segunda-feira, 23 de março de 2015

O telefone

(...do livro MANUAL DE RAMIL,  a publicar brevemente)

- Telefona, Zé! - dizia minha mãe a aspirar o progresso!

Ele dava à manivela, enfiava o dedo indicador nos buracos brancos, com números, como olhos, marcava os números redondos e o telefone acordava manso e cordato.
Com o auscultador na orelha, o meu pai passava as preocupações para alguém longínquo e invisível.

O sussurro vinha numa voz diretamente do além. Enquanto isso, ele mantinha um ar sério e grave, como se a salvação do mundo estivesse dependente daquelas palavras e dos gestos e momices que a mulher lhe fazia da ombreira da porta, a recordar-lhe a urgência dos factos e pareceres.

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