Excerto do futuro livro de José de Sousa Rodas, integrado nas comemorações do seu centenário 1918-2018
Foram incluídas nesta edição os textos publicados nas crónicas,
referentes à educação moral e sexual dos filhos, pela clareza e frontalidade
como foram tratados estes temas, que ainda hoje, passado mais de meio século,
são motivo de polémica e de fractura na sociedade e na moral conservadora vigente.
É hoje muito frequente, verem-se
os filhos proferir palavras indecentes, com o inteiro consentimento, ou pelo
menos com a maior indiferença por parte dos pais. Isto não está certo. É um
abuso, é uma ofensa não só à moral pública como ainda um mau costume, que urge
ser reprimido. É mais que certo que todas as crianças devem saber os nomes dos
órgãos sexuais e o modo de deles cuidar, as- sim como sabem os nomes de
quaisquer outras partes do corpo, contan- to que o ensinamento seja feito pela
pessoa devida e no adequado tempo e lugar. Essa informação precisa deve ser
dada à criança em tenra idade pelos pais, tutores, professores ou médicos. Se
isso se negligencia, por ignorância ou falso pudor, ideias erróneas da natureza
e fim da função sexual serão certamente fornecidas num período mais tardio por
pessoas ignorantes e, possivelmente, mal-intencionadas, com os correspondentes
maus resultados. A nenhuma outra responsabilidade da longa lista de deveres
paternais se esquivam os pais com tanta frequência. Por isso, o resultado está
à vista [1]
--
A fim de auxiliar a esclarecer os assuntos sexuais à criança, os pais
podem desejar dar-lhes livros explicativos. É importante que esses livros sejam
convenientes para a criança e se ajustem às suas necessidades em relação com as
suas próprias experiências quotidianas. Os pais devem fazer todos os esforços
para descobrir o que se passa no espírito da criança e não deve haver evasiva a
quaisquer perguntas. O sexo é um factor central da vida e há urgente
necessidade de declarar compreensão deste assunto, que tanto afecta todos os
membros da sociedade. Ser-se afectadamente pudico é disparatado e piegas. É
necessário desprezar aquilo que se chama «pudor fictício», quando estão em jogo
a imediata paz de espírito e felicidade futura da criança. Os pais
concedem-lhes tantas liberdades e abusos noutros aspectos, como consentirem que
andem escandalosamente vestidos, que profiram «palavrões», etc., e não os
instruem no que tanta falta lhes faz no futuro.[2]
--
A informação específica que os pais dão a seus filhos sobre o que diz
respeito ao sexo não é tão importante como a atitude que eles próprios criam em
relação ao sexo desde os primeiros dias da criança. Não é o que dizem, mas como
o dizem, que é significativo. O assunto do sexo deve ser extirpado do mistério
mórbido e enganador de que a tradição tolamente rodeou. De contrário, a
primeira lição que a criança aprenderá sobre o sexo é de que está associado à
ideia de vergonha. Deve ser considerado com o mesmo espírito com que se estuda
a higiene dos aparelhos digestivos ou circulatório. Então, será possível
ensinar sobre a função sexual de modo natural, sem excitar indevida e doentia
curiosidade. Preparai os vossos filhos para enfrentarem o futuro, sem rodeios
nem peias, tal qual ele se apresenta, embora sempre dentro da verdadeira e
competente moral. Procurai reprimir-lhes o uso e abuso de palavrões indecentes
e o exporem-se com vestuários indecorosos e impróprios de sua idade. [3]
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O pedagogo Dr. George E. Gardner dá aos pais, como instrutores de
sexualidade, alguns conselhos valiosos. Escreve ele: «Empreguem sempre as
palavras correctas e científicas para designar as áreas anatómicas que se
discutem com a criança. Sejam tão naturais e práticos quanto possível ao dar
informações sobre o sexo. O que se diz à criança sobre o sexo deve ser a
verdade e só a verdade. Embora se deva dizer a verdade e apenas a verdade às
crianças em resposta às suas perguntas, não é necessário dizer-lhes toda a
verdade sobre problemas sexuais, ao mesmo tempo em qualquer altura. Não se deve
supor que a criança vai passar pela escola... sem encontrar respostas às suas
perguntas em conversa com os companheiros e amigos. Não usem a vida sexual dos
animais e plantas como meio de fornecer à criança informações no que diz
respeito à fisiologia e anatomia humanas. As respostas evasivas, na intenção de
adiar a explicação temida pelos pais, não fazem bem, podem ter por consequência
um mal inesperado. Conquistando a confiança da criança, não só poderão andar
informados das suas acções, mas também preservá-la de procurar ou até mesmo
escutar maus conselhos. É perfeitamente natural que a criança deseje saber
alguma coisa da vida, e de como os seres humanos vêm ao mundo». [4]
--
Muito se tem dito do mal causado pela masturbação ou abuso da função
sexual. Esse mal tem sido propositadamente exagerado por charlatães que, com
suas próprias razões egoístas, actuam sobre os terrores das suas vítimas. A
mas- turbação ou abuso dos órgãos sexuais na criança é geralmente devida ao
quase criminoso descuido ou ignorância dos pais. Em vez de inspirarem
preocupações na criança, como muitos pais fazem, devem tentar auxiliá-la a
vencer o hábito, por meio de ensinamentos carinhosos e judiciosa supervisão.
Deste modo, não resultará perigo sério para a criança. O ensino oposto é o do
curandeiro, que profetiza toda a espécie de males imaginários, incluindo perda
completa da função sexual e demência. Toda a perturbação real ou imaginária da
função sexual em si está extremamente sujeita a conduzir a depressão e
inquietação mentais. É essencial, portanto, uma perspectiva animadora ao
inspirar um esforço para corrigir maus hábitos. Tal perspectiva é, na verdade,
absolutamente garantida em relação ao completo restabelecimento, na maioria dos
casos, do jovem que abusou dos seus órgãos sexuais. É triste, todavia, que a
prática da masturbação seja geralmente nos jovens, pelo menos nos rapazes,
resultante do insucesso dos pais em exercer a devida fiscalização sobre a
educação sexual dos seus filhos. [5]
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