra ao contrário. Sorri, a pensar que Se o pintasse nas costas, passariam a ser 3?
Se ela me tivesse ouvido, diria de seguida, excesso de zelo, ou preocupações de produção para alimentar o sistema? Felizmente não ouviu e a coisa ficou só para mim.
Fiz um intervalo, levantei- me e vim olhar a rua. Deserta!
Voltei a sentar- me, peguei em nova folha, mas desta vez, recusaria as tintas e os pincéis. Experimentaria outros materiais. Um mundo novo precisa de novas ideias,  novos materiais mais consentâneos com o equilíbrio natural.

Com os condimentos da culinária salpiquei a folha de odores frescos e longínquos. Se era preciso mobilizar os povos, a pimenta, o colorau e o caril seriam bons representantes dessas paragens. Com cola de madeira diluída em água, com os dedos fui espalhando sobre as cores e recriando novos reflexos dum tempo que se anuncia, mas ainda não chegou, vai chegando!
Ela, enquanto dava vida ao seu quadro, continuava na sua argumentação, criando um modelo de sociedade utópica, que no dizer de Agostinho da Silva (2), não quer dizer impossível, mas sim, que ainda não foi possível!
- Esse cheira bem! O que levou?
- Levou séculos até chegar a Portugal. Quantos homens morreram e quantas mulheres ficaram por casar, para que a pimenta e o caril pudessem entrar no nosso imaginário, na fruição e agora estar aqui nesta obra.
- Pessoa e Floyd?
- Quantos ainda precisarão de morrer para que o mundo mude.
- E Se ninguém morresse?
- e Se todos, em todo o mundo votassem em branco?
- Saramago?

Rimo-nos os três, porque a mãe, que entretanto chegara, ainda tinha assistido a este final glorioso!


https://pt.wikipedia.org/wiki/Marcel_Duchamp
https://pt.wikipedia.org/wiki/Agostinho_da_Silva

MRodas






MRodas, 2020



MRodas 2020


MRodas 2020



segunda-feira, 8 de junho de 2020

Ver gente

Fui ver gente
gente com máscaras, sem máscaras
gente que ri, trabalha, fica em casa
como eu...

Mas tinha de sair e ir ver gente
ver como andam, abraçam
como se sentam e correm
como beijam e sorriem

Olha aquele a tirar a máscara para comer o gelado
E o outro a desviar-se para beber a cerveja no quiosque
Aquela a olhar para trás
E o doutor com ar de cansado
A criança que não quer ir à escola
A educadora a dizer que a criança não sabe o que é o metro, nem metro e meio

A televisão mostra o primeiro ministro a correr o país
Sempre a dizer, é preciso trabalhar, é preciso trabalhar
E o líder sindical a exigir mais testes
E o patrão impaciente a repetir é preciso trabalhar...
E o desempregado a gritar quero trabalhar

O barbeiro de porta aberta
O sapateiro está fechado
Os seguros entreabertos
Outros escrevem, um de cada vez...

Toda esta gente que ainda há pouco
maldizia a chatice da vida
Ei-los agora
cheios de medo a gritar
Quero viver, quero viver
Abraço-vos e grito
Também quero viver, porra!

MRodas

Nesta semana

Bansky



As mais lidas esta semana!
Os EUA em 1. lugar! Vale a pena!


sábado, 16 de maio de 2020

O poeta


O poeta

Cheguei da caçada exausto da dificuldade de
ver e sentir. Deitei-me na caverna a sonhar com
antílopes, cavalos e bisontes

Foi com o sangue deles e com
o meu que pintei as paredes

A natureza trouxe a fome e a fartura, a vida e a morte
Fiz dos passos em terra molhada
a cadência do teu pulsar
e com o dedo molhado de sangue menstrual
desenhei os sulcos do teu rosto
nas paredes frias da caverna que eu sou

O poeta nasceu aí
algures entre as noites estreladas e os gritos de guerra e caça
sombras do tempo desenhadas na pele de todas as mulheres
a memória da nossa tribo
no leite de filhos amamentados
e nos beijos de homens sôfregos de carne e flores

O poeta começou por desenhar todas as promessas realizadas
e na falta de pedra e abundância de sangue
desenhou palavras e...sorriu com sede de maçãs

Tinha inventado aos olhos da tribo
o maior paraíso do mundo, desde as cavernas até o pós atómico
desde as cavernas da alma, ao fogo das estrelas

O poeta esmagou as pedras na mão
e com sangue e pó reinventou o poema!


MRodas

terça-feira, 12 de maio de 2020

Passear a lagosta



https://vivreparis.fr/le-jour-ou-un-celebre-poete-a-promene-son-homard-de-compagnie-dans-les-rues-de-paris/
Para o Jorge 

Queria ir passear a lagosta
Daqui até Cabo Verde
À Boavista e a Rabil.

Inventar a trela que nos solta
Depois de um abraço de despedida
Ó lindas praias do Tarrafal
S. Tiago, Cidade Velha!

Passear a lagosta na Praia
Enquanto olho os teus olhos vermelhos
Tu que sabes os segredos do mar
Os recantos secretos das ondas e dos corais...

Pego em ti ao colo
Como no telefone sem fios
Bastam me as tuas antenas
Para te saber longe sem mim

Vamos expulsar o virús covid
Soprando com força 
Ou matá-lo com a indiferença?

Prefiro o presunto de Soajo
Mesmo sem palhinha....

MRodas

sábado, 9 de maio de 2020

O medo

Escrever sobre o medo é acrescentar sentido à esperança!

O Poema Pouco Original do Medo

O medo vai ter tudo 
pernas 
ambulâncias 
e o luxo blindado 
de alguns automóveis 

Vai ter olhos onde ninguém os veja 
mãozinhas cautelosas 
enredos quase inocentes 
ouvidos não só nas paredes 
mas também no chão 
no tecto 
no murmúrio dos esgotos 
e talvez até (cautela!) 
ouvidos nos teus ouvidos 

O medo vai ter tudo 
fantasmas na ópera 
sessões contínuas de espiritismo 
milagres 
cortejos 
frases corajosas 
meninas exemplares 
seguras casas de penhor 
maliciosas casas de passe 
conferências várias 
congressos muitos 
óptimos empregos 
poemas originais 
e poemas como este 
projectos altamente porcos 
heróis 
(o medo vai ter heróis!) 
costureiras reais e irreais 
operários 
       (assim assim) 
escriturários 
       (muitos) 
intelectuais 
       (o que se sabe) 
a tua voz talvez 
talvez a minha 
com certeza a deles 

Vai ter capitais 
países 
suspeitas como toda a gente 
muitíssimos amigos 
beijos 
namorados esverdeados 
amantes silenciosos 
ardentes 
e angustiados 

Ah o medo vai ter tudo 
tudo 

(Penso no que o medo vai ter 
e tenho medo 
que é justamente 
o que o medo quer) 



O medo vai ter tudo 
quase tudo 
e cada um por seu caminho 
havemos todos de chegar 
quase todos 
a ratos 

Sim 
a ratos 

Alexandre O'Neill, in 'Abandono Viciado' 

terça-feira, 5 de maio de 2020

A Língua Portuguesa


Hoje, cinco de maio o mundo reconhece o  português  como língua  global”.
Celebra-se o primeiro  Dia Mundial da  Língua Portuguesa, proclamado pela Unesco em novembro  do ano passado
A Língua Portuguesa como língua de Educação e Ensino, Cultura e Conhecimento! EECC!

Hoje apetece homenagear o Professor Rómulo de Carvalho!

Impressão Digital


Os meus olhos são uns olhos,
E é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.

Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns vêem lutos e dores
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.
Nas ruas ou nas estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros, gnomos e fadas
num halo resplandecente.

Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes.

Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.

António Gedeão


A cultura


Os governos do mundo anunciam cortes na cultura em nome da economia. 
O paradoxo é que as pessoas sobrevivem ao confinamento graças à cultura.
 Há muitos séculos, o esforço do trabalho supera-se cantando.

Obrigado a todos os que dedicaram parte das suas vidas à criação, ao sonho dum mundo melhor!

sábado, 2 de maio de 2020

Os penteados e o covid

Agora que os barbeiros e os cabeleireiros estão fechados, lembro-me do grande Nicolau Tolentino, quando nos meus 17 anos ouvi pela primeira vez este poema, que nunca mais esqueci.

Sátira aos Penteados Altos

Chaves na mão, melena desgrenhada, 
Batendo o pé na casa, a mãe ordena 
Que o furtado colchão, fofo e de pena, 
A filha o ponha ali ou a criada. 

A filha, moça esbelta e aperaltada, 
Lhe diz coa doce voz que o ar serena: 
- «Sumiu-se-lhe um colchão? É forte pena; 
Olhe não fique a casa arruinada...» 

- «Tu respondes assim? Tu zombas disto? 
Tu cuidas que, por ter pai embarcado, 
Já a mãe não tem mãos?» E, dizendo isto, 

Arremete-lhe à cara e ao penteado. 
Eis senão quando (caso nunca visto!) 
Sai-lhe o colchão de dentro do toucado!... 

Nicolau Tolentino, in 'Antologia Poética' 

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Outra vez a Telescola?


Não, não é a mesma coisa
o tempo é diferente
e as pessoas são outras

Naquele tempo a Telescola era uma promoção
do conhecimento e da escolaridade
a vitória do  espírito sobre a exclusão e a iliteracia

Hoje
é a compensação possível
para quem está em casa
amedrontado pelo vírus

O vírus veio lembrar que a tv
pode ser um meio de promoção 
da literacia dos pais e da família

Porque não houve escola na tv
nos anos anteriores?
Não interessa que os escravos sejam escribas
Para o poder
o que importa é manter-nos 
com telenovelas e programas da treta!

Não, não é a mesma coisa
o tempo é diferente

e as pessoas são outras
mas a natureza do poder é a mesma

E nós prontos a digerir tudo!

Manuel Rodas
20 de 4 de 2020



sábado, 18 de abril de 2020

Bem dito, vírus!

Aproxima
Afasta
Limpa
Protege
Oculta
Tira
Despe
Esfrega
Mete
Lava
Seca
Salva
De costas
De frente
Tira
Introduz
Puxa
Cuidado
Por baixo
Por cima
Devagar
Escuda
Por dentro
Por fora
Enfia
Tira
Saca
Atenção
Nas extremidades
Mantém 
Lava
Protege
Preserva
Escuda
Mete
Tira
Arranca
Cuidado
Nas bordas
Pela frente
Por trás
Abre
Fecha
Lava
Mete 
Arranca
Fecha a boca
Com o dedo não
Cuida
Agasalha
Sustenta
Nas margens
Retira
Mete
Esfrega
Lava
As extremidades
Descalça
Sustenta
Estimula
Em cima
Em baixo
Abre
Fecha
Lava
Esfrega
....bem dito, vírus!

Manuel Rodas




quinta-feira, 16 de abril de 2020

A carne é fraca!


Olá. 
Já és a segunda pessoa próxima que opta por ser vegetariana. 
A 1ª foi a minha filha. 
Nós não lhe criamos muitos problemas, pretendemos ouvir os pontos de vista dela, que até nos pareceram muito bem elaborados e razoáveis, mas o que mais me impressionou foi quando ela me disse, à hora de jantar: Sentes-te bem, a comer cadáveres?
Aquilo bateu-me fundo porque de repente comecei a ver um vitelo a correr numa grande pradaria, com a mãe acorrer atrás dela, olhando de esguelha para mim, que a perseguia, de faca na mão... Sorri.
Não desisti da carne, nem do peixe, mas integrei na minha dieta muitos mais vegetais, algum peixe e muita pouca carne. Mas confesso, ando com saudades duma boa posta da Miranda, ou de Mirandela!
Lembro-me do que o Agostinho da Silva dizia: Dizem os meus amigos que devo colocar uma prótese para mastigar melhor... Engano. Devo mudar a minha alimentação, adequá-la às transformações do meu corpo.
Concordo com ele e várias vezes o corpo me pede coisas. Sim, várias coisas. Uma delas é música. Outra é caminhar. Outras vezes fruta. Às vezes carne!
Abraço

Manuel Rodas

Porque será?



sábado, 11 de abril de 2020

Eu, em cinco quadras



Nasci num lugar precário
Numa casa florestal
Paradela, um lugar solitário
Soajo, vila fraternal

Sou neto de Manuel, o Marujo
e de Ana de Sousa, pais do meu pai
Também sou neto de Firmino Barbosa
e de Maria Preto, pais da minha mãe.

Sou filho de José Rodas 
E de Maria Preto Barbosa
Irmão de Firmino, Rosa e José
Meus irmãos, ah, pois é!

Sou pai de Inês Rodas
filha de Carmo Alves
Com quem celebrei bodas
Muitos anos antes.

Talvez venha a ser avô
e avó a minha mulher.
Acompanhado ou só
Morrerei num dia qualquer!

Manuel Rodas

A esfinge






Diálogos com a esfinge




Tu não és humana
 e a ti nenhum vírus te pode fazer mal
Que segredos escondes e que sabes tu de nós
nesta ilha onde atracamos
e que Ulisses ignorava
mesmo sabendo que Penélope o esperava?

Mas quem nos espera a nós
um vírus
saliva dum deus imaturo
ou lágrima duma deusa possuída por um humano?

Nada sabes sobre o amor
muito menos sobre a maternidade
a inquietação de estar vivo e não querer morrer ainda

Tu foste  inventada por uma mulher 
que esperou pelo seu companheiro
e não quis reproduzir em ti as dores sentidas
apenas as carícias
que a memória conservou do amante

A mulher mesmo de noite 
quando pousava a mão em ti
era nele que sentia a volúpia dos seus gestos

Agora inventaste um silêncio
como o vírus
todos falam dele
mas és tu que morres
com o arco do desejo nas mãos.



Manuel Rodas



segunda-feira, 6 de abril de 2020

A Bíblia





A Bíblia foi o primeiro livro impresso com os caracteres Gutenberg, 500 anos antes de eu nascer!

sábado, 21 de março de 2020

Maratona de poesia, Oeiras 2020

Para celebrar a Primavera e participar na Maratona de Poesia de Oeiras 2020, aqui partilhamos 3 videos, contendo, o primeiro, Maratona de Oeiras, 2020, fotos do Núcleo de Fotografia de Oeiras, com página no Facebook e alguns poemas meus. 
O segundo video, viagem é um poema meu, A viagem.
O terceiro video é uma performance feita com vento e imaginação.

Viva a Primavera! Viva a Poesia, Vivam os amigos!


1. Maratona de Poesia de Oeiras, 2020
https://youtu.be/mGkshS5t4u0

2. Viagem
https://www.youtube.com/watch?v=gdHUJkwG_do

3. Amo-te
https://youtu.be/nkMSSxItTy8

sexta-feira, 20 de março de 2020

Começou a primavera! Viva!

Viva! Viva! Começou a primavera
A mais bela das estações
não a mais quente
nem a mais fria

É aquela que sente
o frio e o calor
que vai nos corações
de noite ou de dia

Depois de ti
não haverá beleza
nem pão nem vinho
para por na mesa

Vens de braço dado
com o medo e a tristeza
andas por todo o lado
com a mesma ligeireza
apontado o dedo a qualquer um
Estás infetado?

MRodas



















sábado, 14 de março de 2020

O homem que queria estar só





Era uma vez um homem que queria estar só

Um dia avisou familiares e amigos
libertou o periquito
disse até logo ao carteiro
acenou com a mão ao padeiro

Mochila às costas pedalou na sua bicicleta cinzenta
e foi para a montanha
que havia dentro de si

Quando lá chegou
achou a gruta mais pequena
que da última vez
e como não havia mais ninguém
sorriu para si

Depois de arrumar
a parte mais desarrumada
surpreendeu-se
porque ainda não estava tudo no lugar

Os dias passaram a arrumar a pequena gruta
e como não havia mais ninguém
sorria para dentro da gruta

Contava histórias a si próprio
e começou a numerá-las
porque se cansava a falar alto

Assim bastava dizer, a número 90
e a história passava toda à sua frente
como no cinema ou na televisão

Começou a reparar que havia histórias
 mais vivazes que outras
mais egoístas
sempre a quererem ser lidas
mesmo atropelando as outras irmãs

Uma dizia assim

SÓ, CAMINHO SÓ

Encontraram-se num caminho
que não se cruzava com outros.
Era um caminho só,
mas servia a ambos
para um destino comum
que logo adivinharam
ao encontrarem-se nos olhos;
as bocas pouco disseram,
as mãos sim:
colaram-se, quase se fundiram
(fc)

Ele gostava desta história e a história gostava dele
ficou a ser a 91

havia outra que também porfiava, a 92

ISTO É VIVER?

Se tenho de viver sem amor
encurtem-me a vida.
Isto não é viver,
mas estar já morto por dentro.
Resta pois o corpo.
Que se vá para onde merece:
faça-se  em pó
e povoe uma montanha
ou dilua-se num mar (fc)


E ainda mais outra história, a 93

CÉU AZUL

Era um céu azul claro e calmo; sem manchas nebulosas, cobrindo um vasto terreno guarnecido de ervas bravias, alinhadas pela Natureza, de um verde quase transparente e polvilhado de pequenas flores brancas e outras amarelas,
também de brilho mate, harmoniosamente agrupadas.
Procurei na realidade algo de semelhante. Encontrei-o:
nos teus olhos um brilhante e suave azul; e, em mim, um verde – esperança de te ver e poder entregar-te um ramo de flores brancas e outras amarelas, amarrado pelas minhas mãos. (fc)
...

Um dia quando voltou do passeio matinal pela floresta
surpreendeu-se
ao ver o saco de pão preso num ramo de árvore
o correio dentro dum saco de compras
um ramo de lindas flores
e o periquito que de tanta alegria
deixou curiosos outros pássaros

Ah! Surpreendeu-se ele.
Tenho de voltar e avisá-los
devem ter ficado muito inquietos com a minha ausência

Quando voltou
era o único que resplandecia
as cores verdes da floresta
os outros estavam contaminados
de ares sérios e preocupados

Foi um a um avisá-los que a cura estava na floresta
e assim salvou os amigos
apenas por querer estar só

Quando tudo terminou
a bicicleta estava azul
e ele foi rápido a inventar uma nova história
a 94...

Era assim, o homem que queria estar só

13 março, sexta feira, MRodas








terça-feira, 10 de março de 2020

Era apenas uma árvore



Era apenas uma árvore
que desde pequenina
se queria dedicar à escultura

Andou na escola
mas não tinha jeito para trabalhos manuais
e em casa nunca gostava de arrumar, limpar, escovar e remexer

Olhava com inveja
os trabalhos dos outros
santos, estátuas, de altar, de confessionário, de montra e de cerimónia ou museu

Simpatizava com o artesão das cadeiras
e dos bancos de madeira
olhava com tristeza os camiões carregados de troncos

Um dia
resolveu que iria fazer a mais bela estátua
começou lentamente sem dizer nada a ninguém
e todos os dias acrescentava
ou desbastava
mudava  e refazia

Sempre distraída
diziam os pais e amigos
na lua, sorriam os professores
ainda estás aí, perguntava o melhor amigo

Ninguém sabia que ela estava entretida a acrescentar umas farpas 
aqui, outras ao lado, cores mais em cima
experimentava novas formas e sorria
queria subir ao céu
onde achava ser o seu mundo

Reparou que uns velhotes começaram a sentar-se à sua sombra
e as crianças procuravam o seu abrigo para as brincadeiras de esconde esconde
então
foi nessa tarde luminosa
que decidiu que seria um altar
onde podia rezar
 mesmo no lugar onde os homens têm o coração
e só uma menina reparou:
Pai está ali um santo!

MRodas, 10-3-2020

https://youtu.be/mGkshS5t4u0


quinta-feira, 5 de março de 2020

Os leitores desta semana

Obrigado, amigos.
Onde quer que esteja, sejam felizes!

Visualizações de páginas por país 

337
EntradaVisualizações de páginas
Portugal
37
França
34
Ucrânia
25
Estados Unidos
25
Vietnã
4
Região desconhecida
3
Emirados Árabes Unidos
3
Reino Unido
3
Irlanda
3
Rússia
3